XV

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Kile Neves

Eu nunca consegui dormir com as mulheres depois da relação amorosa, e o pior, nunca soube o motivo, mas nunca senti necessidade de me deitar ao lado de nenhuma mulher e dormir agarrado com ela.
Eu realmente só queria saciar a minha necessidade com elas e depois se pudesse eu as jogava fora, eu sei que isso é horrível, porém todos os homens sentem a mesma coisa. Mas posso dizer que até com a Izzy isso acontecia às vezes, talvez quase sempre. Mas essa foi a primeira vez que eu senti a necessidade de ter uma mulher ao meu lado. Eu até me surpreendi por querer estar tão perto assim de uma mulher, sim uma linda mulher.
Eu sei que pareço um psicopata, mas eu estou acordado já faz duas horas, e continuo na cama só para ter o prazer de sentir o corpo da Clary perto do meu. Sinto a sua respiração calma em meu pescoço e suspiro satisfeito por isso.
Acredito eu que posso passar horas nesta mesma posição, só para ter o prazer de continuar perto dela.
Meus pensamentos estão uma loucura, metade diz que eu sinto algo por ela e a outra metade diz que eu não sinto nada. Então, qual é o lado certo? O que eu devo fazer?
Uma coisa eu sei, que independente da minha escolha, ainda está muito cedo para dizer que isso é amor. Eu não conheço nada da Clary, ela pode ser uma maluca ou psicopata.
Ai meu Deus, e se quando ela acordar pensar o mesmo de mim? Porque eu já dei indícios suficientes. Quem em sã consciência contrata uma mulher grávida para fingir que é sua noiva, em vez de sair em uma balada conhecer uma garota legal se apaixonar por ela e se casar?
Acredito que preciso de um terapeuta para resolver todas essas questões em minha vida. Mas sou daqueles que um dia repleto de trabalho resolva todas essas questões pendentes.
Sinto o corpo dela se mexer e saio dos meus devaneios, a abraço forte, ouço um gemido e sorrio.
Olho para o relógio e vejo que já são 02h45min da manhã, e dou um longo suspiro voltando a abraça-la. Clary se mexe na cama novamente e como de costume, retira a coberta de seu corpo, mostrando a pele do seu corpo nua. Se fosse há dias atrás eu estaria louco por não poder tocar nesta pele, beijar este corpo ou até mesmo sentir ele perto de mim. Mas agora tudo e completamente diferente, eu posso tocar, beijar e sentir o corpo dela no meu.


*****


É o primeiro natal em que eu passo na casa dos meus pais sem querer fugir de lá. Eu realmente nunca fui de curtir família assim depois que aconteceu comigo e com a Izzy. Ficar aturando a minha família não era mais o meu hobby, mas neste Natal o meu gosto familiar mudou.
Aproveitando o sol perfeito de hoje, minha família toda - contando com os pais da Izzy e o babaca do seu irmão - marcaram de ir para a cachoeira do horto - um local perto do Jardim Botânico, que é cercado de florestas e além de ter várias nascentes de rios e lindas cachoeiras -, Clary tenta me convencer a ficar em casa, mas eu prometi ao médico que ela iria fazer várias atividades físicas.
A família praticamente toda vai, como é perto, aproveito e levo o Hans. Pegamos o carro e fomos para a entrada da trilha de terra que nos levava a segunda cachoeira do Horto. Ela era bem escondida, eram quase 45 minutos andando, mas valia muito a pena.
Já estávamos caminhando fazia uns 15 minutos, Clary segue caminhando ao meu lado em passos lentos, observando o cenário ao seu redor - árvores, animais característicos da mata atlântica, flores, entre outros -, enquanto eu vou levando o Hans.
Observo-a caminhando distraída e sorrio. Com a luz do sol refletida em seu rosto, seus cabelos estavam mais avermelhados e seus cachos naturais estavam soltos espalhados ao redor de seus seios. Clary usava um short curto jeans e uma regata branca, ela carregava uma cesta, a mais leve na mão e caminha com a respiração ofegante.

- Esta gostando da caminhada? - Pergunto caminhando devagar, pegando a cesta em sua mão.
- Estou sim. - Diz ela respirando ofegante. - Vai demorar muito? - Ela para de andar e respira fundo.
- Só uns cinco minutos, quer descansar um pouco? - Pergunto com um tom de preocupação.
-Só um pouco, ok? - Diz ela se sentando em uma pedra perto da estrada. - Pode me dar uma garrafa de água, por favor?

Pego uma garrafa dentro da cesta e entrego a Clary, ela bebe devagar e respira fundo observando tudo ao redor.

-Aqui é bem bonito, você acostumava vim para cá quando criança? - Pergunta ela prendendo o cabelo em um rabo de cavalo alto. -Já trouxe a Izzy nojenta para cá?

Caio na gargalhada, olho para ela e a vejo séria.

-Desculpa, mas eu sempre vim para cá. -Sorrio e me abaixo ficando em sua frente. -Porém nunca sozinho, Jacob e Stephanie sempre vinham comigo.

Ela serra os olhos me observando.

-Eu não sei Kile, tenho as minhas dúvidas - Sussurra, e logo depois dá um longo suspiro - Vamos?

Aproximo-me dela e roubo-lhe um beijo.

- Antes de irmos eu gostaria de te roubar um pouco para mim. - Digo puxando ela para perto do meu corpo e envolvendo os meus braços ao redor da sua cintura.

Clary sorri e me olha mordendo os lábios que eu acabei de saborear.

- Eu não ligo de ser roubada por você, eu vou adorar - Ela sorri e a beijo novamente, até que eu ouço um pigarro.
- Acredito que todos estão esperando vocês. - Murmura Izzy, com um tom de tédio.

Viro-me olhando para Izzy e Jacob segurando a Luma adormecida em seu colo. Vejo o seu sorriso e suspiro.

-Todos já chegaram lá? -Pergunto abraçando a Clary.
-Já sim, então vamos? -Diz o Jacob puxando a Izzy, que continuava nos encarando de braços cruzados.

Olho para a Clary e a vejo encarando a Izzy de volta. Espero eles se afastarem e então sussurro para Clary:
- Não sei por que essa guerra entre vocês. - Digo caminhando devagar com a Clary.
- Isso não é guerra, eu só estou me defendendo de víboras nojentas que tem nome de cachorro. - Responde Clary.
- Nome de cachorro? - Caio na gargalhada - O nome dela não é nome de cachorro - Paro de falar e me lembro de um livro com dicas para nomes de cachorros e Izzy era uns dos nomes mais usados por pessoas ricas - Realmente você está certa, Izzy é nome de cachorro.
-Viu, você concorda comigo. -Ela sorri olhando para mim. - E além do mais, ela está se sentindo ameaçada por não ter mais a atenção dos primos apaixonados.

Diz ele pegando no meu queixo e me dando um selinho. Sorrio e seguimos para a cachoeira do Horto.


*****

Já se passaram umas 4 horas que estamos na cachoeira, Clary e eu mergulhamos, conversamos, namoramos e caminhamos por algumas trilhas perto da cachoeira. Agora eu estou sentado observando Clary se lambuzando em um sanduíche que a minha mãe preparou especialmente para ela.

-Esta gostando do sanduíche? - Pergunto tomando um pouco de Coca-Cola.
-Kile, para com isso. - Diz ela limpando o molho que estava escorrendo pelo seu braço. - A Cass exagerou no molho para mim. - Ela sussurra olhando ao redor para ver se a minha mãe estava perto. - E além do mais, eu não vou conseguir comer isso tudo. - Completa ela olhando para a outra metade só sanduíche.
- Se você não comer, ela vai ficar triste - Sussurro dando uma mordida em seu sanduíche. - Ela acordou cedo para preparar isso para você.
-Eu vou comer - Ela dá uma mordida e enrola alguns minutos para mastigar - Mas não vou conseguir comer os dois pedaços - Sussurra ela bebendo um pouco do suco de caixinha de maçã.

Sorrio para ela e desvio o olhar observando todos conversando, dentro e fora da água. Vejo a Stephanie conversando com o Victor, irmão da Izzy, e suspiro fechando a cara. Eu nunca gostei do Victor, sempre foi um cara que achava que sabia de tudo, porém não sabia de nada.
Ele era 10 anos mais velho que a Izzy e até agora vivia na casa dos pais. Como um homem de 40 anos não tinha um emprego e ainda morava com os pais? Ok, realmente eu nunca me importei com ele, sempre o achei um grande babaca, porém ele mexeu com ela, Clary, a minha Clary, ele acredita que eu não o observei com aquela mão podre e nojenta na coxa dela ontem durante o jantar.
E agora hoje, ele passou o dia todo observando todos os movimentos da Clary. O encarei o dia todo sério e o desgraçado olhava para mim e sorria. Sínico, babaca e imbecil, era tudo e mais um pouco o que ele era.
Ouço Clary dizendo que vai até a minha mãe e já volta, percebo ele desviar o olhar de Stephanie e observar Clary, que estava usando uma blusa minha por cima do biquíni verde que combinava com os seus cabelos vermelhos. Quando o vejo mordendo os lábios, e indo na direção da Clary que estava distraída conversando com os meus pais, os pais da Izzy e o pai do Jacob.
Aperto a minha mão com raiva assistindo ele por o braço ao redor da cintura da Clary e ela imediatamente com seu charme se afasta dele. Dou um sorriso de satisfação e respiro aliviado por saber que ela não dá trela para ele.

-Minha garota! - Sussurro sorrindo.
-Vamos disfarçar maninho. - Diz Stephanie, se sentando ao meu lado com uma latinha de cerveja. - Você está fazendo um ótimo papel.

Sorrio para ela e tomo o meu refrigerante.

-O pior é que eu acho que esse papel está se tornando real. -Olho para ela e dou um sorriso fraco.

Stephanie olha para frente e sorri balançando a cabeça.

-Você está se apaixonando pela a sua vizinha que você odiava há alguns dias atrás - Ela dá mais alguns goles de cerveja e sorri. - Ela é uma ótima garota, um pouco nova, porém uma grande garota.
-Ela é sim, uma grande garota. - Sorrio observando ela conversando com a minha mãe.
-Porque não está bebendo? - Pergunta ela pegando outra latinha.
-Eu estou dirigindo - Digo para ela -Stephanie?
- Hum... - Murmura ela.
-Você acharia estranho eu assumir o filho da Clary? - Ouço a minha irmã tossir e olho para ela - Você está bem?
- Estou sim, eu só me engasguei - Ela me olha e suspira - Você precisa ver se ela vai querer isso, também tem que ver com o pai da criança.
- O pai da criança não merece nenhuma das duas. - Sussurro contendo a raiva.
- Calma Kile. - Ela suspira - Só estou levantando as possíveis situações.
- Desculpa. - Olho a paisagem e respiro fundo. - Eu não suporto a ideia do cara que engravidou a Clary cuidar dela.
- Kile, essa decisão será da Clary. - Diz ela passando a mão na cabeça. - Você tem que apenas dizer a ela a sua posição mediante essa situação.

Olho para ela e caio na gargalhada.

-Kile, está tudo bem? - Pergunta a minha irmã confusa.
- Você já se ouviu falando? - Pergunto recuperando o fôlego.
- Como assim? - Pergunta ela sorrindo sem graça.
- Você está falando muito formal, e ainda me dando conselhos sensatos. O que está acontecendo com a garota porra louca que é a minha irmã?
- Ela está aqui. - Ela sorri me dando um soco no braço. - Ela apenas sabe muito bem a hora de ser porra louca e de ser sensata.

Sorrio olhando para a minha irmã e a abraço.

-Eu meio que gosto de você. - Digo bagunçando o seu cabelo.
- Kile, você é um completo idiota. - Diz ela jogando água em mim.

*****

O dia na cachoeira foi maravilhoso, por incrível que pareça, nós passamos o dia em harmonia. Ok, tirando a Izzy que fez de tudo hoje para ser do contra e do babaca do Victor que cismou de tocar na Clary, mas tirando isso tudo ficou maravilhoso.
Já estava quase noite quando chegamos a casa. Clary seguiu para o quarto quando chegamos alegando que iria tomar banho, mas assim que cheguei ao quarto a encontrei dormindo completamente enrolada na coberta deitada na cama.
Vou até ela e a observo dormir pacificamente, sorrio dando um beijo em sua testa e me afasto para tomar um banho também. Depois do banho desço as escadas e me sento na varanda lendo um livro, não sei quantas horas passo ali, mas só percebo que escureceu bastante quando ouço a Izzy me chamando:
- Pensei que nunca ficaria só. -Diz ela me entregando uma taça de vinho branco e se sentando ao meu lado.
-Como assim? -Pergunto guardando o livro na mesinha de centro e logo depois bebendo o vinho.

Izzy sorri e olha para frente suspirando e logo depois bebe o vinho.

-A partir do momento que a Clary - Ela suspira e passa a mão no cabelo. - A Clary voltou do hospital você não desgruda dela.

Olho para ela e suspiro.

-Será que é porque a minha futura noiva está com uma gravidez de risco e precisa de cuidado e atenção? - Pergunto com as sobrancelhas arqueadas.

Ela suspira e vira a taça de vinho de uma vez só, bebendo todo o seu conteúdo.

- Eu sei disso, mas você mudou muito - Ela olha para mim. - Você está me tratando diferente, não está mais me dando atenção.
- Em relação a isso tenho motivos suficientes para mudar com você. - Digo sério.
- Quais? Ah, já sei... O primeiro deve ser o motivo de eu não ter gostado da Clary e nem ela de mim. - Diz ela revirando os olhos - Cara as duas são adultas, e eu não gosto do jeito que ela age. Ela sempre passa a imagem de uma menina sofrida e ela não é.

Observo-a e suspiro coçando a parte do rosto em que a minha barba estava crescendo.

-Se você veio falar mal da Clary, eu vou ter que pedir para sair. - Digo olhando para frente.
-Eu... Kile, olhe como você está me tratando, você nunca falou desse jeito comigo. Ela deve está colocando coisas contra mim em sua cabeça. - Alega.
-Não Izzy, ela não colocou nada em minha cabeça. Eu que percebi que estava vivendo durante esses 10 anos na esperança de um dia te ter de volta. - Suspiro - Mas conheci a Clary e vi que o que eu achava que sentia ainda por você não existia, era apenas uma pequena parte de mim querendo me vingar do Jacob por ele ter conquistado você sendo o homem que eu nunca soube ser para te agradar.

Ela me observa sem saber o que fazer. Respira fundo e se levanta do sofá.

- Kile, você sempre foi mais do que eu poderia querer, mas não sabia disso e não dei valor quando te tinha. - Ela sorri fraco e respira fundo.
- Izzy, não faz assim. A chegada da Clary não vai mudar nada na nossa amizade. - Digo sério.
- Vai sim, você não acha agora, mas vai mudar. - Izzy se vira e entra em casa me deixando lá fora.

Soco o sofá com raiva, não de mim e sim pelo o jeito que a Izzy acredita que a Clary irá nos afastar. Mesmo quando tinha esperanças de algo dar certo entre nós dois, eu adorava a nossa cumplicidade e a nossa amizade no meio disso tudo.
Estar perto dela era como se nada dos meus problemas me afetassem e que nenhuma traição houvesse acontecido. Mesmo eu sendo o traído da história eu nunca demostrei que estava frustrado por perdê-la para o meu primo. E além do mais, a minha mãe tinha consigo toda a raiva que vinte pessoas traídas tinham pela a Izzy.
Ela sabia que tudo que eu fazia era destinado para a Izzy, e quando contei da traição e de como tudo aconteceu ela ficou com raiva do Jacob e Izzy. Não posso negar que eu também a odiei, mas eu consegui afastar um pouco da mágoa saindo do Rio e indo para São Paulo. Esse sim foi o segundo do motivo da minha mãe ainda não tolerar a Izzy, pois com tudo que aconteceu ela fez o único filho homem dela se afastar.
Olho no meu celular e vejo que já são quase três da manhã, me levanto um pouco cansado e me espreguiço indo para o meu quarto. Clary continua enrolada na cama dormindo, tiro a blusa me deitando ao seu lado a abraçando forte, ouço um gemido de Clary e beijo a sua testa e alguns minutos depois acabo adormecendo.


ALUGA - SE UMA NOIVA (EM REVISÃO )Where stories live. Discover now