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''Dizer que não gosta, é admitir que ama. Quem não se importa, não diz nada.''

Anahí: eu o odeio. Eu o odeio com todas as minhas forças!

E eu também chorava. Debruçada sobre meu próprio corpo, as mãos enterradas nos cabelos, sentada sobre a tampa do sanitário do banheiro da Rádio - o único lugar onde eu ainda podia encontrar um pouco de privacidade -, não me importava que Dulce me visse daquele jeito. Ela não me deixaria fazer aquilo sozinha, de qualquer forma. Eu sequer tinha aquela esperança.

Tudo estava acabado. Ele já sabia, por mais que eu tivesse tentado de todas as maneiras que podia, e com as que não podia, dissuadi-lo, convencê-lo do contrário. Ele sabia. E eu sabia. Na verdade, todos sabiam. Todas as pessoas daquela Rádio que presenciaram aquela cena e tinham sequer um pingo de inteligência haviam chegado à conclusão óbvia. Não era só uma nota mentirosa. Era a minha verdade mais fervorosamente escondida. Mais até mesmo que minha identidade ou meu passado. Mais que qualquer coisa que eu já tinha escondido na vida.

Não que eu pensasse em ocultar aquilo ainda por muito tempo. Eu só precisava disso; tempo. Tempo para que eu ajustasse minhas ideias e passasse a entender e aceitar aquela minha nova realidade. Eu ainda estava confusa, a ficha ainda não tinha caído completamente. Eu ainda não me sentia grávida. Eu ainda não me aceitava grávida. Mas, que inferno, eu nem queria ter um filho! Eu precisava de todo o tempo que ainda me era um privilégio, para aprender a lidar com aquilo. Um filho. Um filho de Alfonso, o garoto que me destruíra uma vez e o homem que, ironicamente, ia pelo mesmo caminho. Só que, nesse final, eu não estaria sozinha para juntar os pedaços. Eu teria uma outra vida para cuidar. E aquilo me deixava aterrorizada.

Dulce: não fala besteira, você só está com raiva, com medo... frustrada.

Anahí: você não vai começar a defendê-lo, não é? - solucei, erguendo o rosto e olhando-a atravessado. - Mas, que droga, até você ele tirou de mim!

Dulce: você sabe que isso não é verdade - balançou a cabeça, com uma careta que deixava entrever um pequeno sorriso. - Não seja dramática. Eu sou sua amiga. Ele é só um gostoso qualquer pra quem gosto de olhar.

Anahí: pois não é o que parece!

Dulce: deixa de ser chata. Por que você não levanta daí e vai lavar esse rosto? Você sabe que está ficando medonha, não sabe?

Anahí: obrigada - respondi, o mais irônica que pude em meio à fungadas. - Eu não quero. Eu acho que quero sumir, me ajuda? - mais uma crise de choro.

Ótimo.

Dulce: Annie, você não pode ficar assim - suspirou, enquanto alisava meu braço, de forma confortadora. - Por que você não resolve logo tudo de uma vez, como a mulher eficiente e poderosa que é?

Anahí: eu não sou poderosa coisíssima nenhuma. Tudo fachada.

Ela sorriu.

Dulce: não é não. Olha aonde você chegou, Annie. Sozinha, vinda de uma cidade pequena e sem contato nenhum. Você é, simplesmente, uma das locutoras de rádio mais conhecidas dos Estados Unidos. Se for melhor, levanta daí e se olha no espelho. Lembra o que era antes e veja em quem você se transformou, por conta própria, sem escutar gracinhas de ninguém. Esta Anahí da qual estou falando não estaria aqui agora, chorando deprimentemente sentada num sanitário, enquanto o mundo gira a todo vapor lá fora!

Levantei os olhos para ela. Aquela situação era mesmo, no mínimo, deprimente.

Anahí: e o que a Anahí da qual você está falando faria? - murmurei, passando a mão no nariz.

O Pecado Mora Ao LadoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt