Ashes

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Louis suspirou, com o lápis preso entre seus lábios. As linhas do papel o encaravam desafiadoramente, questionando-o com audácia quando que iria começar a escrever sua redação para o concurso de orador da formatura. Todos os alunos do último ano eram obrigados a participar, portanto lá estava ele. Sua mãe e seu pai haviam lhe assegurado que as palavras escritas por ele iriam ganhar aquela competição, garantindo seu lugar como uma das partes mais importantes da formatura. No momento, entretanto, parecia pouquíssimo provável.

Henry rira no telefone, horas antes, quando o assunto fora mencionado, dizendo que escrevera um texto incoerente de propósito porque não queria falar em público. No fim da ligação, Louis se sentia frustrado por sua falta de inspiração e pelo fato de que ele ainda não tivera coragem de contar para seu amigo sobre Harry admitindo gostava dele ─ tipo, realmente gostava dele.

Estalando os dedos, colocou a ponta do lápis no papel e rabiscou as palavras "um ano de realizações". Era idiota e clichê, mas verdade. Então, bufando, escreveu sobre seus professores e colegas. Narrou alguns eventos engraçados, agradeceu a Trion Academy pelas experiências e finalmente chegou às realizações das quais seu título se referia. Alguns acharam sua vocação, outros descobriram o lugar ao qual pertenciam, mas no fim todos se encontraram. De alguma maneira, estavam ali prontos para uma nova fase de sua vida ─ confortáveis em suas próprias peles. Louis teve que morder os lábios para não gritar "mentira" para si mesmo.

Após terminar sua redação ─ nada do que ele queria dizer, muito do que os pais e diretores queriam ouvir ─, assinou seu nome no final da página e a colocou dentro de sua mochila. Pegando sua carteira, celular, chaves e casaco saiu de casa gritando para sua mãe que iria até a casa de Henry para discutir sobre a formatura.

Trinta minutos depois, Louis se sentia patético ao estacionar seu carro no estacionamento do hotel Fordson. Haviam lágrimas nos seus olhos e ele não conseguia processar a razão; apenas sabia que tudo dentro de si ardia e ele queria um minuto de paz, um minuto de liberdade. Soltou o cinto, apoiando a cabeça no volante e contando até cinquenta. Fungando, pediu para Harry ir até ele por uma mensagem curta.

Não demorou muito até que ele aparecesse no estacionamento, com o uniforme de barman do hotel. Ele havia começado a trabalhar, Louis havia esquecido e agora ele se sentia ainda mais patético. Harry abriu a porta e se jogou no banco do passageiro. Ao ver os rastros úmidos nas bochechas do outro, juntou suas mãos imediatamente.

─ O que houve, meu bem? ─ Perguntou preocupado, seus olhos verdes examinando-o.

─ Eu não sei. ─ Louis disse sinceramente, tentando engolir o bolo que havia crescido em sua garganta. Sua voz soava quebrada.

Harry assentiu, parecendo entender. Beijou-o lentamente, com suas mãos acariciando as laterais do rosto de Louis.

─ Há algo que eu possa fazer? ─ Murmurou, com seus lábios ainda próximos.

─ Não. ─ Louis negou, encostando suas testas. ─ E-eu só estou frustrado, acho. Queria poder te beijar em público, mas não consigo. E tentei escrever a redação para o concurso e ficou uma porcaria. Estou falhando miseravelmente em me comunicar com Henry. Minha mãe, que me conhece há anos, não percebe que tem algo diferente comigo e ... eu só queria dizer a verdade, mas tenho medo. ─ Ele fungou, notando que suas lágrimas tinham voltado a escorrer. ─ Eu tenho tanto medo.

Harry o abraçou, apertando-o em seus braços. Louis soluçava alto, parecendo se engasgar em suas próprias lágrimas.

─ Estou acumulando tanta coisa, Harry ─ ele continuou, entre sons sôfregos. ─ e tem momentos em que eu queria que alguém me enxergasse. ─ Ele franziu as sobrancelhas, separando o abraço e colocando uma expressão diferente em seu rosto. ─ Tipo: oi, eu sou o Louis e eu sou gay e eu estou confuso e eu acredito em Deus e eu amo a minha mãe e eu estou tentando entender porque ela odeia gays e eu sou gay e eu sou o Louis e eu tento ser bom.

Harry segurou o rosto dele em suas mãos.

─ Eu te enxergo, Lou. ─ Agora, os olhos dele também estavam marejados. Era como se houvesse um punhal cravado em seu peito. ─ Eu te enxergo, meu bem.

Louis balançou a cabeça para os lados.

─ Eu não sei se é o suficiente.

Harry sabia que não era, porque havia se sentido assim anos atrás. Ele abraçou Louis outra vez, chorando e fungando. Seus cachos cutucavam a pele do outro garoto.

***

─ Você se sente melhor? ─ Harry perguntou para Louis, que estava deitado em seu peito na escuridão da Cobertura Presidencial do hotel. A única luz entrava pelas janelas, vinda das estrelas, do farol de veículos e dos postes.

─ Acho que sim. ─ A verdade era que ele se sentia entorpecido. Mas ainda assim era melhor do que a sensação, o sentimento, de antes.

─ Vai ficar tudo bem.

Louis se virou para beijar Harry. Era uma sensação familiar, acolhedora, calmante. E ele sabia dos pigmentos de dourado e azul nos olhos de Harry, e das pequenas sardas quase invisíveis na ponte de seu nariz, e dos calos nas mãos que exploravam a pele debaixo de sua camiseta, e da cicatriz em seu bíceps direito e da indecisão sobre o piercing no lábio inferior. Ele sabia tantas coisas sobre Harry e beijá-lo era como se enrolar em um cobertor com cheiro de casa.

─ Eu sinto muito por ter feito você sair do trabalho mais cedo. ─ Disse, separando-se dele. Os olhos azuis estavam focados no rosto nublado por cansaço de Harry. Ele não sabia dizer se era emocional, mental ou físico.

─ Não tem problema, meu bem. ─ Ele roçou seu nariz no de Louis com um sorriso. E as covinhas em sua bochecha fizeram o coração dele dar um salto.

─ Eu vou contar para a Eleanor. ─ Revelou o que vinha pensando por alguns instantes. Harry franziu as sobrancelhas. ─ Sobre nós. E quero que você esteja lá comigo.

─ Tem certeza, Lou? Esse é um passo tão grande.

─ Preciso falar para alguém que não seja da minha família. E Henry já sabe. ─ Usou a ponta de seu dedo para traçar linhas irregulares nas bochechas de Harry. ─ Sobre a outra parte... não acho que eu consiga sem você.

Harry o beijou em resposta. 

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eu vou admitir que meus olhos ficaram úmidos com a cena no carro, porque meu coração é mole e a dor deles é a minha. 

vou atualizar mais, prometo. tudo bem que às vezes não cumpro minhas promessas, mas vou tentar bastante dessa vez. 

e eu queria avisar que esse capítulo muda tudo. mesmo. se preparem. 

xx



Homewrecker (l.s)Where stories live. Discover now