15 de Agosto

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Era notável o peso que a respiração do loiro adquiriu ao pronunciar do moreno. Ambos endireitaram-se na cama - Dean encostou-se na parede cuja qual ficava a cama e Castiel cruzou as pernas ao seu lado - e o menor não se desfocava do outro. Estava com raiva, confuso e acima de tudo queria alguma explicação, mas tinha algo nas orbes verdes ou nos traços ridiculamente simétricos do outro que lhe chamavam a atenção de uma forma que jamais imaginaria. Era como se estivessem conectados, como se já se conhecessem de outras vidas.

O loiro sabia que havia feito merda. Por que diabos foi abrir a boca? Agora não conseguia pensar, muito menos pensar em uma explicação. Sua boca abria e fechava, porém tudo que saia dela eram engasgos e algumas palavras desconexas.

- Você, sabe, você vai me achar patético e ridículo. - Não queria falar a verdade, mas algo naquelas orbes azuis o fazia se perder e não querer esconder uma única coisa de seu dono.

A única resposta obtida fora um olhar mais intensificado sobre si, e então se viu completamente perdido. Sabia que poderia muito bem sair pela porta e nunca mais dirigir nenhuma palavra ao outro que não fosse de ordem, mas seu corpo não respondia. Se viu preso num silêncio infinito, num quarto sem portas ou janelas para fugir. Respirou fundo umas duas ou três vezes, assim como havia coçado a garganta. O nervosismo era quase palpável.

- Ok, então vamos. Se lembra de quando você se mudou pra cá? Cerca de uns três anos atrás? Então, eu não sei por que nem como, mas eu senti algo assim que te vi. Você ainda trabalhava naquele restaurante com seu pai, e só Deus e Satã sabem quantas vezes eu fui lá só pra tentar chamar sua atenção. Acredite, aquilo que eu senti não era normal. Era um arrepio na espinha, um embrulho no estômago, um sorriso automático, uma mente vazia e cheia ao mesmo tempo sempre que você entrava no meu campo de visão. Mas, - baixou o olhar, ainda sentindo o azul não desviar de si - Mas eu sabia que eu nunca seria alguém além de um dos clientes daquele lugar. Tentei chegar de todas as formas possíveis em você, mas como pode perceber, todas falharam. Um ano se passou e aquilo já estava virando uma obsessão. Eu estava com medo das minhas próprias ações, mas eu tinha que ter você.

O moreno estremeceu com a última frase. Por mais que tentasse, não conseguia se lembrar nem de relance do rosto do maior. Por Deus, então todos aqueles bilhetes que ignorou, os amigos dizendo que um garoto popular do segundo ano estava afim dele, as ligações de algum número desconhecido, tudo, não era uma brincadeira de mal gosto?

O de orbes azuis envolveu-se com os próprios braços, como proteção. Ainda não acreditava que ter ignorado tudo aquilo, simplesmente por achar que era alguma brincadeira boba de algum babaca do segundo ano da faculdade, havia acarretado em tudo isso.

- Nada estava dando certo, e eu conseguia ver que tal obsessão monstruosa tendia a aumentar. - Levantou o olhar, encarando a parede paralela a qual estava, se esforçando ao máximo para não se virar e perder no azul novamente. - E nesse meio tempo eu ainda ouvi falar que você estava com alguma garota, uma ruiva que fazia aula de química com você. Deus sabe como eu fiquei naquela época. Mas sabe, eu ainda tinha esperança. Esperança de que um dia eu ainda te teria, e eu odiava isso. Eu tinha que encarar o fato de que você já era algo que eu deveria esquecer, e com isso, esquecer aquilo que eu havia me tornado. Mas eu não conseguia. Então que melhor jeito de reduzir as esperanças do que fazer você me odiar, certo? Por isso estamos aqui. Por isso te acertei com o taco no beco, e o resto você já sabe. Mas eu ainda sinto. Ainda tenho um turbilhão de sentimentos por você e você não facilita. Dificilmente tentou ir contra tudo isso, e por mais que seja um inferno, você parece querer ir até o fim disso tudo. E isso torna difícil deixar você ir. Parece que eu nunca vou perder as esperanças com você. - Riu da própria desgraça ao terminar de falar. Era patético, obsessivo, assustador. Prender alguém em cativeiro por algo que uma vez já foi amor, onde que isso daria certo?

- Sai do quarto. Agora. - Castiel não estava pensando direito. Estava confuso e com raiva, mas era raiva de si mesmo por ter sido o próprio a fazer consigo mesmo tudo isso. Não queria que o loiro saísse realmente, queria que ele ficasse ali para que pudesse entender melhor tudo que se passava por de trás do verde, mas tudo que conseguia dizer, ou gritar, era isso. - Sai logo porra! Eu não quero ver mais essa sua cara, pelo menos não por hoje.

O moreno lutava contra as lágrimas que insistiam em escapar, mas o loiro já estava entregue às poucas que saiam. Saiu do quarto em passos lentos, deixando para trás um Castiel confuso e aflito. Depois de tudo isso, todo esse inferno, ele ainda sentia algo por ele. Se culpava por não ter acreditado nos bilhetes em sua mesa, quem sabe já teria descoberto esse sentimento de se sentir completo de uma forma mais saudável. Era estranho. Uma pessoa normal já teria gritado mais, protestado mais, tentado acabar com tudo isso, mas ele não. Castiel estava sendo forte demais para acabar com tudo. Ele queria continuar ali.

Estava tão perdido que nem percebeu que Dean havia o deixado solto, totalmente livre das cordas. Não pensou duas vezes em correr até a porta, destrancando-a e seguindo até aquela porta inexplorada. Abriu-a e percebeu que dava ao cômodo da sala. Não era muito grande, mas era muito mais do que esperava. As paredes em cores creme entravam em contraste com alguns moveis brancos, até chegar numa pequena bancada que supostamente era a divisória entre sala e cozinha. Diferente da sala, a cozinha era em tons escuros, variando entre cinza e marrom. Andou mais um pouco até encontrar outro corredor com mais três portas, e antes que pudesse se entregar a necessidade de encontrar o outro, percebeu-se nu. Para sua sorte, a apartamento só não estava em perfeito estado pelas roupas jogadas em toda parte. Procurou até achar uma que escondesse pelo menos maior parte de si, e achou a mesma blusa vinho que o maior usava no primeiro dia que esteve ali.

O lugar estava escuro, sendo iluminado apenas pela pouca luz da noite que entrava pelas janelas abertas. Segunda porta à direita do corredor. Essa era a única que parecia emitir algum tipo de luz por debaixo da porta. Entrou, encontrando Dean de costas para si, numa pequena varanda ao fim do quarto. Andou em passos lentos, ignorando todo e qualquer detalhe restante dali, e agradeceu mentalmente ao ver que o maior não havia dado sinais de que o percebera ali.

Apoiou-se no pequeno muro ao lado do maior, ofendendo-se ao que Dean não se dava o trabalho de o olhar.

- Eu só queria deixar claro que não te acho ridículo ou patético. - Deu de ombros, tentando manter a indiferença na voz. - E, não sei se acha, mas não estou com raiva de você. Isso, essa coisa dentro de mim não permite.

- Achei que não queria me ver. - A voz quebrada entregava que não havia resistido a desabar. O loiro não desviou o olhar, mas estava claro que ter Castiel melhorou o clima que havia se instalado no quarto.

- Mudei de ideia.

Não sabiam quanto tempo havia passado, mas continuavam ali, encarando as poucas luzes que ficavam por trás daquela rua monótona.

Castiel ousou a esticar o braço, alcançando a mão alheia e não tardando a entrelaçar seus dedos. Síndrome ou não, ele gostava.

- Me desculpe. - O maior se pronunciou quebrando o silêncio confortável que havia se estabelecido ali, puxando o menor para si, abraçando-o. - Por tudo, desde o começo, e principalmente pela merda que eu acabei de fazer.

O de olhos azuis não teve tempo de protestar, apenas se entregou ao abraço e entendeu o feito do outro assim que escutou baixas sirenes se aproximando.

Merda.

Stockholmssyndromet •Where stories live. Discover now