39

3.1K 193 4
                                    


Eu ainda remoía tudo o que tinha acontecido naquela manhã, envolvida em duas cobertas e com a TV ligada num canal de variedades qualquer (no qual eu não prestava a mínima atenção), quando a campainha tocou. Olhei o relógio e, involuntariamente, um leve estremecimento percorreu meu corpo. Passava pouco das dez da noite e, mais uma vez, por mais que eu tentasse não pensar, a imagem que vinha à minha cabeça era mesmo aquela que vocês sabiam bem qual era. Pensei em não atender, mas o segundo toque mais longo fez com que eu percebesse a estupidez de minha atitude. Ao inferno toda aquela insegurança que não era minha!

Levantando, ajeitei da melhor maneira que pude minha roupa e cabelo e segui decidida até a porta. Quando a abri, pronta para dizer um sem número de palavras descabidas, perdi o fio de pensamento, sinceramente assustada/surpresa/em choque/abismada/fica à seu critério, com o que, ou melhor, com quem, vi pela frente.

Dez anos haviam se passado e ela não mudara nada. Absolutamente nada. Desde os cabelos negros e escorridos, ao sorriso amigável e o semblante calmo e tranquilo, tudo parecia exatamente igual à última vez em que eu a havia visto, na casa de Poncho, no dia seguinte ao baile de formatura, muitos anos atrás. E aquilo era impressionante.

Maite: olá, Annie.

Se ela sentiu algo parecido com o que eu senti ao vê-la, camuflou muito bem em seu tom amigável e sorriso convidativo. Não era a toa que, no passado, os meninos do colégio a chamavam de Miss Maite. Bonita, simpática e exalando serenidade, costumavam brincar que só lhe faltava dizer que seu maior desejo era a paz mundial para que a coroa lhe fosse entregue.

E era aquela mesma imagem que eu via bem à minha frente.

Apertei os olhos.

Anahí: Maite...?

Maite: ora, você ainda se lembra de mim - seu sorriso aumentou um tanto, se é que aquilo era possível. - Mesmo depois de tantos anos.

Anahí: você não mudou muita coisa desde então.

Eu não sabia bem o que dizer ou, ainda, como lidar com aquela visita completamente inesperada. A surpresa ainda nublava todos os meus pensamentos lógicos e me fazia parecer uma completa alienada à sua frente.

Devia ser algo de família, sabe como é.

Maite: você, pelo contrário, está mais linda do que nunca.

Anahí: sim, eu mudei bastante - respondi, com uma pequena risada.

Maite: não, oh, não foi isso que eu quis dizer - disse, levando a mão aos lábios e apertando os olhos, constrangida. - Digo, eu só quis dizer que você está linda, não que antes você... você entendeu, não é? - franziu a testa com uma careta sem jeito, e eu me vi sorrindo espontaneamente.

Anahí: está tudo bem, Maite - fiz um gesto de pouco caso com as mãos. - Relaxa. Eu realmente não era uma beleza no passado, nós duas sabemos disso.

Maite: você era linda. À sua maneira, e com aqueles olhos...

Ok, agora ela estava forçando um tanto a barra.

Anahí: tudo bem, deixemos isso para lá. O que faz aqui? Digo, imagino que tenha vindo ver seu irmão, mas...

Maite: vim passar uma temporada em Nova York e estou abusando do fato de ter um irmão bem situado, bem no meio de Manhattan - piscou, com um sorriso divertido. - Na verdade, já tinha vindo antes, mas tive que voltar à Chicago de última hora. E, bem, ainda não sabia de você...

O Pecado Mora Ao LadoWhere stories live. Discover now