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Anos atrás, eu estava na Somália fazendo negócios quando uma revolta aconteceu, me obrigando a procurar abrigo em um bunker improvisado no deserto. O calor era insuportável, o ar difícil de respirar e o cheiro, especialmente após três dias presa, uma mistura forte e desagradável de suor e urina que até hoje me faz sentir desconforto só de lembrar.

No entanto, aquele lugar não foi um inferno. Não. O verdadeiro inferno é isso. A missa.

Não sei ao certo por que venho aqui. Os sermões parecem falsos, cheios de hipocrisia e julgamento. As freiras me fazem lembrar dos dias no internato que meu pai me despacho quando eu tinha 11 anos.

Merda.

Até hoje, não sei se ele fez isso para me proteger ou para esconder dos outros, talvez até de si mesmo, o fato de eu ser lésbica. Sempre fico incomodada quando penso nisso. E sempre que venho aqui, me lembro disso.

Apesar disso, aqui estou eu, frequentando o inferno. Deus, detesto estar aqui.

Mas fico. E ouço, até o final.

Assim que termina, levanto, meus olhos fixos na porta de saída quando sou surpreendida pela presença de uma mulher baixa, com braços torneados e olhos cor de chocolate. Ava.

"Beatrice!" ela exclama assim que me vê, corando logo depois. "Eu não sabia que você frequentava a missa. Você não parece ser esse tipo de mulher," ela diz, o tom de voz mais baixo a cada palavra, até se tornar nada mais que um sussurro.

"Meus pais eram religiosos."

"Oh."

Ela olha para baixo, sem saber exatamente o que dizer. Mas também parece com pressa de se despedir.

"Você é religiosa?"

Meu interesse em continuar a conversa espalha alívio no rosto dela. "Sim, é que... na verdade não conte para ninguém mas peguei o trem errado e fui parar no Brooklyn."

"Não conhece o sistema de metrô da cidade," constato. Não é uma pergunta, mas ela responde como se fosse.

"Eu morava em Madri, cheguei faz menos de um mês. Achei que com o Google Maps seria fácil, mas ele deixou bem claro quem é o chefe."

De novo me pego precisando segurar o sorriso que ameaça surgir nos meus lábios enquanto a encaro. A forma como essa garota fala e se expressa, sempre tão cheia de vida... ela definitivamente é um Golden Retriever. E eu sempre gostei dessa raça.

"Por que não procurou uma igreja lá? O Brooklyn tem várias."

"E arriscar ser esfolada viva pela Suzanne? Não obrigado!" responde, como se isso explicasse muita coisa. Quero perguntar quem é essa mulher, se é uma namorada ou ficante, mas o ronco alto do estômago dela me interrompe.

"Ops," comenta, rindo alto.

"Você precisa comer."

"Não, tudo bem... eu posso só...'

"Anda," digo, fazendo um gesto para que ela me siga em direção a porta de saída.

Ela olha ao seu redor, confusa, mas sai trotando atrás de mim. "Pra onde?"

"Vou te levar para tomar café da manhã," explico, assim que ela me alcança. Ela me olha espantada.

"Você quer me levar para tomar café? Por quê?"

"Não sei," respondo honestamente. "Mas você está com fome, e o Chelsea Market não é muito longe. Podemos pegar algo lá."

"T-tá bem."

Burn me awake (A Warrior Nun Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora