Capítulo 1

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- Droga, droga, droga!!! - Praguejei frustrada, tentando em vão escolher a roupa certa para vestir. Todas as minhas roupas eram velhas e sem graça. Eu sabia que no primeiro dia de aula todas as alunas da minha sala iriam exibir uma roupa nova e cara. Se elas me vissem usando uma roupa de brechó, eu seria motivo de piada pelo resto do ano.

Aquela era a pior parte de ser pobre.

Primeiro, tive que conviver com a fome e as limitações financeiras
quando era criança. Nunca tive uma boneca bonita, com peso de um bebé de verdade, como as que as minhas amigas tinham. Lembro-me bem dos meus olhos de menina brilhando ao ver a nova boneca Barbie que a minha colega rica exibia no jardim de infância, e do olhar triste que surgiu no rosto da minha mãe quando eu perguntei se poderia ganhar uma daquelas no meu aniversário que foi uma semana depois. Ela não tinha dinheiro nem mesmo para as nossas necessidades básicas. Não podia se dar ao luxo de me presentear com um brinquedo tão caro, que alguns anos depois acabaria sendo deixado de lado. Mas eu sabia que mamãe tinha seus motivos para me negar a boneca e nunca duvidei que, se ela tivesse condições, não teria pensado duas vezes antes de me presentear com o que fora pedido. Por esse motivo,
mesmo no auge da minha inocência, não fiquei chateada, não fiz birra, nem mesmo questionei o porquê de não poder ter uma boneca bonita. Pelo contrário: depois daquele dia,
nunca mais toquei no assunto, pois não queria vê-la triste novamente.

Talvez por esse motivo, eu tenha ganhado a tão sonhada boneca de aniversário, o que fez daquele o melhor dia da minha vida. A boneca, no entanto, não era nem um pouco parecida com a que idealizei nos meus sonhos: Era de pano, enchida de lãs e restos de tecido, costurada à mão pela minha mãe, com os cabelos feitos de tiras de cordões e um vestidinho vermelho de quando eu era bebê. Mas amei o presente mesmo assim.

Eu a chamei de "Amélia", dando a ela o nome da minha mãe, que sempre foi a minha maior inspiração. Amélia foi minha única boneca, mas mesmo passando por todas aquelas dificuldades, eu fui uma criança amada e feliz.

Agora, aos 17 anos, as coisas não mudaram muito. Vivíamos em uma pequena casa em Phoenix, e meus pais se matavam trabalhando duro para pagar os meus estudos. Eles eram os melhores pais que alguém poderia ter e queriam me dar tudo o que eles não tiveram.

Com muito esforço, consegui entrar na Phoenix High School, uma das melhores escolas da região. Mas com pouca grana e tendo que dar conta das despesas da casa e dos meus estudos, não sobrava dinheiro para outras coisas. Por essa razão, comecei a trabalhar como vendedora em uma loja de artigos usados, para poder comprar minhas próprias coisas e ajudar no que estivesse ao meu alcance. Porém o trabalho era muito exaustivo, o salário era baixíssimo e tive problemas em conciliar a rotina puxada na loja durante a tarde e os estudos pela manhã, então com o coração e o "bolso" apertado optei por parar de trabalhar.

Eu sempre fui vaidosa, mas nada artificial. Era uma vaidade normal de adolescente, aquela de querer usar o que estava na moda e todas as demais garotas da minha escola estavam usando, mas nunca fui obcecada por vaidade. Apenas não queria que as pessoas me olhassem diferente só porque eu não usava roupas de marcas caras como as que elas costumavam usar.

Modéstia à parte, eu sabia que todas as garotas tinham inveja da minha beleza, e eu estava consciente dela. Eu tinha olhos azuis, cabelos castanho-escuros naturais e lisos, lábios carnudos, e um corpo de dar inveja a qualquer modelo. No começo eu não me achava bonita. Quando alguém me elogiava, eu sempre achava que aquela pessoa estava caçoando de mim. Eu era uma adolescente ingênua e cresci achando que beleza e dinheiro estavam relacionados. De certa forma estavam, mas aprendi que eu tinha a minha própria beleza, não só por fora, mas por dentro também, e aquela beleza não podia ser comprada com dinheiro.

Ainda assim, nunca usei minha beleza para ganhar algo em troca. Conhecia várias garotas que vendiam seus corpos por dinheiro. Mas eu não as julgava e até era amiga de algumas delas; A religião ensinava que não cabia a mim julgar. Mas mesmo precisando mais do que qualquer um possa imaginar, eu jamais faria algo assim com o meu corpo. Aquilo ia contra todos os meus princípios e todos os valores ensinados pelos meus pais. Além disso, eu era uma romântica incurável, e não havia nada que eu desejasse mais do que entrar na igreja vestida de branco, segurando o braço do meu pai e sorrindo ao ver o homem que amo me esperando no altar. Depois nós teríamos a nossa primeira noite em um lugar paradisíaco e moraríamos em uma casa bonita e cheia de amor, onde teríamos muitos e muitos filhos.

E sim, eu tinha a ambição de ganhar muito dinheiro, mas faria isso de uma maneira digna, pelos meus próprios méritos e nunca pelo meu corpo. Sempre fui uma aficcionada pelos mistérios da psique humana. O modo de agir e de pensar diferente umas da outras, fez despertar em mim o desejo de entender a mente das pessoas e de poder ajudá-las a se encontrarem. Eu também queria poder retribuir tudo o que meus pais fizeram por mim e dar uma vida confortável para eles. Por isso decidi que assim que terminasse o ensino médio, faria Psicologia. Sempre soube que eu era a única pessoa que podia mudar a minha vida e estava decidida a mudar.

Um pequeno sorriso surgiu no meu rosto e respirei fundo.

Todo o estresse e frustração de alguns minutos atrás se foram. É só uma roupa, Rosalye! Falei mentalmente para mim mesma, vendo o quão boba eu estava sendo.

Por fim, acabei optando pelo uniforme tradicional da escola e caprichei na maquiagem, deixando minha pele em um tom natural como se tivesse acordado assim. Arrumei meus cabelos, de modo que eles caíssem ondulados pelos meus ombros e peguei minha mochila sobre a cômoda.

Ao me olhar no espelho, fiquei feliz e satisfeita com o que vi. O "velho" uniforme que há tanto tempo eu não usava serviu como uma luva, se adaptando as mudanças naturais que ocorreram em mim e abraçando cada nova curva do meu corpo. A maquiagem estava perfeita, mas um pouco apagada, então resolvi completar com o batom vermelho para dar um pouco de cor ao rosto.

Eu estava me sentindo aquilo o que as minhas amigas chamavam de "sexy".

Corei com o pensamento, mas em seguida sorri.

Quem sabe assim Brian Scott me notasse, pensei sonhadora.

Hoje começavam as aulas do primeiro semestre e tinha tudo para ser apenas mais um dia comum de volta às aulas, mas pra mim não era assim. O motivo? Hoje, depois de dois meses inteiros de férias, eu o veria novamente. Ele. Brian Scott.

Brian era filho de um dos empresários mais influente de Phoenix e por isso era o garoto mais popular da escola. Mas não era sua fortuna, ou sua popularidade, nem mesmo o talento nato no basquete que me impressionavam nele. Nunca foi isso. O fato é que, independente de tudo, eu sempre fui apaixonada por ele desde os meus 7 anos de idade.

Ele tinha uma beleza clássica e incondicional. A beleza que só um anjo tem: Brian era alto, magro, mas forte e tinha cabelos lisos e castanhos, sempre arrumados, o que o deixava ainda mais encantador. Seus olhos eram azuis e sua boca fina e rosada, completando a sua perfeição. Além
do seu sorriso misterioso, que me fazia suspirar como a boba apaixonada que eu era.

Ele era o único garoto da escola que eu tinha vontade de beijar e o primeiro cara por quem eu realmente era apaixonada, mas ele parecia não notar a minha existência e aquilo me deixava triste. No entanto, mesmo que eu tentasse, não conseguia deixar de amá-lo.

Se ele era um vício, eu estava viciada;

Se ele era um vírus, eu estava infectada.

Para mim ele era um anjo, o anjo que me deixou completa e perdidamente apaixonada.

Mas o que eu não sabia, é que ele era um anjo negro.

VioladaWhere stories live. Discover now