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Sou uma mulher violenta.

Minha vida exige isso. Machuco, mato pessoas. A cada ato, percebo uma parte de mim se dissipando junto com eles. No entanto, essa constatação não me detém. Ao contrário, mergulho novamente nas profundezas dessa escuridão que me consome.

Raramente reflito sobre quem eu já fui. Uma vida normal, repleta de deveres escolares, amizades, flertes, laços familiares... Tudo isso se perdeu.

Tornei-me algo semelhante à Eurycea Rathbuni, uma salamandra encontrada nos recônditos do Texas. Habitante de cavernas e túneis subterrâneos, adaptou-se à escuridão absoluta. Sua pele perdeu cor, perdeu a visão, e eventualmente até seus olhos desapareceram.

Para sobreviver, ela abraçou o monstro que se tornou.

Às vezes me pego questionando: se um raio de sol adentrasse essas cavernas, seria possível percebê-lo? Sentir seu calor, sua luz? Seria eu atraída por ele? Se a resposta fosse sim... eu poderia me tornar menos monstruosa?

Sendo sincera comigo mesma, enquanto encaro o homem à minha frente, tenho certeza de que a resposta para essa pergunta é um contundente não.

"Seus amigos deixaram você para trás," digo, a arma confortavelmente apoiada sob minha perna, enquanto mantenho o dedo indicador no gatilho. "Imagino que tenha uma mensagem para mim."

Apesar do olhar desafiador, ele está tremendo.

Pouco importa o que ele vai dizer para mim, os corpos despedaçados na minha frente, divididos em tantos pedaços que, se não soubesse que eram três pessoas, certamente teria dificuldade em distingui-los, me dizem tudo que preciso saber.

"A sua hora está chegando, vadia," ele responde, erguendo o rosto em desafio.

O jeito como os homens falam essa palavra me incomoda. A entonação é sempre arrogante, acompanhada de um olhar de superioridade e um sorriso disfarçado. Ela os faz se sentirem poderosos, independentemente de ser o caso ou não. Alguns, como eu sei bem, são perigosos. Mas outros, como esse idiota, só não perceberam ainda, mas já estão mortos faz muito tempo.

"Então tá," respondo, e sem perder tempo destravo a arma e atiro contra o peito dele uma, duas vezes. Geralmente sou mais simples. Mas hoje estou irritada. Quando me levanto, encaro mais uma vez a visão dantesca diante de mim.

Não bastasse a carnificina, o fato de que vinte milhões de dólares repousam intocados em uma maleta preta no banco traseiro da SUV, não deixa margem para qualquer dúvida.

Reconheço os padrões. Já os vi antes, inúmeras vezes. Ela gosta dessas teatralidades.

Lilith.

Finalmente decidiu agir. E certamente está esperando uma resposta à altura. Em outra ocasião, nossa pequena competição seria, no mínimo, um desafio interessante. Mas o tempo está passando rápido, e não posso continuar com essas brincadeiras.

A recusa dela em entender que ambas as nossas vidas estão ameaçadas me frustra mais do que consigo processar. Lilith aprecia esses joguinhos demais para perceber o que está diante dela. E com Reya fora do caminho, não há nada nem ninguém para fazê-la ver a razão.

Suspiro alto ao sentir o toque insistente do alarme do meu celular. Preciso ir. Meu Golden Retriever e suas amigas aguardam por mim.

Não faço ideia do que Shannon e Mary querem, mas elas insistiram tanto para que nos encontrássemos para jantar, e Ava praticamente implorou, apesar de eu ter deixado claro minhas regras. Meu interesse nesse encontro é nulo. Não temos um relacionamento e não devo satisfações a ninguém. No entanto, elas são tão persistentes ao ponto de serem inconvenientes, então decidi ceder apenas desta vez.

Burn me awake (A Warrior Nun Fanfic)Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum