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Eu me arrependi daquelas palavras assim que elas saíram da minha boca. Não que elas fossem mentirosas - elas não eram. Ele ainda era o cara por quem eu mais tinha sofrido na vida, aquele que destruíra todo o lado romântico e crédulo que um dia eu ostentara tão tolamente, mas, ainda assim, eu sabia que não era justo acusá-lo daquilo daquela forma. Não naquelas circunstâncias, não envolvendo aquele filho que ele já tinha mostrado com tantas atitudes querer tão bem. Muito menos enquanto eu estava ali, louca de raiva e preocupação, e ele tentava tão complacentemente me acalmar.

Fechando os olhos por um momento, suspirei.

Anahí: desculpa - disse, e voltei a encará-lo. Ele me olhava, completamente apático. - Eu não devia ter dito isso.

Os olhos dele prendiam os meus, mas nenhuma palavra saiu de sua boca no minuto seguinte. O silêncio tornou-se pesado e opressor, e eu tive vontade de, simplesmente, dar as costas e sumir. Sumir para sempre, de tudo.

Alfonso: tudo bem - respondeu quando o silêncio ficou insustentável, dando de ombros. - De certa forma, você não está errada.

Anahí: mas também não estou certa. Você está aqui, tentando me ajudar, e eu retribuo dessa forma. Desculpa.

Alfonso: está tudo bem, Annie - não estava, e eu podia perceber aquilo por sua voz, por seu olhar, por sua expressão ausente. Culpei-me mais uma vez por aquelas palavras, em silêncio. - Temos coisas muito piores para resolver.

Anahí: eu não quero resolver isso. Não agora. Não ainda.

Ele deu de ombros, com um suspiro.

Alfonso: e o que pretende fazer?

Anahí: eu não sei - respondi sinceramente, jogando-me sobre o sofá. - Não faço a mínima ideia, mas sei que esses próximos dias serão um inferno.

A imprensa me rondaria como um urubu ronda um punhado de carniça. A cúpula do programa me pressionaria - mais do que já vinha fazendo desde que não me restara escolha a não ser assumir a gravidez, algumas semanas atrás - para fazer logo um comunicado sobre o assunto e tudo viraria outra vez de pernas para o ar. Justo agora que eu começava a assentar as coisas, a assimilar toda aquela mudança brusca que acontecia.

Alfonso: ou não.

Levantei o rosto e o encarei. Ele revidou meu olhar, pensativo.

Anahí: como assim?

Alfonso: eu já tinha pensado em te propor isso, mas achei que você não concordaria, por isso não disse nada. Mas agora... Bem, acontece que quarta feira eu estou voltando para Chicago. É aniversário da minha mãe. Fico lá até domingo - falou, e seria hipócrita da minha parte dizer que aquilo não me atingiu. Quer dizer, eu já estava super acostumada à sua supervisão diária, sua preocupação e zelo com aquela criança. E aí ele ia viajar e eu não teria nada daquilo por aqueles tantos dias? Não era algo bom o que eu sentia ao pensar sobre aquela ideia. - Eu pensei que você poderia ir comigo. - Mas... hein?! - Quer dizer, meus pais ainda não sabem sobre você, ou sobre a gravidez. E agora que tudo está vindo a tona, eu não queria que eles descobrissem por uma matéria de revista. Queria eu mesmo contar, pessoalmente.

Desviei todos os meus pensamentos da ideia de voltar para Chicago - Chicago, onde tínhamos todo aquele passado conturbado, você sabe e deve imaginar o quanto aquilo mexeria comigo - com ele e foquei-os naquela história de conversa pessoalmente com os pais sobre a gravidez.

Anahí: ah, sim, claro. E você acha que a melhor forma de fazer isso é me levar até lá e provavelmente matar todos de surpresa quando eu, desinteressadamente, disser: 'Ei, pessoal! Lembram de mim? Eu voltei e estou grávida do filho de vocês. Vocês vão ser vovós, não é o máximo?'. Por favor, Poncho!

O Pecado Mora Ao LadoWhere stories live. Discover now