4. Dias das Mães

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O dia amanheceu, os raios de luzes permeiam os vãos da cortina e invadem a casa avisando a todos que mais um dia estava começando. Animada, Lily, senta na cama, ela sempre desperta antes de ouvir aquele toque escandaloso que a Maria deixa configurado, só por precaução, precaução essa que nunca foi necessária para Lily. Ela passa as suas mãos no cabelo curto bicolor de modo que os bagunçasse ainda mais, animada e com pressa dá um pulo para fora da cama, aquele pijama preto curtíssimo, na qual vestia deveria ser escolha, tão somente, da Maria, mas como quase todo dia ela não se lembrava.

De pé em meio a bagunça de roupas jogadas no chão do seu quarto, rapidamente ela encontra sua camisa larga, com desenho da Minnie, amassada aos pés da escrivaninha e a veste, tentando tapar aquela vestimenta reveladora.

- Bom dia mamãe. - Lily diz de forma animada assim que abre a porta do quarto e tem seus olhos cegados pela claridade do sol no rosto.

Após um breve suspiro de alívio, sua mãe sorri, era um alívio ver Lily depois de tantos dias da Maria.

- Como eu amo esse sol da manhã - Gritou Lily com os braços esticados, paralisada sob o sol que entrava na cortina, momento que foi interrompido por um abraço apertado de sua mãe, tão apertado que quase a levantou do chão.

- Como senti sua falta! - Ela dizia ainda no abraço.

- Já sei. - Lily desanima diante da animação exagerada de sua mãe. - A Maria estava aqui, né? - Lily perguntou tentando confirmar sua hipótese.

- Sim, foram doze dias da Maria. - Sua mãe responde segurando pelas duas mãos, olhando no rosto com doçura. - Dias difíceis demais.

- Como alguém pode não gostar de acordar cedo e sentir esse sol tão delicado? - Lily ainda com sua animação quase inabalável abre ainda mais a cortina da sala, quando se depara com uma cena inusitada.

A grande árvore do quintal, uma Flamboyant de quase seis metros de altura, que ela brincou em suas sombras a infância inteira estava rodeada de fitas de isolamento com pedaços de madeiras pregadas o redor de todo seu tronco, incrédula que ousaram machucar sua árvore predileta ela olhou para a mãe em busca de respostas.

- A Maria, meu amor. - A mãe bota a mão em seu ombro.

- Que droga, eu não me lembro.- A menina diz olhando tão concentrada para a árvore tentando recordar alguma coisa.

- Acontece que no último domingo a Bruninha apareceu, e você sabe que ela adora subir na árvore. - A mãe contou à jovem, a puxando da janela para que sentasse do sofá e deixasse de sofrer ao ver a árvore, fortes emoções deveriam ser evitadas.

A Bruninha, assim como a Maria, eram duas das suas personalidades mais intensas e sempre que acontece a troca, geralmente após uma crise de ansiedade, vem a amnésia, o que torna o convívio, quase impossível, quando Maria, a mais problemática, assume.

- A Bruninha estava radiante em cima da árvore. - A senhora sorri lembrando. -Seus olhos brilhavam, mesmo debaixo daquela chuva de final de tarde que fez seu cabelo ficar dividido ao meio e muito engraçado, não pude te proibir. - A mãe respira fundo e se corrige.

- Não pude proibir a Bruninha de subir, porém, lá em cima, depois de um estrondo causado por um raio distante ela se assustou, entre gritos e desespero a Bruninha não conseguia mais descer da árvore e após se acalmar daquela crise a Maria apareceu. - A senhora voltou a respirar fundo e arregalou os olhos.

- A Maria em cima da árvore? - Lily perguntou incrédula, ela sabia da vontade que Maria tinha de se matar e da luta interna entre elas por tamanho desgosto que Maria tem pela vida.

- Ela gritava ofensas e dizia que todas pagariam pelo nosso erro, de deixar ela

subir na árvore. - Um pausa na fala da senhora que tentava não chorar ao lembrar.

- Por instantes ela tentou mesmo pular e os bombeiros foram acionados, ela os mordeu, foi sedada e essa casa com a Maria foi um inferno. Desculpa, Lily.

A mãe a abraçou forte.

- Desculpa. - Ela repetia.

Maria era desafiadora, quando ela surgia os insultos eram constantes, assim como as inúmeras vezes que ela negava se vestir ou ameaçava atear fogo a casa, ela acordava xingando a claridade do sol e ia dormir sob palavras obscenas de cunho sexual em frente as janelas e por esses comportamentos a mãe havia largado o emprego diversas vezes, para ficar exclusivamente de olho nelas, que ocupavam o mesmo corpo.

- Posso fazer uma vitamina bem cor de rosa mamãe? - Lily diz sorrindo, sorriso esse que não era apagado por nada.

A mãe sorri, retoma suas forças e levanta para acompanhar sua pequena, que aos vinte anos de vida já havia lhe ensinado tanto sobre o amor incondicional.

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Surto Literário: Devaneios da LCOnde histórias criam vida. Descubra agora