15 de Agosto/16 de Setembro

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2:57 •
- Droga Dean. - Foi a única coisa que o moreno conseguiu dizer. Apertou-se o máximo que conseguia contra o peito do maior, descansando sua cabeça entre o pescoço e o ombro do mesmo.

Dean havia se entregado.

Não muito tempo depois o som estrondoso e alguns gritos de ordem foram ouvidos por de trás da porta principal, seguidos pelo som da porta caindo e os passos apressados que seguiam em direção ao loiro.

Em um movimento rápido, Dean empurrou Castiel para longe de si, deixando que meia dúzia de homens o derrubassem no chão e o imobilizassem, incluindo um deles com o pé em sua cabeça forçando-a contra o chão claro e frio.

Castiel gritava em protesto, mas sua voz não saia. Se não fossem pelos dois homens o barrando, ele estaria jogado ao chão do lado daquele que o fazia se sentir tão confuso.

Não, não o machuquem. Por favor. Não o machuquem.

Era tudo que se passava pela sua cabeça. Sua boca abria e fechava enquanto observava o outro ser arrastado pelo quarto, sumindo assim que virou pela porta.

Caiu ao chão. As lágrimas descontroladas não paravam de cair ao chão. Sentia que seu coração iria saltar da boca e que podia vomitar seus pulmões a qualquer momento. O ar se fez rarefeito, como se algo fechasse sua garganta.

Tudo aconteceu muito rápido, mas ao mesmo tempo em câmera lenta. Lembrou-se de como o dono das orbes verdes que tanto o encantava era levado com uma violência desnecessária para fora, de como sua boca mantinha-se fechada e a expressão indiferente não mudava em momento algum. Era quase como não se importasse, como se merecesse aquilo. Mas o brilho presente no verde, que não quebrava contato com o azul quase morto, espelhava um milhar de sentimentos. O viu chorar, sorrir, gritar. Tudo isso dentro do verde que tanto o encantava.

Não sabia quanto tempo havia passado, mas foi obrigado a levantar pelos mesmos dois homens que o barraram, não percebendo quando havia caído e feito do chão a sua cama.

Retirou-se do apartamento, sendo rumado em direção à sua suposta casa, mas não era como se quisesse ir pra la.

Eles diziam que iria ficar tudo bem agora, que logo cedo ele já poderia ir prestar queixa e que o sequestrador iria ter aquilo que bem merecia.

Mas não era isso que queria.

11:09 •
A manhã chegou, porém não a queixa.

Castiel sabia pelo que havia passado, e acima de tudo sabia o por quê de não ir lá.

Em meio a insônia e lágrimas, o moreno descobriu que não fora Dean que ligou para polícia. Fora uma senhora que morava no andar de baixo, por ordem do loiro.

Ele havia contado tudo a ela, com a desculpa de que não podia manter aquilo só pra ele. Patético, mas funcionou. E seria impossível que aquela velha por entre seus 60 anos retirasse tudo que supostamente disse.

Virou-se na cama, ficando de cara com a pintura azul céu da parede. Por culpa da janela fechada, o quarto estava enfumaçado e fedia a cigarro, um hábito que Castiel nunca achou que teria. Não tinha culpa, sabia que nicotina poderia ajudá-lo a se manter calmo.

16 de Setembro
18:46 •
Seis semanas haviam se passado, e com elas, quatro visitas.
Hoje teria uma quinta.

Os olhares tortos que Castiel recebiam nunca cessavam, mas ele não se importava. Desistiu de três psicólogas para que pudesse ficar alguns breves minutos ao lado de Dean naquela sala que exalava melancolia.

Era uma sensação inebriante poder ver Dean sorrindo, mesmo que sempre estivesse com algum corte ou olho roxo. Podemos dizer que ele não era o favorito de lá.

Em seis semanas o loiro já havia comprado briga com quatro "gangues" diferentes, e isso ainda iria lhe custar a vida. Não tinha culpa se tinha um temperamento forte, ainda mais quando citavam o seu moreno no meio.

O dono das orbes azuis se abraçava na esperança de anular um pouco do frio. A temperatura naquela tarde estava mais baixa que o normal, mas não seria isso que o impediria. O vento soprava em si, fazendo seu sobretudo voar para trás e algumas folhas baterem em suas pernas cobertas pelo jeans escuro. O céu acinzentado e melancólico trazia junto a si um ar pesado e um sentimento ruim ao moreno, que já começava a esboçar sinais de preocupação. Não sabia pelo quê exatamente, mas seu coração falhava a cada passo como se algo estivesse prestes a acontecer.

Em quarenta minutos já havia chegado no local, entrando pela grande porta cinza que ostentava a entrada, já seguindo caminho por entre as grades que davam visão ao pátio.

Lá, alguns - vários - brutamontes rodeavam um cara ainda maior, e era possível ouvir algumas risadas juntas a "ele teve aquilo que mereceu", "ninguém mandou o novato mexer com quem não devia".

Ignorou, por mais que seu interior borbulhasse contra isso. Uma mão o tocou no ombro por trás, fazendo-o virar e encontrando o rosto pálido de um dos caras que sempre ajudava Castiel quando estava por lá. Não lembrava seu nome, mas sabia que a atual face que o outro carregava não era a típica. Algo havia acontecido.

Castiel correu em direção ao único lugar que lhe fazia sentir algo bom. O velho apartamento de Dean. Desde que o último fora preso, ele havia jurado não entrar mais lá. Hoje seria a primeira e ultima exceção.

- Bem, temo que o senhor não saiba dos acontecimentos recentes. O senhor Winchester - Descobrira o sobrenome dele a pouco tempo atrás, e gostava de como ele soava, só não gostava de como soava naquela frase. - entrou em mais uma briga na última noite.

Subiu as escadas correndo, tentando chegar o mais rápido possível no local. Quando o fez, viu a porta ainda caída. Respirou fundo antes de entrar no cômodo, perdendo o ar quando e sentindo as lágrimas escaparem quando viu a cena.

- E, de acordo com as câmeras de segurança, eles se encontraram em um ponto cego, então não tínhamos chance de ter visto.

Tudo estava destruído. Os moveis revirados e quebrados até onde era possível, as paredes descascadas e pintadas em tinta vermelha com xingamentos e qualquer outra coisa que Dean poderia ser chamado. Aquilo havia sido um choque.

-  Já tínhamos avisado Dean para não se meter em mais confusões como está, ou ele já sabia no que elas poderiam resultar.

Seguiu até onde era o seu antigo "quarto". O barulho da madeira rangendo e o fino colchão que nem parecia estar entre seu corpo e os palets eram sensações que lhe traziam à tona tudo aquilo que já sentiu ali. Dor, amor, confusão, saudade. Retirou uma pequena 38 do bolso interno do sobretudo, que Dean havia lhe dado caso precisasse, e não pensou duas vezes em sussurrar um "Eu te amo" e aponta-lá para sua própria cabeça.

- Não vou mais me enrolar. Tudo que você precisa saber é que Dean não foi tão forte dessa vez. Ele não resistiu.

Dean está morto.

Castiel está morto.

E eles nem sequer tiveram tempo de se despedir.

Stockholmssyndromet •Where stories live. Discover now