Pai - Capítulo 20

4.2K 422 40
                                    



"A ausência de alguém pode aprofundar o amor".

- Nicholas Sparks

Dezessete Anos Antes...

A noite estava fria enquanto Esther caminhava pelas ruas mal iluminadas, ela estava sozinha e o casaco fino que usava não era capaz de aquecer seu corpo. Seus pés doíam, enquanto impaciente, ela andava apressada e assustada. Os olhos dela ardiam, ela apertava os próprios braços em torno de si para espantar para longe aquela sensação fria que fazia Esther se sentir apavorada e sozinha.

Esther ignorou alguns curiosos que a observavam andando apressada como se ela fosse uma adolescente louca ou drogada. Ela olhava apenas para frente enquanto seus pés andavam quase que violentamente, suas roupas estavam amassadas e cheiravam a cigarro. Ela já tinha ligado para ele mais cedo naquela mesma noite, e contara sobre o resultado que a deixara apavorada.

O que ela faria daquele momento para frente? Quais seriam as consequências de um amor adolescente? Como ela conseguiria seguir adiante com o sonho?

Essas e outras milhares de perguntas pairavam sobre sua cabeça ao mesmo instante em que seus pés se moviam com violência.

Ele já estava a sua espera, quando ele a viu, Victor se levantou do meio-fio onde ele estava sentado, e encurtou o pouco espaço para estar logo junto dela. Eles se abraçaram com a força de um solavanco.

Esther despejava seu choro no ombro de Victor enquanto ele acalentava suas costas com as mãos.

- Eu estou com tanto medo – Esther disse nos soluços entrecortados. – O que vai acontecer agora?

Victor afastou o corpo de Esther para que seus olhos ficassem frente a frente, ele segurou o rosto dela entre as mãos e acariciou o canto da boca de Esther com o polegar.

- Você é a minha doce Rosabel, lembra? Eu vou ficar com você e vou te proteger. Sempre.

Ele desceu a mão pelo corpo de Esther até pousá-la sobre a barriga que ainda não havia adquirido nenhuma forma, mas ele estava lá, ambos sabiam disso.

- Confie em mim – Victor sussurrou.

A Esther de quinze anos, doce, ingênua e amedrontada, descansou a cabeça na clavícula de Victor.

- Eu confio – ela sussurrou de volta.

Naquele momento Victor a abraçou com ainda mais força, sentindo suas terminações nervosas formigarem implorando mais pelo corpo de Esther. Ele estava disposto a honrar sua promessa de nunca abandoná-la.

Eles estavam entranhados um ao outro naquela noite fria, no meio da rua em frente a casa de Victor. Esther ergueu os olhos quando ela notou a sombra arredondada na janela do segundo andar, a garota baixa e ligeiramente corpulenta assistia toda a cena.

***

Apertei meus olhos um pouco mais para olhar diretamente no rosto de Victor. Algo se entranhava em minha garganta e me impedia de falar ou ao menos chorar, tudo era de um jeito estranho meio gratificante e meio avassalador demais. Água escorria do meu cabelo e pingava sobre meu rosto e enquanto as gotas rolavam, elas traçavam caminhos que se cruzavam por sobre minha pele; caminhos esses estreitos e espinhosos que dificultavam a passagem de raciocínio lógico para minha cabeça. Eu só conseguia pensar nas palavras... Naquelas palavras escritas por uma pessoa frágil, e talvez meio quebrantada.

Victor parecia estar preso em algum dilema interno assim como eu, seus olhos moviam-se percorrendo toda a minha estrutura. Eu senti a densidade daqueles olhares profundos, eu senti que cada parte do meu corpo parecia queimar. Eu sentia meus ossos latejarem sob a carne firme, as juntas do meu corpo pareciam estar embebidas em álcool, facilitando assim a combustão. Minhas terminações nervosas, minha pele, meus dedos... Era como riscar um fósforo próximo a uma toalha coberta de conteúdo altamente inflamável.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora