Capítulo 17 - Caminhos Cruzados

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O frio invade a sala quando Brenda abre as abas da janela com brutalidade. Ela berra, sorri e saltita pelo cômodo, sem explicar o porquê de tanta euforia. Arthur está sentado no meio da sala, comportado, sem compartilhar da mesma alegria da mãe. Ela não deve tê-lo contado ainda! Sorrio para o bebê, compreendendo o que ele passa, e me volto para Brenda.

— O que você está fazendo? Tentando matar todos nós congelados? — Pergunto, indo até a janela e a fechando novamente.

— Eu preciso de ar! — Brenda clama e abre as janelas novamente. São nove e trinta da manhã e o frio está um pouco menor do que no dia anterior, mas ainda assim está congelante.

— Brenda, ninguém "precisa de ar" em Nova Iorque em pleno fevereiro! — Fecho as janelas novamente, agora as duas abas, e paro em frente a elas, em protesto. — Agora, ou você fala o que aconteceu ou eu precisarei começar a ler mentes. E não estou nem um pouco afim.

Ela faz suspense.

Anda de um lado para o outro, se serve de uma xícara de chá – o que é extremamente estranho – come um muffin de dois dias atrás e senta-se na cadeira giratória ao lado do sofá, sorrindo para Arthur, se deliciando com minha agonia. Decido jogar contra ela e saio andando corredor adentro, entrando no quarto decidida, a cabeça erguida.

Ouço os passos apressados de Brenda dez segundos depois e sei que minha tática funcionou. Ela entra no quarto empurrando a porta com força, mas logo para, soltando uma exclamação:

— Meu Deus do céu! Um furacão invadiu seu quarto? — Ela olha ao redor, inspecionando a cama e o chão, ambos bagunçados.

— O furacão Andy. — Sorrio abertamente. — Passamos a noite juntos ontem, aqui.

— Ah, claro. — Brenda põe Arthur no chão e segura sua mão para lhe dar equilíbrio e segurança. — Estou vendo os farelos de chips agora. E uma embalagem de Doritos, e... nossa, quantas barras de chocolate.

Dou de ombros.

— Andy. — Suspiro, como se seu nome por si só já fosse suficiente. Na verdade, é mesmo. — Agora, pare de enrolar. Qual sua novidade?

— Então... eu finalmente consegui um apartamento!

A notícia me atinge em cheio. Eu já devia saber... desde que Brenda colocou na cabeça precisar de um apartamento, espero por isso, mas estava com esperanças de que a boa notícia de hoje fosse referente ao emprego.

— Ah... — penso em algo animador para falar — é aquele apartamento que estava pendurado? Aqui por perto?

— Sim, aqui mesmo. Procurei alguns em Chelsea, mas não obtive sorte. — Ela lamenta, mas logo volta a sorrir. — O que importa é que consegui um, e um de bom tamanho. Você, Andy e Brandon podem ir lá qualquer dia desses.

— Qualquer dia desses? Por que não hoje? — Estreito as sobrancelhas.

— Porque ainda está locado. Será liberado dia 10 de março.

— Dia dez!

— Sim, logo um dia antes de seu aniversário. Mas eu ainda passarei o grande dia com você.

— E só alguns dias antes do seu! — Lembro.

Tiro Arthur do chão e o carrego em meus braços. Ele grita quando balanço seu corpo para frente e para trás e dá um beijo na bochecha de Brenda a cada ida.

— Tanto faz, depois pensaremos nos aniversários. — Me aproximo de Brenda e Arthur agarra seu pescoço, nos forçando a um abraço triplo. — O que importa é que estou feliz por você. Vai ser estranho não morarmos mais junto.

— Eu sei que sim... pelo menos eu não estarei do outro lado da cidade.

Encaro Arthur e meus olhos enchem d'água repentinamente. Espanto a sensação de tristeza para longe e saio do quarto. Senti-me sufocada, estranha.

— Não queria ter que me afastar dele... — Choramingo, já na sala.

— Nós prometemos que estaremos sempre por aqui, não é, Arthur?! — Ela balança o bebê a minha frente e ele gargalha.

— Promete? Promete? — Pergunto a ele, esperançosa por uma resposta;

Pomete. — Ele repete. Brenda e eu gritamos no mesmo tom.

— Promete! — Brenda e eu comemoramos. Arthur vibra com nossa felicidade. — Não acredito que sua primeira palavra não foi mamãe, mas podemos ignorar esse dia depois, não é?!

— Não! Ele falou comigo, eu não vou esquecer disso! — Eu falo, ainda num tom de voz alto demais e tomo Arthur de volta nos braços.

Pomete. — Arthur continua dizendo, repetindo a única palavra que conseguiu pronunciar em seus quase doze meses de vida. Encaro seu rosto redondo e vermelho sem conseguir segurar o pensamento pessimista que me invadiu desde que me dei conta de que Brenda irá se mudar, dois minutos atrás: eu não o verei com tanta frequência e não acompanharei seu crescimento como, ingenuamente, achei que faria.

Não me sinto triste.

Pelo menos tive a chance de passar o primeiro ano da vida de uma criança ao seu lado, e isso não aconteceria normalmente. Os tristes eventos da minha vida e de sua mãe – término de namoro com Max e a saída de Brenda de seu antigo apartamento – fizeram nossos caminhos se cruzarem antes mesmo de ele nascer, e não posso pôr um preço nisso. Eu nunca poderia pôr um preço nisso.

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As Listas de Ex-namorados de EllenWhere stories live. Discover now