Burnt Fingertips

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Henry encarou Harry por alguns segundos. Era estranho e desconfortável, pensou, como se olhar no espelho e notar que há algo diferente em sua aparência. Os olhos verdes eram iguais, assim como a pele pálida e os traços do rosto. O cabelo de Harry era longo e perdia os cachos gradualmente, enquanto o dele era curto e ainda tinha pequenas curvaturas. Lembrou-se de uma redação que fez no sétimo ano sobre uma distopia. Harry era como a versão distópica dele, com todas as tatuagens, piercings e hematomas.

Eles não haviam se falado por anos. Não havia uma carta na gaveta vinda de seu irmão e nem um e-mail em sua caixa de entrada. E ainda assim um trabalho de literatura havia colocado os dois em uma biblioteca. Para fazerem pesquisas sobre Oscar Wilde e sua prisão, relacionada fortemente a obra O Retrato de Dorian Gray.

─ A ironia de tudo ─ murmurou Harry languidamente, esticando suas pernas e estalando seus dedos. O rosto estava lotado de marcas roxas e avermelhadas, mas existia algo gracioso em sua presença. Henry torceu o nariz, abrindo um livro sobre a Era Vitoriana que provavelmente tinha mais páginas que a Bíblia. ─ Você não vai responder nada?

─ Não há nada para ser dito. ─ Disse tentando soar distraído, correndo seus dedos suados pelas linhas. Seus olhos se perdiam nas palavras enquanto ele mastigava o lábio inferior com força.

─ Você pode me xingar, sabia? ─ Harry se esticou sobre a mesa, os cotovelos apoiados na madeira e os olhos parecendo selvagens. Henry levantou o rosto, parando de fingir que lia. ─ Eu sei que fodi a nossa relação, então... por favor. Qualquer coisa. Pode me xingar, eu aguento.

─ Eu não quero te xingar. ─ Assegurou-lhe o outro. Ele franziu a testa, encarando o garoto que era como seu reflexo, só que com menos adereços no corpo. ─ Harry, nós éramos próximos e você simplesmente... foi embora. A mamãe e o papai choravam todos os dias e a Gemma parecia sempre à beira da loucura. Nós só queríamos um "oi".

─ Isso é mentira. ─ Harry afirmou, afastando-se do irmão. ─ Mamãe e papai queriam que eu fosse para a igreja, para deixar de gostar de garotos. Queriam que eu usasse ternos e sorrisse para aquele bando de ricos preconceituosos. ─ Ele parecia ferido de alguma forma, como se a memória trouxesse algo de ruim para a seus pensamentos. ─ Eu sei como funciona esse lugar que vocês falam que é solo sagrado. ─ Parou de falar, encarando o rosto do irmão com uma expressão contorcida. ─ Arrependo-me todos os dias de ter te deixado para trás, Henry. Você é a única coisa boa nesse mundo fodido.

─ E Gemma?

─ Ela gosta de lá. Jamais teria fugido comigo. ─ Disse rapidamente, cruzando os braços na altura do peito. ─ Você teria. E eu me arrependo.

─ Eu te perdoo. ─ Henry murmurou com a sombra de um sorriso no rosto bem esculpido.

Harry riu baixinho, arqueando as sobrancelhas.

─ Eu não pedi perdão. ─ Havia um tom divertido em sua voz.

─ Tudo bem então. Vamos fingir que não se isso te fizer mais feliz. ─ Henry retrucou, pegando uma bolinha de papel amassado que estava ao lado de seu caderno e arremessando-a no irmão com um sorriso amplo.

***

Era quarta-feira à tarde quando Louis resolveu ir até o hotel onde Harry estava morando e visitá-lo. Tinha acabado de sair do culto dos jovens e estava particularmente orgulhoso de si mesmo por ter criado um novo Deus para acreditar ─ não era exatamente uma nova entidade, era a mesma que existia há milhares de anos, mas com alguns traços diferentes. Seu Deus era amoroso, compreensivo e sempre disposto a ajudar. Não era todo poderoso, no entanto. Vivia em constantes batalhas contra o mal que rodeava sua criação perpetuamente. Não havia criado a Escuridão, e as criaturas com natureza terrível haviam se rebelado contra ele.

Não era nesse Deus que sua igreja acreditava. Eles acreditavam em uma entidade raivosa e sádica, como Harry havia citado daquela vez. E ele estava feliz por se livrar de algumas das correntes que o prenderam por um bom tempo. Sentia-se finalmente capaz de pensar sobre si mesmo de uma outra forma.

Quando a porta foi aberta, ele sorriu. Harry estava com os cabelos presos em um coque, usava óculos redondos e havia um cigarro preso entre seus lábios. Vestia apenas uma calça cinza de moletom e todo o seu ser parecia absurdamente poético com a luz da tarde atravessando as grandes janelas atrás de si.

─ Lou ─ ele tirou o cigarro dos lábios e depositou um beijo rápido nos lábios de Tomlinson, puxando-o para dentro. ─, eu pensei que você estivesse brincando quando me mandou uma mensagem dizendo que viria até aqui.

─ Eu estou de bom humor hoje. ─ Deu de ombros, como se aquilo explicasse tudo. Harry gargalhou, apagando o cigarro no cinzeiro sobre a mesinha de centro para depois beijá-lo profundamente, com direito a línguas e dentes.

Louis passou seus braços ao redor do pescoço de Harry, delicadamente se impulsionando para cima e envolvendo o tronco dele com as pernas. Styles se surpreendeu, parando de beijá-lo e mordendo seu lábio inferior. Seus olhos verdes estavam focados nos azuis, as bocas se roçando quase que com timidez.

─ Eu quero te beijar até meus lábios ficarem dormentes. ─ Louis tinha as sobrancelhas franzidas enquanto pronunciava as palavras. Harry demorou cerca de cinco segundos para processar tudo, então segurou sua cintura, beijando-o e caminhando até a parede mais próxima, onde o prensou com força.

─ Fico feliz que o sentimento seja recíproco. ─ Murmurou Styles, separando-se e empurrando as mechas de cabelo que caíam em volta do rosto do outro para trás. Tomlinson sorriu, inclinando-se para prender o lábio inferior dele entre os dentes e puxá-lo. ─ Eu comprei algo para você. Quer ver?

Ele assentiu, então Harry o soltou e caminhou até uma das estantes. Logo em suas mãos havia uma caixinha vermelha com um grande laço branco. Quando Louis colocou suas mãos no pacote, agradeceu-o rapidamente antes de abri-lo. Enfiando suas pequenas mãos lá, puxou uma calcinha bege de renda.

─ Eu quero te fotografar. ─ Harry murmurou com calmaria, e quando os olhos confusos de Louis se voltaram para ele, sorriu um pouco. ─ De calcinha, meu bem. Eu quero te fotografar de calcinha.

Louis não pensou duas vezes antes de beijá-lo novamente. Era um sim.

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desculpa a demora!!! eu realmente perdi a noção do tempo, como sempre. vou tentar atualizar mais rápido da próxima vez, prometo. 

pergunta: se eu postasse uma original aqui, vocês leriam?

xx

Homewrecker (l.s)Where stories live. Discover now