Sombras e Chamas

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A noite caía densa enquanto o exército de Quátez deixava o campo de batalha para trás. O cheiro metálico de sangue ainda pairava no ar, misturado com a fumaça que subia das piras de corpos queimados. O vento gelado soprava contra os rostos exaustos dos soldados, levando consigo o eco dos gritos que agora eram apenas memórias. O que deveria ser uma noite de vitória trazia uma sensação incômoda de algo não resolvido, um silêncio quase fúnebre.

Gilbert cavalgava à frente, sua armadura dourada manchada de sangue, refletindo vagamente as últimas chamas que ainda ardiam no horizonte. O príncipe não dizia uma palavra, mas seu olhar estava atento, como se esperasse que a escuridão ao redor revelasse algum perigo escondido. Os passos ritmados dos cavalos e o crepitar das tochas eram os únicos sons que preenchiam a noite opressiva.

Foi então que aconteceu. Um som — não, um rugido — tão baixo que inicialmente parecia fazer parte do vento, mas logo se revelou uma presença. Algo estava nos céus, grande e invisível. Um bater de asas, pesado e perturbador, cortou o ar acima deles.

Os soldados pararam. Um murmúrio nervoso percorreu as fileiras. Alguns ergueram os rostos, tentando enxergar através da escuridão sufocante, mas a noite era impenetrável.

— O que foi isso? — um dos comandantes sussurrou, a voz trêmula.

— Apaguem as tochas, agora. — A voz de Gilbert foi um sussurro grave, carregado de uma urgência que nenhum de seus homens ousou questionar.

As tochas foram rapidamente sufocadas, mergulhando o exército em uma escuridão absoluta. O silêncio que se seguiu era angustiante, como se o próprio ar tivesse parado de se mover. Não havia lua para iluminar o caminho, apenas a sensação de estarem cercados por algo invisível, algo que espreitava acima, entre as sombras.

O rugido ecoou mais uma vez, agora mais alto, mais próximo. O som das asas voltou, como lâminas afiadas cortando o vento, rápidas e violentas. Os soldados, agora imóveis e invisíveis na escuridão, podiam apenas ouvir — e sentir — a presença daquela criatura nos céus, sem conseguir ver o que era.

— Majestade... o que é isso? — murmurou um soldado ao lado de Gilbert, a voz embargada pelo medo.

Gilbert não respondeu. Seus olhos, mesmo sem enxergar, fixaram-se no céu, em uma tentativa inútil de identificar o que caçava seus homens. O medo se espalhou pelas fileiras como uma praga silenciosa, seus soldados respirando pesadamente, os dedos crispados nas lâminas. A sensação de ser observado era sufocante, e nenhum deles sabia o que faria se a criatura os atacasse.

Então, como se o próprio inferno tivesse descido à terra, a escuridão foi rasgada por uma luz terrível. Ao longe, a fortaleza de Luton, que haviam deixado horas antes, foi subitamente consumida por chamas colossais que iluminavam o céu noturno. O fogo brotava das torres como uma maldição ardente, e, no centro de tudo, uma sombra monstruosa batia suas asas, exalando mais fogo, queimando tudo em seu caminho.

O rugido da criatura, agora audível em sua plenitude, era ensurdecedor. Um som que não parecia pertencer a este mundo. Uma criatura, coberta pelas sombras, cuspia fogo sobre a fortaleza. As muralhas de Luton, que antes eram símbolo de resistência, desmoronavam em chamas.

Os soldados de Quátez observavam, atônitos e paralisados, seus corações apertados pelo medo e pela incerteza.

— Deusas... nos protejam — sussurrou um dos homens.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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