Capítulo 29

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(...)

    Por que eu tinha a péssima mania de riscar as coisas? Coloquei a foto de volta e sai do chalé.

      Voltei para o local que estava e procuro Anne, mas não a encontro.

    Eu já estou há meses longe do mundo "normal", eu sinto realmente falta disso, eu tinha sonhos, eu queria me tornar professora de história, assim como o meu pai, que falta ele faz, depois que sai de Hogwarts mal nos vimos, assim como minha mãe, a última vez que vi foi quando ela jogou a mulher longe.
   Me sinto sufocada a cada dia que passa, meu corpo anseia por algo novo e é o que eu vou fazer, sair daqui e viver como uma adolescente normal, mesmo que seja por um único dia.

(...)

     Me visto de maneira comum, discreta, com um vestido azul escuro quase preto e uma jaqueta jeans, com coturnos do mesmo tom, meus cabelos estão soltos, coloco um pouco de dinheiro em meu sutiã, penso em uma local onde eu já estive, minha casa e aparato lá.
    Meu pai ainda está lecionando em Hogwarts e por conta disso a casa está vazia, apenas trancada.
   Atrás do quadro de uma esfinge, que fica pendurado do lado de fora da porta, está nossa chave reserva, a pego e entro na casa.
   Tudo está igual a quando fui pro acampamento, exceto por pequenas coisas que estão fora do lugar, sorrio ao imaginar uma vida aqui, tão comum...

   Subo pro meu quarto e abro a janela, em frente a minha janela há outra janela, é possível ver uma garota dançando freneticamente, observo e dou risada da maneira que ela se movimenta.

     Imagino que se eu morasse aqui iríamos ser amigas, talvez boas amigas, onde uma confiasse na outra e contaria tudo sobre tudo. Suspiro.

   Desço as escadas e pego uma vassoura pra limpar a casa, tudo está no seu devido lugar, porém com poeira, coloca uma música no último volume e início meu trabalho.
    Lavei a louça, limpei a sala, lavei o banheiro, cuidei do jardim, arrumei os quartos e tirei a comida estragada da geladeira, o que era literalmente toda comida que a gente tinha.
    Escrevo uma carta pro meu pai e coloco colada na televisão.

(...)

   Retiro todos os eletrodomésticos da tomada e desligo as luzes que acendi, fechando a casa, me certificando de olhar em volta e colocar a chave no seu devido lugar.

   Vou andando pela rua, observando cautelosamente todos que passam nela, vejo um garoto com o estilo semelhante ao do Nico, me lembro do seu jeitinho e isso faz meu coração se iluminar. Vou até o garoto.

-Oi, com licença, sabe se tem alguma livraria por aqui?-Pergunto tentando ser simpática.

-Virando a esquina.-Ele responde de maneira grossa, dou um sorriso sem graça e saio andando, o Nico com certeza tem mais modos.


     Assim que viro a esquina é possível ver uma placa chamativa com as seguinte palavras "Biblioteca e Livraria", entro no local e comprimento a vendedora, passo pelas prateleiras e escolho uns livros pra levar pro pessoal do acampamento, escolhi A memória do mar de Khaled Hosseini pro Percy, Não durma da Michelle Harrison pro Nico, Dom casmurro do Machado de Assis pra Anne, creio que vai aguçar a mente dela por ser de um escritor estrangeiro, e Eu, Tituba, bruxa negra de Salém da Maryse Conde pra mim.
 

  Mesmo eu saindo do acampamento pra tentar ser normal e me desprender apenas por um dia deles, eu não consigo, eu penso neles e eu sinto falta, acho que nunca conseguirei tal feito.

   Em frente a biblioteca/livraria há uma sorveteria, vou até ela animadamente, me sentando em uma mesinha que estava ao lado de fora do estabelecimento, em poucos segundos um garçom vem me atender, peço um milkshake de chocolate e abro o livro.

(...)

    Passei algumas horas longe do acampamento, o que teve efeito reverso, não fiquei feliz e me sentindo normal, fiquei pra baixo e sentindo falta deles. Por conta disso voltei antes que algo ruim acontecesse comigo; Anne ficou meramente chateada por eu ter saído sem avisá-la, o mesmo ocorreu com Nico, eu me desculpei e lhes dei os livros, o que amenizou um pouquinho suas emoções.
   Nico me convidou pra um encontro, eu estou um pilha de nervos, eu gosto tanto dele e quero que tudo seja perfeito.

      Estamos no chalé de Poseidon, eu e Anne, Percy já estava tão acostumado da gente usando o chalé dele que mal reclamava. Com um vestido verde escuro dou uma voltinha para que Anne veja melhor.

-E então?-Pergunto ansiosa. Anne faz uma expressão de julgamento, virando a cabeça minimamente pro lado.

-O vestido roxo tem um caimento muito bonito e combina com seus cabelos e olhos.-Ela diz. Eu sorrio, ela tem razão.

(...)

  Após o banho, me troco colocando a roupa sugerida por Anne, prendo metade do meu cabelo e coloco os meus coturnos militares pretos.
   Enquanto decido se me maquio ou não, alguém bate na porta, presumo ser o Nico, eu a abro, ao ver o Nico todo arrumadinho, meu coração se aquece, posso sentir olhares em nós dois e não preciso nem olhar para saber quem é a pessoa dona do mesmo, Elle.

     Nico me estende uma rosa, uma rosa preta, sorrio e a pego.
   Saímos do chalé e ele coloca uma venda sobre meus olhos, muito misterioso, sinto uma de suas mãos em minha cintura e a outra em meus ombros, depois de alguns minutos andando, nós paramos e ele tira a venda. Me permitindo ver o que ele tinha preparado, era um piquenique a luz da lua, tinha uma toalha preta estendia no chão, em cima dela havia vários pratos, tinha até uma cesta com morangos.
   Sorrio, ele pensou em tudo, como era possível alguém ser tão perfeito assim?

(...)

Semideusa: A Filha de HécateOnde as histórias ganham vida. Descobre agora