14 de Agosto

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3:48 •
Dean.

Um nome que nunca ouvira estava tilintando em sua mente.

Por mais que não se lembrasse do rosto ou do nome, sentia que já vivera uma vida ao lado dele.

Os olhos azuis encaravam o teto, que um dia já fora branco, se perdendo mais uma vez em pontas soltas.

Depois daquele dia o moreno havia criado esperança que as coisas tomariam um rumo diferente, e finalmente ele poderia saber o motivo de tudo isso. Mas não.

Depois daquele dia o loiro só havia ficado pior, mais violento. As cordas eram amarradas o mais forte possível, e ardia como o inferno. Sentar passou a ser uma tortura, já que Dean havia passado a abusá-lo com mais frequência. O banho, que era o único momento não ruim ali, agora sempre coloria a pele marfim de vermelha, seja pela esponja que fora esfregada contra a mesma com muita força ou pela água que as vezes estava quente demais.

A brecha que o moreno pensou que havia achado, se fechou. A chance que ele pensou que tinha de entendê-lo foi consumida pela desilusão.

Mas era como se Dean se arrependesse de ter dito aquilo, já que o momento pareceu tão suave e libertador. E de fato, o de orbes verdes não queria isso. Mas ao mesmo tempo não queria deixar que Castiel criasse algum sentimento além de ódio e repudio total a ele. Mas não conseguia. Ele não queria.

Mas era sua única chance. Se o moreno não o odiasse, ele teria esperanças. Não podia deixar um sentimento bobo o controlar, um presságio de que suas almas estão, de certa forma, ligadas.

Então nesse mesmo dia o de olhos verdes tentou não entrar no quarto. O pior tipo de tortura psicológica seria, para os dois, o isolamento. Dean sabia que iria fraquejar em algum momento e botar tudo a perder, abrir a boca e se revelar. Castiel sabia que algo dentro de Dean não queria nada naquilo, que alguma chama de esperança ainda ardia para os dois.

Um pensamento bobo e irracional.

Não se cria sentimentos por aquele que te faz passar pelos piores momentos da sua vida. A vontade de sair logo dali e entregá-lo não podia simplesmente ir para segundo plano em uma situação dessas, mas se bobear ela podia ser até o último plano.

E assim a luz foi baixando. Castiel havia esperado por ele o dia todo. Não por fome, ou pela necessidade de se sentir "limpo", dada às circunstancias, mas sim pelo simples fato de ter o loiro ali. Isso sendo a síndrome falando ou não.

23:08 •
A porta rangeu pela primeira vez naquele dia. Castiel, que estava deitado da pior forma da cama, fez o máximo para se virar e correr os olhos pelo quarto, parando sob a feição indiferente do outro.

Dean não tardou a se sentar na cama, logo jogando uma sacola com um pão e uma lata de algum refrigerante dentro pra o moreno.

O loiro segurava uma garrafa de cerveja em uma mão, e, na outra, tinha entre os dedos um cigarro. Castiel nunca havia visto o outro fumar, por mais que já tenha percebido o cheiro forte de nicotina que o outro trazia consigo uns dias pra cá.

- Vai ficar me comendo com os olhos ou vai comer a comida? - Sua voz não esbravejava. Na verdade, ele estava até calma e um pouco melancólica, sendo perceptível a embriaguez contida.

Ótimo, ele estava bêbado.

O moreno já logo havia terminado a refeição, isso se podia chamá-la assim, e esticou os braços para a frente na intenção do outro os colocá-los para trás mais uma vez.

Dean se arrastou em joelhos na direção do menor e, com um de cada lado do corpo do mesmo, o ajeitou para que pudesse prendê-lo como de costume, colocando o cigarro entre os lábios novamente assim que terminou.

Stockholmssyndromet •Where stories live. Discover now