BÔNUS - A Saga da Descendência {Livro Dois}

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{Trecho do Capítulo 01, Páginas 01 e 02}

O Réveillon no Rio de Janeiro sempre fora considerado um espetáculo singular.

Todo fim de ano, milhões de pessoas, entre elas moradoras e turistas, se reuniam em um bairro famoso da cidade, conhecido em todo o globo, para testemunhar diante da imensidão do mar o início do novo ciclo.

Contemplar o céu iluminado pelos fogos de artifício, se despedir de tudo que acontecera de ruim, desejar que as esperanças se renovassem. Todas as pessoas, estivessem onde estivessem, de qualquer ponto do país, eram apenas um único coração, que batia sedento por felicidade e uma única mente, que ansiava por dias melhores.

Ressaltar que uma multidão se espremia, aguardando a contagem regressiva na areia da praia, significava dizer que a maioria das pessoas tinha abandonado suas casas para estar naquele local. Era o dia das moradas vazias, rejeitadas momentaneamente por seus donos, até que um novo dia nascesse e levasse todos de volta a seus lares.

Naquela noite de trinta e um de dezembro a casa dos Santa Rita não fugia à regra. Entregue ao breu, estava sombria e abandonada. Exceto por uma figura feminina, sentada à beira da piscina, nos fundos da construção, mexendo com graça as pernas cobertas até quase o joelho com a água turva pelo cloro.

Não era Norah e tampouco uma funcionária da casa.

A roupa negra como a noite assemelhava-se ao látex e revestia seu corpo de forma perfeita, exibindo a silhueta inteira, não deixando escapar qualquer amostra de pele ou cabelo. Sua aparência era a de um manequim, tão escuro e denso como a noite. A vestimenta não possuía orifícios, nem mesmo para o nariz ou os olhos. Contudo não era necessário. Se fosse mesmo um traje comum de látex, sim. Mas o figurino pertencia a outro lugar. Outro continente. O traje camuflava seu corpo, ainda mais durante a noite, e não anulava qualquer dos seus sentidos. Todas as sensações se mantinham, como se ela estivesse nua.

Mas estava vestida. E mesmo assim, sentia a água morna da piscina fazer cócegas em suas panturrilhas enquanto mexia as pernas sem pressa. Enxergava com a mesma facilidade que respirava. Faltavam poucos minutos para a virada do ano e ela tinha certeza, seria um grande ano.

Para ela e para os que a tinham enviado.

Erguendo-se, admirou por breves segundos a casa da piscina e o jardim que ficava ali, nos fundos. Deu um meio giro e caminhou alguns passos, até parar. Estava de frente para a larga parede de vidro da casa dos gêmeos. A que separava os fundos da construção - a sala minimalista e elegante - do lado de dentro. Mesmo no escuro, ela notou que o enorme lustre pendendo do teto reluzia com as luzes vindas de fora.

A casa era majestosa. Silenciosa e escura como estava, era ainda mais bela para aquela mulher. Um grupo de luzes explodiu no céu quente do Rio de Janeiro. Alguém estourara um rojão perto dali com antecedência.

Mas o barulho dos rojões ou dos fogos não seria o mais agradável naquela noite, para ela. Havia sons mais interessantes a se propagarem pelo ar. E ela mesma os produziria.

Com um movimento delicado de mãos, ela fez com que toda a água da piscina congelasse no mesmo instante. O gelo percorreu toda a extensão do imenso tanque em torno da casa de Higino e Norah, tornando o ar fresco por um instante.

A mulher notou que não havia câmeras de segurança. Nenhuma aparente, pelo menos. E não ficou surpresa, já que aquela era uma casa atípica e vigilância poderia ser um problema, bem mais do que uma solução.

Um som uniforme de estalo e o gelo rachou em diversos pontos. Primeiro de forma discreta e em seguida com sons pesados. A piscina se transformara em pedaços sólidos, milhões de estilhaços pontiagudos e brilhantes que levitaram ao redor de sua conjuradora.

O simples aceno de uma das mãos fez o gelo salpicado e cortante avançar impiedoso contra a extensa parede de vidro, destruindo-a com facilidade. Os cacos desmoronaram, pesados e ensurdecedores. O som do vidro espatifando era música para os ouvidos daquela mulher.

A sinfonia da destruição.

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Oi, pessoal, tudo bem?

Que saudade de estar mais presente, postando e interagindo com todos!

Este foi um bônus beeem curtinho do Livro Dois, pelo carinho que tenho recebido desde que o Livro Um chegou ao fim. Acredito que a continuação estará disponível mais para o fim do ano. Autor chato, sabem como é, né?

Preciso escrever, revisar, revisar de novo, olhar torto, odiar, amar.

Registrei os primeiros capítulos para que pudesse postar esse trechinho (o que eu mais amo na BN é ela ser do Rio. O registro costuma chegar antes mesmo dos 30 dias mínimos que eles dão de espera. Por isso o trecho pôde ser disponibilizado hoje).

Bom, é isso por enquanto.

Beijos, abraços e apertões! :3

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Where stories live. Discover now