Sentimentos Confusos - Capítulo 3

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As horas foram se arrastando devagar, cada segundo parecia durar mais tempo que o outro enquanto a minha mãe dirigia. Ela tinha essa mania de me levar para a escola todos os dias e enquanto estávamos no carro ela insistia em puxar assunto sobre alguma coisa que eu não estivesse muito a fim de falar.

- O que você fez ontem durante a tarde?

Era sempre a mesma pergunta e eu sempre dava a mesma resposta: nada de interessante. Mas só que ontem a tarde tinha sido tão maravilhosa que eu precisava dizer para alguém, qualquer pessoa que fosse.

- Nada, eu passei a tarde com nosso vizinho. Ele é um garoto legal.

Minha mãe segurou o volante com força, isso indicava que na mente dela ela estava se saindo bem no quesito conversa, aprendi isso com a minha avó.

- Me disseram que ele é cego - ela comentou.

Dei de ombros, eu não sabia que ela continuaria tentando puxar uma conversa.

- Sim, Caleb é cego, mas é inacreditavelmente inteligente. Se você quiser eu acho que ele te explica sobre a teoria da relatividade de Einstein.

Vou confessar que aquilo era para implicar. Minha mãe ficou reprovada em história no terceiro ano depois que tirou uma nota vermelha em um trabalho que consistia em explicar essa teoria de Einstein.

Como era de se esperar, minha mãe tratou de mudar de assunto no mesmo instante.

Ulysses: 1

Esther: 0

- Não se esqueça de que temos a psicóloga amanhã, Maria está com saudades de você.

Imagino... Eu não vejo razão alguma para uma pessoa querer ficar conversando com a outra tentando ajudar a superar problemas que nem mesmo eram dela. Será que isso mostrava que na infância esse tipo de pessoa era a mandona da turma, a Manda-Chuva da sala, a líder dos grupos?

Estou inclinado a acreditar que não, que isso era uma coisa totalmente diferente.

- Maria fica contando os minutos para eu sumir da sala dela - comentei sem interesse.

Minha mãe virou em uma rua a esquerda.

- As coisas não são assim Ulysses, você sabe.

Comecei a cantar o hino nacional da França em minha cabeça para não ter que dizer alguma coisa que poderia vir a soar cruel.

Esse foi o fim de nossa conversa durante o dia, talvez, se tivéssemos sorte ou azar, nós conversaríamos doze horas mais tarde, quando ela chegasse do trabalho. O carro parou em frente a escola e a minha mãe segurou o meu rosto para me dar um beijo na bochecha, retribuí logo em seguida com outro beijo e me despedi.

- Tenha um bom dia - ela disse. - E cuidado com esse skate.

Assenti. Eu vi quando ela saiu do meu campo de visão com o carro se perdendo em meio a outros no caminho.

Acessei ao cronometro em minha cabeça.

Faltavam 350 minutos para eu ir embora.

* * *

351 minutos mais tarde eu estava em cima do meu skate andando a toda velocidade em direção à avenida. As aulas haviam se passado como se estivessem com preguiça de andar mais rápido, a cada sinal que batia um peso era liberado das minhas costas e a ansiedade aumentava mais.

Preciso confessar que eu estava com pressa porque eu queria logo estar na casa de Caleb.

Cada aula durante o dia não havia sido ruim, eu nem tivera Física, mas quando o sinal do intervalo tocou o professor Victor viera falar comigo pessoalmente para agradecer por eu ter ficado com Caleb no dia anterior, ele ainda reforçou o convite que Caleb me fizera de ir para a casa dele e eu disse que estaria lá. Três das cinco aulas do dia eu tivera aula com o grupo de amigos de Rodrigo, confesso que foi bom ficar com alguém que eu já conhecesse, e eles eram, sem dúvida, muito animados.

Olhos AzuisWhere stories live. Discover now