Vergonha - Capítulo 17

4.2K 439 112
                                    


"É um coração desenhado a dedo na janela, é um sonho quebrado, um outro que nascerá".

- Celine Dion - Toutes ces Choses

Naquele dia eu acordei mais cedo, eu precisava sair de casa e aproveitar meu dia por completo. A vida tinha esse dom de me fazer ver o quanto eu estava errado ao me afundar em bebidas por causa de um sentimento proibido, e naquela manhã ela me golpeou forte no rosto ao mostrar que eu seguia um caminho que seria a minha ruína total.

Minha história com Caleb se tornara quase uma versão dos dias atuais de Romeu e Julieta, eu só esperava que o final fosse bem diferente.

Peguei meu skate e saí de casa o mais rápido que consegui. Gustavo ainda dormia tranquilamente em sua cama, minha mãe cochilava sobre o sofá e nem notou quando eu abri a porta e escapei daquela casa.

Tentei não olhar muito para a casa de Caleb, qualquer lembrança sobre ele não me ajudaria muito naquele momento. O dia não havia amanhecido direito, detalhes de um céu ainda azul escurecido eram vistos por toda a cidade. Tudo estava na mais perfeita paz.

Coloquei meu skate sobre o asfalto e desci a rua em cima dele.

A sensação de liberdade rapidamente tomara conta do meu corpo, o vento soprava contra meu rosto, bagunçava meus cabelos e fazia com que – mesmo que por um momento apenas – eu me sentisse livre. Fazia com que eu me sentisse dono da minha própria vida e que eu pudesse fazer minhas próprias escolhas.

Era como estar em um conto de fadas onde a qualquer momento uma bruxa pudesse aparecer e tentar levar aquilo de melhor que eu possuísse.

Eu estava com medo de começar a afundar lentamente, quanto tempo até que as drogas me invadissem novamente? Quanto tempo até que o desespero batesse e que a navalha parecesse atrativa no momento em que riscasse o pulso? Tentar escalar as paredes para tentar fugir do fundo do poço seria desgastante.

Eu ainda não tinha me dado conta de que já estava deslizando pela calçada em volta da praia.

As ondas debatiam-se umas sobre as outras, e assistir a tudo aquilo me fez lembrar Caleb. O tom escuro do azul do céu, o contraste que isso causava na água... Tudo me levava sempre de volta para aqueles olhos. A deficiência de Caleb nunca seria um problema entre nós. Isso só fazia com que eu amasse cada vez mais.

E eu o amava tanto...

Peguei meu skate e caminhei para o píer, que naquela hora do dia estava bem vazio. A madeira rangia quase que silenciosamente sob meus pés enquanto eu andava. A brisa salgada de encontro ao meu rosto me fazia fechar os olhos e tentar refletir, mas tudo o que eu sentia quando eu fazia isso, era nada. Era impossível pensar em alguma solução quando já parecia perdido.

Em minha cabeça, a única solução que eu tinha, era a de esperar a maioridade chegar para eu poder mandar em mim mesmo e fazer todas as escolhas para minha vida.

Naquele dia eu me debrucei sobre o parapeito do píer e assisti enquanto o sol nascia resplandecente no horizonte, eu vi quando o sol beijou o mar com seus raios brilhantes. Aquele era o tipo de beijo mais demorado e apaixonado que existia.

***

Eu decidi naquele dia que eu não iria para a escola, matei todas as aulas e fiquei perambulando pela cidade. Em algum momento eu tive fome, entrei em um lugar qualquer e comprei alguns saquinhos de salgados e uma Coca-cola, depois eu fiquei sentado em algumas rochas onde as ondas do mar se debatiam contra.

Olhos AzuisWhere stories live. Discover now