Consciência pt 2 - Juliana

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Eu fiquei no meu quarto esperando o Rafa aparecer. Com alguma esperança de que o Micha viesse e me dissesse como agir, mas ele não veio. Ouço o motor do carro do Rafa, e logo sei que está cochichando algo com meus pais, testando convencê-los de que será bom pra mim vê-lo. Minha mão treme, pois eu não sei se vou saber mentir pra ele, que mesmo tendo me enganado, eu conheço tão bem. Estralo os dedos e penso em como será o diálogo.

Ele bate na porta. Está tão lindo e cheiroso, perfume é o tipo de coisa que eu queria saber como é o do Micha. Afasto os pensamentos e dou um abraço no Rafa, que entra no meu quarto e logo percebe as mudanças na decoração.

- Mudou né, desde a última vez que eu estive aqui? - Ele aponta para as paredes, e eu balanço a cabeça em afirmação.

Ele vem em minha direção e eu me assusto, me abraça com toda a força e ao mesmo tempo cuidado que tem. Eu sinto a preocupação dele, e uma vontade enorme de chorar aparece em meu rosto. Ele segura meu queixo com uma das mãos.

- O que houve com você Ju? Tem a ver com o que eu te fiz? Com tudo o que aconteceu? Eu não...- Eu o interrompo.

- Eu não sei, mas não, não tem a ver com aquilo. Foi algo comigo. Eu só, surtei um pouco. - Falo sem jeito e soa terrivelmente falso e vazio.

Ele se senta na cama e bate no colchão. Fazendo sinal pra eu me sentar ao lado dele.

- Eu fui um idiota com você Juliana, de uma forma que eu não espero que me perdoe agora. Mas eu sempre amei você do meu jeito torto, e te ver assim me deixa muito mal! - Ele diz sinceramente.

- Não duvido que gostasse de mim, mas não era aquilo sabe? - Eu me viro pra ele que me fita sério. - Você está feliz agora? - Eu pergunto e ele suspira.

- Eu não vou mentir, me sinto ótimo. Ela é sabe, ela é... - Ele tenta explicar e eu dou risada. - Mas sabe Ju, se você me aceitasse novamente eu daria um jeito...- interrompo novamente.

- Não tem mais jeito, e você gosta dela, você sabe! - Eu coloco minha mão no seu ombro. - Eu vou ficar bem, foi só...

- Ele é quem estou pensando? - Ele volta a olhar pelo meu quarto.

- Ele quem? - Me faço de desentendida pra não começar a perder o controle.

- Você mesma me disse que existia alguém. E sabe Ju. Falam por aí que você não está bem. - Ele diz tentando me explicar.

Eu tento arrumar coragem pra explicar a situação quando eu sou interrompida por ele que segura meus braços. Sua camisa branca dobrada no meio do braço me faz perceber que seus músculos estão tensos.

- Vocês tinham alguma relação antes? - Ele me pergunta e eu me espanto tentando evitar o choro.

- Não. Nenhuma. Pouco nos falávamos. Eu não sei porque surtei com isso. Talvez o impacto de tudo
...- Eu não quis negar e os olhos dele lacrimejam e ele me balança a cabeça incrédulo.

- Você realmente o vê não é mesmo? - Ele me pergunta e eu fico surpresa. Será uma armadilha? Um teste pra minha lucidez. Portanto eu o olho em silêncio.

- Não sei, pela lógica foi apenas uma situação esquizotípica. Algo do gênero, sei lá. - Eu tento me explicar e o Rafa se levanta.

- Não Juliana! Olha para o seu quarto. - Ele aponta os posters, o abajur com luz escura e o quadro. - Tem muito dele aqui, eu sinto ele aqui!! Filho da mãe porque não aparece pra mim???

Ele grita e eu tento o abraçar. Eu sei que não é fácil pra ele também.

- Por que você? - É irônico que apenas o Rafa, acredite em mim.

- Eu não Sei! Ele tentou aparecer pra você, pra todos, mas só eu o vejo. - Explico. - Ele quer ajudar o pai, se resolver com a família, coisas assim...

- Não! Ele quer me machucar através de você! Eu tenho muita culpa por tudo naquele maldito dia! - Ele se exalta.

Quando consigo acalma-lo. Me sinto mais calma e secretamente feliz por alguém acreditar nisso tudo. Abraçados e com a cabeça em seu lembro eu tento consola-lo:

- Não foi culpa sua e ele não faria mal nenhum a mim. - Afirmo.

Ele se afasta, e pega em meu rosto:

- Não? Você o conheceu? Não o conheceu! Ele fez bem pra alguma garota? Seja o que ele quer mande o embora! Você não pode mais fazer nada!! Ele morreu Juliana!

- Eu não posso mandá-lo ir embora!

- Não pode ou não quer? - Ele retruca e eu caio no choro.

- Não quero!

- Maldito Micha! Você nunca, falou de mim assim! - Ele diz magoado. Você se apaixonou por um fantasma? -

- Sim. - É um tanto desesperador se dar conta disso.

Ele se senta em Minha cama e passa a mão pelos cabelos. Eu já estou em um estado de choro incontrolável devido à explosão de coisas a qual eu sinto e estou fazendo as pessoas sentirem.

Eu me aproximo e deito no colo dele.

- Eu posso te proteger de tudo, pelo menos hoje? Pelo menos agora? - Ele me pergunta. - Como eu deveria ter feito antes?

- Pode!

Choro tanto que pego no sono e não vejo o Rafa ir embora. Se estou maluca, alguém acredita um pouco nesse devaneio. E isso me deixa mais fora da realidade, do que pode ou não acontecer. Do que realmente aconteceu.


Eu te ViWhere stories live. Discover now