Run.com. - Jikook

Runaway.

O céu estava carregado naquela tarde, nuvens cinzentas se acumulando como um presságio de que algo estava prestes a acontecer. Após os flashbacks, sangue e lágrimas do dia anterior, Jimin foi levado para a cama de seu quarto por Yoongi, que cuidou dele pelo resto da noite. Aquilo havia deixado Jimin com uma sensação péssima, afinal era Yoongi quem mais precisava de apoio naquele momento tão pesado. Yoongi só questionou o que aconteceu uma vez, e quando não obteve resposta apenas permaneceu ao lado do garoto, abraçando Jimin até que ele adormecesse. Yoongi era um amigo de verdade.
Jimin apertou o casaco contra o corpo, se desvencilhando das memórias do dia anterior ao sentir o vento gelado de encontro com sua pele pálida. Jimin continuou andando até a cafeteria, ignorando o peso crescente que sentia desde que concordara em acompanhar Yoongi e Junng para conhecer Taehyun. Ele não queria ir. Algo nele gritava que deveria recusar, mas o olhar insistente de Junng e a empolgação de Yoongi o fizeram ceder. Jimin ainda não tinha entrado em contato com Jungkook para contar que havia recuperado suas memórias, e estava preocupado. Agora, enquanto andava em direção ao local, Jimin não conseguia afastar o desconforto. 

O garoto chegou em frente a um estabelecimento simples, mas bem cuidado, cercado por um jardim de aparência impecável. Junng e Yoongi estavam esperando Jimin na calçada, Junng estava com seu braço entrelaçado na cintura de Yoongi, que parecia estar com uma aparecia melhor do que nos últimos dias. Taehyun os aguardava na porta da cafeteria, com um sorriso caloroso e amistoso nos lábios. O contraste entre a serenidade do lugar e a turbulência dentro de Jimin era quase insuportável. Ele respirou fundo, tentando acalmar a tempestade que crescia em seu peito, mas o ar parecia pesado, sufocante. 
A cena era um tanto desconcertante: Taehyun os esperava na entrada, com um sorriso que parecia moldado para ser convidativo. Ele tinha o mesmo rosto de Junng, mas algumas coisas nele eram diferentes. Mas os olhos... havia um brilho estranho neles, uma intensidade que Jimin não conseguia definir, mas que o fazia querer recuar.  Embora fosse incrivelmente parecido com seu irmão, quase como se fossem reflexos de um espelho, a outra coisa que verdadeiramente trazia a diferença dos dois a tona era o tom azul nas madeixas de Taehyun. Mesmo assim, havia algo nos olhos de Taehyun que não inspirava confiança em Jimin. Muito pelo contrário disso.

— Finalmente conhecendo o famoso amigo do Yoongi — disse Taehyun, apertando a mão de Jimin com um toque firme. — Sabe, ouvi muito sobre você. — o homem diz com um sorriso de aparência natural, mas que para Jimin era mais que óbvio que era um sorriso falso.

Jimin sorriu educadamente, mas a sensação de estar sendo avaliado o deixou desconfortável. Enquanto entravam na cafeteria, ele percebeu que Taehyun tinha o hábito de observá-lo por mais tempo do que deveria. Era como se estivesse procurando algo nele, tentando enxergar além do que estava visível. 
A sala estava silenciosa, exceto pelo som distante de uma música ambiente. Jimin se acomodou no sofá do local, enquanto Taehyun pedia um chá. A conversa inicial foi banal, cheia de trocas de gentilezas, mas algo no tom de Taehyun parecia afiado, como se cada palavra carregasse uma segunda intenção. Jimin não conseguia se manter atento a nada além das memórias que havia recuperado no dia anterior. Era uma loucura, e Jimin estava envolvido até o pescoço, mesmo que não se lembrasse até ontem.

O som da xícara de chá sendo pousada na mesa trouxe Jimin de volta à realidade. Taeyang sentou-se em uma poltrona próxima, o sorriso ainda estampado no rosto. Mas agora parecia mais incisivo, como se estivesse desafiando Jimin a decifrá-lo. 

— Então, Jimin — começou Taehyun de repente, de uma forma quase incisiva, como se o que fosse vir a seguir não fosse verdadeiramente uma pergunta. — Trabalhar como fotógrafo deve ser muito diferente do que você fazia antes, não é?

Jimin congelou por um instante. Ninguém mencionava seu passado, e ele fazia questão de mantê-lo enterrado. A pergunta veio como uma facada, mas ele sorriu, tentando não demonstrar desconforto.