{ parte 2 }

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A neve cobria toda a plataforma, mas a vi entrando no trem e acomodando-se no banco á minha frente. Dessa vez, seus lábios não estavam corados, e sim levemente roxos. Esfregava uma mão na outra, tentando aquecê-las. Olhava ao redor a cada dez minutos e provavelmente percebeu que eu a observava, pois logo abaixou a cabeça e não levantou até chegar em sua estação.

Quando saia, o trem ficava incrivelmente mais vazio. A viagem com ela passava mais rápido. Mil vezes mais demorada depois que ela ia embora. Era inevitável.

Não conversava, mas também não checava a hora ou as novas mensagens nem uma vez. Talvez fosse o tipo de mulher contra o vício tecnológico. Uma ativista.

Curvava os lábios quando ficava ansiosa. Era possível identificar o nervosismo porque tamborilava com seus dedos finos na mandíbula e bebia seu café mais rápido que o habitual.

Se movia com leveza, ela era um sopro. Seus cabelos esvoaçavam ao sair e deparar com o ar frio da manhã. Vez ou outra andava na ponta dos pés, simplesmente porque tinha vontade, ela era uma bailarina. Seus olhos faíscavam ao observar pela janela a cidade ainda adormecida. Tinha uma forma autêntica de observar as coisas. Apenas encostava em seu acento habitual e ali ficava, pela próxima meia-hora, apenas observando, como se seus olhos soubessem cada detalhe de cada átomo de matéria que passava á sua frente. Ela era uma conhecedora.

A garota do tremМесто, где живут истории. Откройте их для себя