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Eu queria sair correndo, apagar a mensagem na frente dele e prometer que nunca mais iria falar com Max, nem em sonho. Mas, é claro, eu não fiz isso. Não seria bonito agir tão desesperadamente. Brandon verá que agiu estupidamente ao me deixar sozinha com uma mensagem, ainda mais quando estou me sentindo um pouco frustrada. Se eu tivesse o cérebro de ervilha e não me importasse tanto com ele, eu teria retornado a mensagem no mesmo segundo. Mas ela está aqui até agora.

Encaro o visor do celular e não tenho coragem de desbloquear a tela. Desde às 7:27 da manhã ela está travada. A mensagem aparece lá, mas não faço nada a respeito.

Jogo o celular em cima do balcão da cozinha e bufo, enchendo o copo de café em seguida. O notebook está aberto na página da Social Feminin e um novo arquivo de texto me espera para uma nova lista. Só que, hoje, eu não sinto vontade de escrever sobre nada. Quer dizer, nada de listas. Queria desabafar sobre as injustiças de um relacionamento. Desde meu relacionamento com Max – em que houveram toneladas de injustiças – até meu relacionamento com Brandon, onde a primeira injustiça acaba de aparecer.

Largo o bule de café e deslizo os dedos pelo teclado. Sem pensar muito sobre o que estou escrevendo, começo a desabafar no documento em branco a minha frente, que a cada linha escrita vai se tornando mais preenchido. Escrevo sobre relacionamentos modernos, no que a tecnologia pode interferir nas relações, injustiças sobre ciúmes, balanças, redes sociais e estatísticas. Traço um mapa no texto, ligando coisa a coisa. No final, rabisco uma lista de situações mais frustrantes dentro de um relacionamento e sorrio orgulhosa.

Encaro o texto com o peito estufado e meu sorriso se abre mais a cada parágrafo perfeitamente finalizado. Sei que está bom, sei que é um ótimo texto, mas não posso publicar no portal da revista. Está muito pessoal – mesmo sem citar nomes – para ir parar num site global. Já estou copiando o texto do navegador para um documento no computador quando ouço a voz de Brenda vindo do corredor e paro o que estou fazendo. Ela carrega Arthur no colo e parece apressada.

— Ellen, Ellen! Aqui. Segure. — Ela ergue o bebê por cima do balcão e por pouco não causa um desastre, derrubando o copo de café por cima do teclado do notebook. Ajeito a criança em meus braços e pergunto o que está acontecendo.

— Acordei atrasada! Tenho uma reunião hoje. Não sei como chamar... reunião, encontro, sei lá! Enfim, com uma corretora de imóveis. Achei um apartamento muito bom, aqui perto! Só preciso convencê-la de que terei um emprego em breve.

Prestando atenção no que Brenda dizia, não me atentei ao que Arthur fazia. E isso era bem mais importante. O bebê se debruçou sobre o notebook, maravilhado com as propagandas coloridas que enchem o site da Social Feminin e começou a bater as mãos gorduchas no teclado. Sem querer – obviamente – ele acabou pressionando 'enter'. Meu pânico é tão grande que um grito agudo acaba saindo. Sem querer – e sem poder – jogá-lo no chão, seguro Arthur nos braços, apertando-o contra meu corpo, e tento ver o que acabou de acontecer no site da revista.

"Parabéns, seu texto foi enviado para análise. Comece um novo agora mesmo"

— Não! — Berro, os olhos vidrados na tela.

Brenda para de falar e vem até mim, conferindo o que me deixa tão perturbada.

— O quê? Você acabou de publicar um texto... parabéns? — Ela toma Arthur de meu colo e o coloca dentro do quadrado cheio de brinquedos. O bebê se põe de pé e nos encara, como quem quer os créditos pelo desastre que causou.

— Não! Nada de parabéns. Era um texto particular, um desabafo. Eu não queria publicar! Estava só... desabafando. — Sinto meu corpo amolecer e sento-me no banco alta acoplado ao balcão. Não é o ideal para esse momento. Eu adoraria deitar e me afundar em lençóis macios agora.

As Listas de Ex-namorados de EllenWhere stories live. Discover now