O que não era para ser visto, jamais, será desvisto

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Tudo bem que aquela ali, era sua melhor roupa de todo o  " outfit" disponível no momento. Uma saia social até os joelhos, preta. Assim como as meias calças pretas. Os sapatos? Pretos, e a camisa de manga comprida cacharrel – o modelo preferido que adorava usar – adivinhem só, preta!

É que para dizer bem a verdade, ela não gostava muito de se arrumar, quanto mais andar toda "emperiquitada", e não seria porque estava indo a uma entrevista de emprego – justamente em uma empresa que possuía todo o seu capital fixo e circulante – voltado para o mundo da moda, e tudo o que ele englobava, que iria até lá parecendo uma modelo.

Afinal de contas, ela havia se candidatado para a vaga de E-CO-NO-MIS-TA, e não de top model se quer saber, então o que eles deveriam analisar não era a sua aparência em si – que estava muito bem, obrigada – mas sim, suas qualificações e toda a sua formação acadêmica!

O que diga-se de passagem, era um primor.

Muito melhor do que qualquer modelo besta, que só servia para caminhar ao longo de uma passarela, posar muita das vezes seminua para ganhar o que, alguns bilhões...? E ela ali, com diversos diplomas na parede... tendo que pegar um metrô superlotado por não ter carro – e nem saber dirigir – indo na direção daquela que era a sua milésima tentativa de arranjar um emprego.

-  Que Deus me ajude.

Enquanto tentava se segurar em uma barra de ferro para não cair, suspirava, mas não por estar cansada, mas sim por se sentir ansiosa, querendo saber se tudo daria certo como imaginava.

Estava até sonhando acordada, já podendo se imaginar, pegando aquele mesmo metrô lotado todos os dias, mas não para uma entrevista de emprego, e sim, para poder trabalhar, o que ela mais gostava de fazer em sua vida!

Era sua realização, seu maior desejo! E poder também, com o salário que ganharia, ajudar seus pais que tiveram que sustentar a casa sozinhos por aquele tempo depois que perdeu seu emprego no banco. Mais do que um prazer em ajudá-los, era sua obrigação como filha.

Por esse motivo, precisava estar confiante. E estava sim, até chegar e se deparar com o prédio onde ficava a "Le Mode Agreste".

Não tinha como se enganar, uma vez que o endereço enviado pelo e-mail era aquele, sem contar o letreiro enorme em dourado com os dizeres referente ao nome da empresa.

Sendo assim, diante da imponente construção, sentiu-se pela primeira vez desde que soube da vaga de emprego, amedrontada e cheia receio de adentrar aquele prédio, mas isso não a impediu, nem a impediria! Não iria dar para trás.

Então, depois de respirar fundo, ergueu a cabeça com um sorriso confiante, até que um homem passou perto de si como uma bala, esbarrando no seu ombro, o que a fez ir para frente e quase cair, tendo apenas seus óculos ido direto para o chão.

- Nossa! – resmungou indignada, fazendo um biquinho sem poder olhar a pessoa que havia lhe esbarrado, uma vez que por conta da sua miopia somada ao avançado do astigmatismo, não conseguia ver nada além da palma da sua mão quando estava sem óculos.

Com isso, ficar sem eles, em uma plena entrevista de emprego, seria algo ruim de acontecer, não seria? Sim, CLARO que seria, e era infelizmente, o que iria acontecer, pois por conta da queda, uma das lentes se descolou, arranhando-se por completo.

- Mas que beleza Marin!! – resmungou de novo para si mesma, choramingando enquanto caminhava para adentrar ao prédio, e se aproximar do recepcionista que continuava digitando no seu computador como se ninguém estivesse ali.

- Bom dia senhor.

O belo homem moreno que continuava digitando, fingia que não via aquela mulher, ou melhor, aquela sombra na sua frente, descabela e com os olhinhos fechados querendo conversar. Francamente, era cada um que estava aparecendo na Le Mode ultimamente, senhor Gabriel precisava melhorar um pouco mais sua clientela.

Se bem que... ao olhar o tipo daquela baixinha, clientela?! Só se fosse da sarjeta, cruzes. Ela usava uma cacharrel, pelo amor, estava vivendo por um acaso nos anos 60?

- Pois não, senhorita, em que posso ser útil? – Parando por fim para atender aquele embuste, o rapaz juntou as mãos por debaixo do queixo a olhando com um sorriso azedo.

- Eu gostaria de saber onde fica o banheiro.

- Aaaah o banheiro é? E por acaso pensa que vou te deixar entrar aqui sem identificação minha filha?!

Marinette piscou duas vezes, não vendo nada, só um borrão distorcido do que era para ser uma pessoa. Pelo menos assim, ela foi poupada do rosto hostil do atendente.

- Hã?! Identificação??

- Sim né querida! Vamos, me diga, o que veio fazer aqui?

- Aaah ta, eu vim para uma vaga de emprego, aqui... – se confundindo toda para retirar o papel do e-mail que havia imprimido, deixou que o óculos caísse de novo no chão, o que fez o recepcionista revirar os olhos e sentir pena.

- Ai coitadinha dela! – ele desdenhou pegando o papel de sua mão. –Quer saber de uma coisa, senhorita... hã... Margarette...?

- É, Marinette,com "nette" no final.

- Tanto faz. Eu já sabia que viria, só queria ter certeza mesmo de que era você. Aqui, tome seu cracházinho e divirta-se.

- Obrigada, eu acho...

- E o banheiro...fica subindo dois vãos de escada na segunda porta esquerda. Não vá errar tá, senhorita, Marinette com nette no final. – ria ele astuto, antes de soltar o crachá.

- Ta bom, obrigada de novo.

Sem poder acreditar na falta de educação daquele recepcionista, e com certa dificuldade para andar por conta da sua visão meio turva, seguiu adiante.

Como estava praticamente cega e um pouco nervosa, por simplesmente estar caminhando em um prédio que não conhecia nada e nem ninguém, acabou subindo apenas um vão de escadas, caminhando pelo longo corredor vazio enquanto tateava a parede buscando apoio para não cair de novo.

Foi seguindo assim, sem saber onde estava indo, até chegar em uma porta,a abrindo lentamente. Quem sabe ali, não encontraria alguém que pudesse ajudá-la, alguém mais educado do que aquele recepcionista azedo

- Aaanh Adrien!

- Cala a boca, você quer que ouçam a gente...?

- Mas você ta fazendo muito forte seu safado, a culpa é sua!

- É que você merece, você que ta pedindo!!

- Eu to....!!! Vai mais rápido, vai gostoso!

"O que está acontecendo...?" – A mestiça estreitou os olhos no vulto que parecia estar por cima de uma mesa, e se movia, para cima e para baixo de modo frenético.

- Adrieen! Aaah, me fode...!!

Foi quando, ao ouvir o grito agudo e passional de uma mulher, Marinette se tremeu todinha deixando que seus óculos, que estavam em sua mão direita caíssem no chão de novo, junto com a sua bolsa. Com isso, acabou fazendo um barulho que fez o vulto em questão, se direcionar para a porta e vê-la parada em pé com o rosto assustado, piscando muitas vezes na tentativa de tentar entender o que diabos estava acontecendo!

- O que está fazendo aqui?! Quem é você?! – alguém, um homem, resmungou ao fundo, o que ela não entendeu muito bem por estar tão amedrontada, que não conseguia se mover, quanto mais ouvir direito.

- Eu vim para uma vaga de emprego e... me desculpa, me desculpa, já estou indo...!!

Tentou sair dali o quanto antes ao se virar, para correr, mas no momento que se abaixou para pegar o óculos do chão assim como a sua bolsa, sentiu seu braço sendo puxado para cima de uma maneira brusca, que a fez dar um gritinho.

- Muita calminha aí sua ratinha. Nem pense em fugir assim... nós precisamos conversar!!

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