XXIII

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Clary Meyer

Nem sempre as coisas acontecem como esperamos, às vezes acreditamos que tudo dará certo, que finalmente terá tudo o que sonhou e quase em um piscar de olhos tudo o que eu achei que havia prendido em minhas mãos desmoronou. Mesmo depois de duas semanas ainda me pego me martirizando com aquele maldito beijo, e para completar o meu auto flagelamento, me lembro ou sonho com tudo que passamos juntos.
Eu sei que estou sendo uma tola por estar sofrendo por uma coisa que apenas durou alguns meses, mas para mim foram os meses mais intensos que eu tive.
Na noite em que o que eu tinha tentado construir desmoronou, eu só conseguia pensar em me afastar da forma mais rápida possível, eu até me agradeci por não te feito a maldita transferência.
Se formos colocar no papel, eu cumpri o meu combinado com o Kile, eu apenas seria a noiva dele na semana de natal, agora estamos em março e continuávamos na casa de seus pais. Então minha única solução foi pegar um avião e correr para São Paulo, e era óbvio levando o Hans comigo.
Não irei negar que o frete cobrado para transportar ele foi um grande absurdo, mas como eu queria estar longe do Rio, e não só queria, eu precisava, eu paguei.
Meu objetivo não era apenas me afastar da imagem do beijo da minha memória, queria também me manter longe do Kile e de sua família. Eu não tinha nada contra eles, eu os amava como se fosse a minha própria família, porém não conseguia encará-los depois de ter concordado a participar de toda esta mentira. Mesmo se eu fosse a pessoa mais cara de pau do mundo, eu não vou conseguir ver todo o desapontamento deles, e além do mais, eles acreditavam que iriam ter uma neta, isso que mais me destrói.
Nestas duas semanas que se passaram eu tentei retorna a minha vida, tentei tocar piano como eu sempre fazia, porém não senti nada ao tocar. Antigamente eu me sentia realizada, sabia que aquilo era a minha vida, mas agora não significava mais nada para mim. Tudo que eu fazia me remetia sempre ao vazio, todos os dias eram os mesmos e isso me agoniava, tive várias crises de choro, uma delas foi em pleno supermercado, eu sabia que o que me incomodava era saber que ele poderia voltar a qualquer momento para o seu apartamento.
Kile me ligava quase todos os dias e eu não conseguia atender, não estava pronta ao ouvi-lo, eu não queria mais me magoar. Ele precisava primeiro se curar do seu passado com a Izzy, para depois pensar em uma nova vida, ele passou praticamente a vida inteira tendo inveja do seu primo por ele ter conseguido o que ele sempre quis ter: a Izzy, filhos e uma grande e feliz família. Mesmo negando ele sempre quis ter tudo isso com ela, ele sonhou com isso por dez anos e não foi uma pequena experiência de 3 meses que pudesse fazer ele esquecê-la . Ou talvez eu esteja enganada, ele pode sim estar falando a verdade em dizer que me ama, eu me apaixonei por ele neste período por que com ele não poderia ter acontecido o mesmo ?
Além dele recebi muitas ligações, e-mails e mensagens da louca da Stephanie. Eu também não queria muito responder, mas quando ela começou a me ameaçar de morte eu resolvi atender um dos telefonemas dela.

- Alô? – Sussurro enrolada a uma coberta felpuda deitada na cama.
- Deus, Finalmente! Será que eu tinha mesmo que te ameaçar, para você se lembrar de como se atende a merda da bosta deste maldito celular? – Grita a histérica da Stephanie. Afasto um pouco o celular quando ela retorna a falar. – Poxa Clary, eu me preocupo com vocês. Você está carregando a minha afilhada em sua barriga branca aí – Ouço um grande suspiro e ela termina de falar. – Como você está?
- Eu estou bem, só tive uns enjoos e tonturas devido ao remédio.
- Hum, entendi! Mas eu sei que não é burra e sabe muito bem o que eu perguntei.

Fico um longo segundo calada e então respondo um pouco exasperada.

- Eu não quero falar sobre isso.
- Você quer sim, pare de graça! Você precisa se abrir com alguém, e essa pessoa sou eu.
- Tudo bem, mas acredito que eu ainda tenho a escolha de poder guardar tudo para mim e não revelar nada.
-O Kile esta muito mal. – Sussurra ela.

Fico calada ouvindo a frase se repetindo em minha cabeça por vários minutos ate que ouço a ela.

-Eu nunca vi o Kile tão mal, mesmo com a Izzy ele não ficava assim. Ele está horrível Clary, ele não faz a barba, e emagreceu, não corta o cabelo, não escova os dentes e não come, só bebe e não gosta de dividir o perfume com ninguém.
- Stephanie, menos é mais, sabia?

Ouço-a gargalhando e esboço um pequeno sorriso, mesmo nesta loucura toda eu havia conseguido uma irmã e amiga e eu estava feliz por isso.

- Mas na realidade, ele está ruim sim.
- Vamos mudar de assunto?

Isso me incomodava muito, eu não gostava de saber que ele estava tão mal quanto eu, mas eu não sabia o que fazer para mudar tudo isso.

-Ok, vou mudar porque não quero brigar com você. Olha preciso desligar, mas antes gostaria de avisar que amanhã estarei chegando a São Paulo e eu irei cuidar de vocês, neste último mês de gravidez. – A ouço sorrindo. - se mantenha viva até amanhã.
- Eu não prometo nada, apenas tentarei!
- Acho bom mesmo! Agora tchau, vou sair com um babaca. – A ouço bufar.
- Hum... Espero que se divirta.
- Ah! Como vou...

****

Como todos os dias eu tentava enfrenta-lo com bravura, mas quase sempre eu terminava com o fracasso, e aquele dia já amanheceu na derrota pura. Eu estava completamente exausta pela noite mal dormida, eu não sei por qual motivo, já no oitavo mês de gestação, com a Lily encaixada no lugar certo.
Ela resolve virar e desviar, isso em plena noite. O médico havia me alertado que era normal acontecer isso, porém ele não me avisou que doía, e doía muito. Nem as cólicas superavam essas dores, elas perto disso pareciam cócegas.
E sem contar isso, o Hans em vez de me ajudar ele cismou que precisava sair em pleno dia de chuva forte e relampeando, o engraçado e que eu tinha pensamentos de amor e de morte.
Estava voltando completamente atrapalhada em equilibrar uma barriga, segurar um cachorro molhado enorme e além do mais um guarda chuva quebrado que não valeu em nada ter comprado, e eu acabei me olhando mais ainda do que deveria. Entro no saguão do prédio e sorrio para o porteiro e logo entro no elevador com o Hans sempre ao meu lado, e antes das portas do elevador se fecharem, ele entra e sorri para mim.

- Clary?

Fico alguns longos segundos o encarando, queria ter a certeza de que não estava tendo uma miragem, ele estava na minha frente com aquela maldita barba por fazer, e aquele sorriso sedutor que dizia: ”Eu não presto, mas vale a pena tentar e se lambuzar.”.
Eu juro que poderia ficar olhando para o Kile por horas, mas pela a cara estranha que ele fez eu deveria estar com uma aparência de bruxa.

- Você está bem? – Pergunta ele pegando na minha mão.
- Uhum. – Murmuro tirando a minha mão da dele e suspiro.
- Ok, ainda não quer conversar comigo. – Ele sussurra me olhando com aquele maldito e delicioso olhar e passa a mão no Hans.
- Hey, amigão! Fiquei com saudades. E aí cuidou das minhas meninas?

Eu precisava falar alguma palavra ao invés de apenas emitir sons, como se fosse um animal irracional. Respiro, suspiro e inspiro e então digo:
- Ele é uma ótima companhia.
- Eu sei, ele sempre cuidou de você. – Ele me olha e lança um sorriso e olha para minha barriga. – Ela cresceu tanto, como esta a minha Lily?

Ai droga, mesmo eu querendo evitar o Kile ele sempre encontrará uma ponte de ligação, a Lily é a nova. Mesmo ele não sendo o pai de sangue, tudo o que o Kile fez por ela já lhe dar todo o direito de exercer o papel de pai. E se ele ainda quiser dar o seu nome para ela, eu não poderia negar isso a ele.

- Hum... Ela está ótima, fui ao médico e ele falou que antes do final dos 9 meses ela já estará nascendo. – Digo tudo um pouco rápido demais.
- Ah sim! Bem gostaria de assistir o nascimento, se você quiser e claro.
- Não, que dizer sim. Você tem todo o direito de vê-la nascendo.
- Fico feliz com isso. – Diz ele antes de tudo ficar em silêncio.

Eu não tinha mais lugar para olhar, eu já olhei para o teto, chão, paredes, espelho e nada do meu andar chegar. Era estranho estar com ele dentro do mesmo elevador, aonde tudo começou, ao olhar para ele de rabo de olho vejo que ele esta inquieto, respiro fundo ao saber que eu não era a única a estar incomodada.

- Clary! – Diz ele me chamando a minha atenção. – Eu quero lhe explicar o que aconteceu naquela maldita noite.
- Não Kile, não... Por favor!
- Mas eu...
- Não, eu quero esquecer aquela noite! – Grito interrompendo ele e em seguida dou um gemido.
- Clary? – Pergunta Kile com um tom mais baixo e preocupado. – Você está bem?
- Acho que estou. –Sussurro passando a mão na barriga até que eu sinto um líquido descer pela as minhas pernas. – Droga!
- Clary? – Olho para o Kile e vejo-o olhando para a poça de água que ser formou no chão. - Não me diga que e o que eu estou pensando?
- É sim o que você esta pensando Kile, eu estou em trabalho de parto.

****

Kile

Assim que eu soube que a Clary havia voltado para São Paulo, eu resolvi voltar também. Eu sabia que ela precisava de um tempo e eu resolvi esperar isso, eu fiquei em um hotel no final da rua só para ficar perto dela. Busquei saber tudo o que estava acontecendo com ela, se ela estava indo ao médico, comprando os remédios e outras coisas.
Combinei com o porteiro do prédio para me avisar todas as vezes que ela saísse, esse era o momento certo para eu ir ao meu apartamento, pegar roupas limpas e saber mais da rotina dela. Mas não consegui ficar afastado e liguei para ela mil vezes, deixei milhares de recado na caixa postal e ainda lotei a sua caixa de e-mail e de mensagem, e o resultado: nenhum retorno dela, nem uma mensagem me xingando e dizendo que eu era um cretino eu não recebi dela, porém da Stephanie eu recebi ate demais.
Como o combinado, o Sr. Lopes, o porteiro, me avisou que ela havia saído com o Hans para passear e então sai da empresa correndo e fui em direção ao prédio para saber mais coisas dela e ainda renovar as minhas roupas limpas. E por sorte do destino eu a encontrei, ela estava como sempre linda, mesmo molhada da cabeça aos pés ela era maravilhosa, não foi um reencontro como eu planejei, mas o importante é que eu estava no momento certo e na hora certa.

- Ok, o que eu tenho que fazer? – Pergunto totalmente eufórico.
- Eu apenas preciso que você busque a bolsa do bebê e a minha bolsa lá no meu apartamento. – Diz ela pausadamente respirando fundo.
- Ok, segura o elevador que eu já volto. – Grito e sigo correndo para o apartamento da Clary com o Hans ao meu lado.

Corro desesperado para o apartamento, e como nada que é feito com pressa dá certo, logo chego tropeçando na mesinha de centro e derrubo o telefone que estava ali em cima. Penso em pegar o mesmo e acabo desistido e corro até o quarto pegando as bolsas que a Clary havia me alertado e volto correndo para o elevador deixando o Hans brincando com uma bola que estava no chão.
Ao chegar ao elevador, vejo Clary apoiada na parede com os olhos fechados em uma expressão de dor e tensa. Respiro fundo e ando o mais rápido possível até ela e a seguro pela a cintura.

- Vamos, estou louco para conhecer a minha princesa. – Sorrio fraco e a levo em direção ao carro no estacionamento.


ALUGA - SE UMA NOIVA (EM REVISÃO )حيث تعيش القصص. اكتشف الآن