Consciência pt 1 - Juliana

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Volto ao mesmo maldito sonho. Só que agora, não encontro Micha em nenhuma das portas, nem andando sobre as nuvens, nem me levando para lugar algum. Estou sozinha e gritando seu nome, várias e várias vezes, incessantemente. Acordei assustada e com o estômago embrulhado. O silêncio do meu quarto me deixava com uma sensação ainda pior. Minha cabeça doí, e recobro os pensamentos olhando para o quadro na minha parede: eles não acreditaram em mim. Sei que hoje era pra eu ir para escola, porém eu nem lembro como cheguei em casa ontem, e estou com muito medo de me levantar e encarar tudo isso. O que será que houve comigo?

Fecho meus olhos e acho que cochilo por mais um instante. Sinto a presença do Micha, e me esforço para abrir meus olhos.

- Eu estou aqui! - Ele me diz baixinho.

- Graças a Deus! - Sussurro aliviada, pois por um instante, eu também duvidei de mim.

Eu choro e tento contar o que aconteceu, mas ele me interrompe:

- Juliana, ninguém vai acreditar sobre mim, não espere por isso. Eu morri! - Ele diz com um sorriso um tanto deprimido. - Não fale de mim para mais ninguém, tudo bem?! - Ele fala como se estivesse impondo.

- Eu só não aguentei mais! Você não pode fazer algo? Me ajudar a provar? A mostrar que eu te vejo? - Me desespero.

- Não. Ele vira seu corpo, e olha para o teto. Não há nada que eu possa fazer e eu preciso que você seja forte! - Ele está me assustando, será que está prestes a me dizer que vai embora?

- Forte? - Já tenho algumas lágrimas no meu rosto, mas a ansiedade me faz ressaltar. - Por que diz isso?

- Preciso que finja que nunca me viu, que tudo não passou de um surto de sua cabeça e que não lembra de nada direito. Preciso que faça isto, tudo bem? - Ele está frio, de um jeito que me machuca. - Isso é para o seu bem, para que não achem que está louca! - Ele completa.

- Tudo bem, farei isso! - Respondo ainda atordoada. Ele se levanta e passa a projeção de sua mão sobre meu rosto. Olha para a porta para certificar que não há ninguém vindo.

- E quanto ao seu pai, e a visita? Está tudo bem? - Pergunto preocupada com o que está sentindo.

- Estou colocando as ideias no lugar em relação a isso, mas o que me preocupa agora é você. - Ele diz e meu coração salta, não quero ser uma preocupação.

- Vou fazer o que disse, vou ficar bem. - Digo para confortá-lo.

- Logo logo tudo isso vai passar! - Ele me olha triste.

- Você vai me deixar não vai? - Pergunto sabendo a resposta.

- Você precisa descansar. Mas vamos voltar a nos ver logo menina dos sonhos! - Ele brinca, mas não sei qual ponto é verdade qual não.

Tenho a sensação que deveria ter prestado mais atenção neste momento, eu precisaria lembrar dele num futuro próximo. Micha faz que me dá um beijo, e some. Arranjo forças para me levantar e ir até o banheiro. Sinto que terei que enfrentar o mundo depois disto. Assim que abro a porta do banheiro, já vejo meus pais na porta, com cara de tremenda preocupação.

- Juliana, filha! - Minha mãe corre me abraçar. - Como você está se sentindo? - ela me pergunta, puxando a minha pálpebra inferior dos olhos.

- Com dor de cabeça. E não me lembro do que houve ontem, de nada. - Minto em partes.

Meus pais se olham sérios. E meu pai está muito assustado. Penso em como ele está se sentindo e me dou conta de que ele não foi trabalhar. Vou em sua direção e dou-lhe um abraço apertado. Ele retribui.

Eu te ViOnde histórias criam vida. Descubra agora