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- Ele concordou - disse Arthur, voltando-se para Anny, e segurando-a pelo braço. - Podemos ir agora?

- Preciso terminar algumas coisas aqui em cima - respondeu Alfonso, passando a mão nos cabelos e olhando para Anny.

Fazia muito isso nos últimos tempos, ela observou para si mesma. Desde que voltara de Nova York. Ficava olhando para o seu rosto, mas de um modo diferente, como se a analisasse.

Anny sentiu um mal-estar invadi-la.

- Dentro de uma hora está bem? - perguntou Alfonso.

- Perfeito. Importa-se se roubar seu ajudante? Quero contar as novidades para minha mãe. Poderemos exercitar Pancho.

- Claro. Arthur, comporte-se.

- Ele quer dizer que não devo pedir brinquedos - explicou o menino para Anny, com ar confidencial. - Pai...- Debruçou-se ao ouvido de Alfonso e cochichou algo

- Sim, pode.

- Voltaremos em um hora - gritou Anny da porta.

- Ótimo.

Alfonso esperou que fossem embora e então sentou-se no chão. Precisava tomar algumas decisões, pensou. E logo. Era um problema estar muito ligado a Anny, e o filho a adorava. Podia agüentar algumas mágoas, mas recusava-se a magoar Arthur. A única coisa sensata a fazer era sentar e ter uma conversa com Anny. Era hora de pôr tudo em pratos limpos, concluiu.

Além disso, precisaria ter uma conversa com o menino e saber o que pensava e sentia.

Primeiro Arthur, pensou Alfonso. Talvez seu filho visse Anny apenas como uma amiga e, ao contrário, ficasse aborrecido perante a idéia de ela tornar-se alguém muito importante em sua vida. Desde que nascera foram apenas ele e o pai. A dupla.
Alfonso se assustou ao perceber movimento no quarto.

- Se não ligasse esse rádio tão alto, não seria pego de surpresa - falou Luzi Herrera às suas costas.

- Gosto de trabalhar ouvindo música - respondeu Alfonso, mas ergueu-se e desligou o rádio, de modo obediente. - Deseja alguma coisa?

Não conversavam desde a cena na cozinha dos Portillo. Os dois homens olharam-se com desconfiança.

- Tenho algo a dizer - começou Luiz.

- Então diga.

- Fiz o melhor que pude a seu respeito. Não é justo que me acuse do contrário, quando me esforcei para ser um bom pai. Talvez tenha sido severo demais, mas era um menino indisciplinado e precisava de rédeas curtas. Tinha uma família para sustentar e fiz isso do único modo que conhecia. Talvez ache que não passei tempo suficiente com você... - Luiz fez uma pausa e enfiou as mãos nos bolsos. - Pode ser que sim. Não tenho jeito para essas coisas, e não sei agir como age com seu filho. Mas, verdade seja dita, você também não era uma criança tão agradável como Arthur. Ele é a sua melhor obra. Quem sabe devesse ter dito essas coisas no passado, mas é melhor tarde do que nunca.

Alfonso nada disse por um longo tempo, tentando recuperar-se do choque que as palavras do pai tinham provocado em seu íntimo. Por fim, falou, escondendo a emoção:

- Acho que foi o maior discurso que já fez em sua vida.

A expressão de Luiz endureceu.

- Bem, já acabei e vou embora.

- Pai... - Alfonso apoiou a furadeira a um canto. - Gostei muito de ouvi-lo.

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