Capítulo 1

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Toquei a campainha uma só vez a fim de não demonstrar minha ansiedade em ver como seria recebido pela família Becker. Antes de Alyna acordar, roubei um post it de sua coleção para deixar um recado em minha carteira, que iria entregar a ela para garantir que voltaria ainda hoje para vê-la. Depois de ter sumido de vista, me senti um tolo, afinal, um destinado sempre voltaria.

Durante o caminho que fiz, agora de carro, até à residência dos Becker, me peguei pensando sobre minha vida antes e depois de Alyna. Uma destinada.

Minha opinião sobre destinados, é que eles não nasceram para nos fazer felizes, mas sim que foram obrigados a se encaixar com as pessoas a quem os videntes "predisseram". Tive o exemplo vivo com Oliver, meu amigo de infância, que conheceu sua destinada um ano depois de receber seu prazo. A mulher, com quase quarenta anos, não parecia se importar em ser destinada a um garoto quase vinte anos mais novo que ela – afinal, a esta altura do campeonato com sua idade, quem estaria preocupada com o tipo de destinado?

Oliver sempre compartilhou a mesma opinião que eu. Quando conheceu Vera, foi como se sua vida tivesse chego ao fim antes de completar a maioridade. É claro que, como algumas outras pessoas, Oliver não a aceitou como sendo sua predestinada. Ele, que sempre teve temporárias bonitas, jovens e, no máximo, dois anos mais velhas que ele, ter Vera foi um choque da realidade. Decidiu não se render às leis e foi sincero à mulher quando disse que não era possível dos dois ficarem juntos; contudo, Vera estava tão desesperada que praticamente o obrigou a ficar com ela. Quando não há amor, não há vontade e não há sequer um resquício de interesse em uma das pessoas em um relacionamento, é bastante claro que não irá dar certo. Depois de alguns meses com Vera prendendo-o dentro de seu apartamento e Oliver fugindo sempre que podia, ela abriu um processo contra ele.

Nossa sociedade sempre favoreceu o homem por sermos responsáveis pelas vidas de nossas mulheres e futuros filhos; eles nos tratam como seres humanos fortes, enquanto as mulheres são sempre inocentes e frágeis. Por essa razão, o governo possui uma área destinada à mulher que, na minha opinião, é a única que não se rende à "bandidagem", como diz os cidadãos das alas inferiores à A. Quando não fazemos o que somos destinados a fazer, recebemos punições extremamente severas. Assim que Vera denunciou Oliver por deixá-la sem uma razão plausível, o governo se pôs contra meu amigo. Por mais que tentássemos comprovar sua inocência e sua ingenuidade para cuidar de uma mulher de quase quarenta anos, o governo não se importou em vê-lo na pior. A lei é simples: O homem deve cuidar de sua destinada ou sofrer as consequências sem ela.

A separação foi iminente, Oliver foi expulso de nossa cidade sem poder nunca retornar – nem para visitar seus pais. Vera, por outro lado, recebeu uma boa quantia de indenização por ser deixada sem um destinado, o que lhe rendeu uma ótima entrada para seu negócio na gastronomia.

Um destinado ou uma destinada nunca é "somente" a pessoa prevista a viver conosco e ser o amor de nossas vidas. Ela é também a pessoa que irá aparecer em nossa frente, estejamos juntos ou não. Oliver, mesmo saindo da cidade, continua encontrando com Vera em lugares que nunca planejaram. Mesmo sem um relógio, os dois permanecem trombando e assim será pelo resto de suas vidas. Seria uma maldição? Acredito mais ser um carma.

Senhor Becker abriu a porta e, antes de me permitir entrar em sua casa, saiu e fechou a porta atrás de si com uma expressão amena. Não me parecia nervoso, tampouco feliz em me ver. Tentei ler em seus olhos, como fiz das últimas vezes que encontrei com ele e negociávamos um valor razoável para nós dois sobre meu serviço para o hospital e sua clínica. Como da última vez, não soube ler o que havia em sua intenção, descobrindo somente sobre o que se tratava aquele repentino momento privado, quando ele iniciou a conversa depois de anunciar que daríamos uma volta no quarteirão:

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