Capítulo 9

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—Você está cheirando a morango e baunilha. —Carolina disse. Os dois já haviam saído da casa e andavam até a sorveteria preferida da menina.

—Eu nunca tinha sentido nada tão cheiroso como isso! Pena que tem gosto de veneno.

—Peter! Você comeu?!

—Claro. Eu achei que tivesse o gosto do cheiro.

—É um sabonete líquido! É óbvio que não tem gosto bom.

—Ah, mas não tem problema. Eu experimentei uma coisa que estava num frasquinho de apertar e o gosto ruim foi embora.

—Meu hidratante labial? Ah, garoto, você não tem jeito!

De repente, ele se deparou com a sorveteria do outro lado da rua e seus olhos brilharam.

—Esqueça as bugigangas do banheiro. Eu quero saber é disso aqui. —Ele deu um passo à frente, mas logo recuou, por causa de uma motocicleta que passou em alta velocidade.

—Ei, você tem que olhar para os lados.

—Não tem essas parafernálias na Terra do Nunca. —Ele fez careta.

—Vamos atravessar na faixa de pedestres. —Ela estendeu a mão e Peter, a contragosto, segurou.

—Essas listras no chão são mágicas?

—Não, Peter. Mas é mais seguro atravessar em cima delas.

Assim que chegou à outra calçada, o menino se adiantou e subiu os degraus do estabelecimento. Assim que atravessou a porta, o ambiente climatizado pelo ar condicionado o pegou de surpresa. Se as listras da faixa de pedestres não fossem mágicas, aquele lugar certamente era.

—Uau! É aqui que o Papai Noel mora?

—Eu queria que fosse. —Carolina riu.

—Carol, você por aqui? —Uma garota sentada em uma das mesas disse, enquanto enrolava uma mecha de cabelo nos dedos.

—Oi, Clara. —Ela acenou, timidamente.

—Ainda não se mudou? Suas aulas começam semana que vem. —Ela bebeu um pouco de seu milk-shake.

—Vou aproveitar os meus últimos dias aqui.

—Meus tios vêm me buscar amanhã. Estou louca para ir embora logo desse fim de mundo. Você também, né?

—Ah... eu gosto daqui.

—Já eu não aguento mais esse clima de interior. Um bando de caipiras antiquados.

—Bem...

—Ah, não vai me dizer que você não está doidinha para ficar rodeada por todos aqueles arranha-céus, conhecendo gente nova e interessante? —Clara interrompeu a menina, que já estava se sentindo desconfortável.

—Na verdade...

—Se a gente ficar parado aqui, nossos pés criam raízes no chão. Essa roça não tem futuro para pessoas como nós. —Após interrompê-la mais uma vez, a garota deu uma piscadela, como se tivesse dito uma verdade universal.

—Pessoas como você o quê? Nariz em pé? —Peter Pan perdeu a paciência.

—Quem é esse moleque?

—Um que tem muito mais estilo que você. Esse vestido é igual a toalha de mesa do Gancho. —Ele respondeu e cruzou os braços.

—Você conhece esse pirralho, Carol?

Olhe Para o Pé de BatatasOnde histórias criam vida. Descubra agora