Capítulo 04

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"O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos."

- Ana Jácomo

Narrado por Alyce

A tristeza é um sintoma da Síndrome de Asperger. Ela me ataca de forma inesperada e rápida. Estou feliz, mas de repente me torno triste. A bipolaridade não é um sintoma, mas a tristeza sim, e quase nunca noto que estou sendo vítima desse sintoma.

- Pessoal, essa é a Alyce. Ela vai participar do grupo de apoio por hoje, por causa de um imprevisto que ocorreu com o seu grupo na quarta-feira. - a mulher se apresenta como Lindsay e não diz seu sobrenome, provavelmente tentando despertar um sentimento positivo por ela.

- Olá, Alyce. - todos dizem em coro. Diferente do meu grupo, desse eu gostei, mas tenho um pensamento diferente quanto a esse tipo de atividade. Eu não considero a minha síndrome uma doença ou algo que me faça precisar de apoio. Eu tenho crises, sim, mas sinto que para aceitá-la, apenas preciso me sentir uma pessoa normal, coisa que não irá acontecer se eu continuar com tanta terapia e tratamento especial.

Me sinto envergonhada por ser alvo de tanta atenção, então o máximo que consigo fazer é levantar a minha mão esquerda e acenar rapidamente para todos que compõem o círculo em que estamos sentados.

- Eu posso começar hoje? - uma mulher morena e bonita pede, então meus pensamentos voam para longe.

Penso na sua aparição repentina na madrugada passada, penso na minha vontade de ter uma vida comum e não deixar mais que a síndrome me atrapalhe, penso no meu fracasso em reagir à sua presença ontem. Então, me torno triste, mas talvez dessa vez não seja por causa do sintoma.

~~~*~~~

Quando a sessão acaba, me levanto, desanimada, e vou para fora do lugar esperar o meu irmão, coisa que não dura muito tempo. Alan chega e eu entro apressada no carro, depois de desviar o olhar da biblioteca. Só não fui até lá porque sabia que Alan era pontual demais, e por isso não demoraria a chegar.

O meu irmão parece perturbado por algo, está quieto demais e não me cumprimentou como sempre faz, além de que aperta o volante com muito mais força do que deveria.

- O que foi? - nós perguntamos ao mesmo tempo. Ele por causa do meu desânimo e eu por causa da sua expressão carrancuda.

O meu irmão é bonito e muito parecido com o meu pai. Assim como Alyson, herdaram do meu pai os olhos amarelados e cabelos castanho-escuros.

- É uma garota, ela... - ele não era do tipo que expressa o que sente ou pensava, mas quando fica sozinho comigo, Alyson, ou com nós duas, se sente a vontade para falar (não que seja algo frequente).

- Uma garota? Espera, na semana passada você não disse que nunca se envolveria com ninguém? - brinco, mesmo sem humor.

- Eu disse, mas conheci alguém. Ela é diferente, ela... Ela é animada e nunca para de sorrir, e isso me faz bem. - diz e parece com mais raiva ainda.

- Vocês estão tendo algo? Por que ela te deixou tão nervoso assim? - paramos em um sinaleiro e ele finalmente me olha, parecendo cansado.

- Porque ela tem uma moto. - ergo uma sobrancelha.

- Como assim? - gargalho. Pelo menos ele me fez rir.

Asp. - HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora