Capítulo 3

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—Por que não conta histórias há um tempo?

—Ah, estou tão ocupada. Quando termino de fazer minhas tarefas, meu irmãozinho já foi dormir ou perdeu o interesse em ouvir uma história.

—Muito ocupada, blá blá blá. Você está falando que nem aqueles adultos chatos.

—Ei! Não estou, não!

—Está, sim!

—Ah, você nem conversa com adultos.

—Estou conversando com uma agora, daquelas mais chatonildas.

Antes que Carolina pudesse responder, ela ficou paralisada com o que estava vendo. O céu noturno deu lugar a um azul tão vibrante e as nuvens pareciam pedaços de algodão doce. A ilha lá embaixo e o mar que a cercava formavam a paisagem mais linda que a menina já tinha visto em toda sua vida.

—Uau.

—Lar, doce lar.

—Deve ser incrível morar aqui.

—Era mais divertido quando tinham as ameaças de morte e todos aqueles piratas malvados.

Eles começaram a voar em direção ao chão e pararam no meio da floresta. Peter Pan começou a andar entre as árvores, com o olhar de quem sabia exatamente para onde estava indo.

Rapidamente, eles chegaram ao local onde ficavam os túneis nas árvores, que levavam para a casa subterrânea de Peter Pan.

—Será que eu passo em algum desses? Acho que sou um pouquinho maior do que os meninos perdidos eram.

—Tive que aumentar um dos túneis para o Gancho. Cabe você e ainda sobra espaço.

—Então você e o Gancho são amigos agora?

—Os Meninos Perdidos foram embora, a tripulação do Gancho também, o que restou pra nós dois? Ouvir aquela voz irritante contando piadas repetidas é melhor do que não ter nada além do canto dos pássaros para escutar.

O menino odiava admitir o quanto a solidão era péssima para ele. Em um dia vivia mil aventuras com seus amigos e, no outro, eles seguiam um caminho diferente. Para uma criança, aquilo não era fácil de digerir.

—Peter, eu sinto muito.

—Eu entendo a língua dos pássaros, sabia? Mas os assuntos deles são tão esquisitos que a gente enlouquece se ficar ouvindo por muito tempo.

A menina revirou os olhos, ainda se adaptando com as bruscas mudanças de tom de Peter Pan. Ele soltava a maior frase de efeito já dita no mundo inteiro e logo depois falava alguma asneira que quebrava o clima instantaneamente.

—Mas no seu livro você não conseguiu se comunicar com o Pássaro do Nunca que te deu o ninho para você não se afogar.

—Depois dessa eu percebi que precisava dar um jeito de aprender. Os Manchadinhos são bem espertos e me ensinaram.

—Manchadinhos?

—Só existem aqui na Terra do Nunca. Eles são rosa, marrom e branco.

Então, o menino entrou em um dos túneis e a única coisa que Carolina pôde ouvir foi um "iupi!". Um pouco receosa, ela o imitou. Quando percebeu, já estava com a cara no chão da casinha, sentindo todo o seu corpo doer.

—Você caiu igual uma jaca! —Peter se jogou no sofá e começou a gargalhar.

—Tem jaca na Terra do Nunca? —Ela perguntou, sem se mover.

Olhe Para o Pé de BatatasOnde histórias criam vida. Descubra agora