Capítulo 05

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"E era por isso que ela gostava daqueles (a)braços. Os apertados. Porque era ali. Era ali que ela encontrava tudo o que tinha de mais bonito."

- Caio Fernando Abreu

Narrado por Alyce

  No dia onze de novembro é comemorado o Dia dos Veteranos, esse é um feriado nacional nos Estados Unidos. Nesse dia nós homenageamos os que serviram em guerras e toda a nação os agradece pelo serviço. Isso inclui a minha família, que faz um jantar para praticamente homenagear só o meu avô, um ex-soldado. Ele nos fazia comemorar tal feriado como se fosse o Dia de Ação de Graças ou até o Natal. Quando morreu, cinco anos atrás, decidimos continuar mantendo a tradição e comemorando por ele.

  Em sextas-feiras eu só uso roupas com mangas longas. Não importa como esteja o clima e nem onde eu vá, são sempre assim. É como se eu me sentisse incomodada demais para usar roupas que não sejam desse jeito, e por isso eu demoro mais do que deveria para me arrumar e ir para a sala, já que estava procurando uma blusa adequada para o nosso almoço em família.

  Eu vou para a sala de jantar ainda mexendo no celular e procurando por Owen na internet. Eu já o procurei em todas as redes sociais que conheço, mas não encontrei nada, e o Google me mostrou apenas uma criança com esse nome e outras páginas que não tinham nada a ver com ele.

- Ei. - meu pai acena em direção ao meu celular, e eu o guardo no bolso da calça. Geralmente temos mais familiares conosco, mas o meu pai teve um desentendimento com um tio e então decidimos comemorar sozinhos. Nós oramos antes de almoçarmos, como sempre fazemos nesse dia, e então o almoço segue em silêncio.

  Os meus pais estão desanimados por causa da saudade do meu avô que todos sentimos, e Alyson não tenta nos animar como sempre. Eu finalmente a olho e vejo que estava de olhos fechados e massageando suas têmporas.

- Aly? - ela não me olha, parece nem ter ouvido - Aly? - repito, então me nota - O que foi?

- Só um pouco de dor de cabeça... - diz e começa a comer. Eu e Alan nos entreolhamos.

- Vamos comprar um remédio. - eu digo, já com Alan de pé. A minha mãe ia se pronunciar, mas Alyson a interrompe, se levantando.

- Vou com vocês. - então saímos.

  Eu vou no banco de trás, enquanto Alyson vai no do passageiro e Alan no do motorista. Eu vou olhando para as ruas, talvez na esperança de que uma coincidência enorme aconteça e eu o encontre andando por aí, mas também penso nas probabilidades de que não faça uma faculdade pela internet. Eu sinceramente não acho que possa ter tantos problemas assim caso pare de estudar em casa.

  O carro para e eu levo alguns segundos para perceber, então desço e os sigo até a farmácia, e paro em uma prateleira de fraldas, olhando os bebês gordinhos e bonitos que fazem propaganda das marcas. Olho ao redor para ver se ninguém me vê e pego um dos pacotes de fraldas, o que mais gostei. O plástico é enfeitado por diversos bebês e todos riem enquanto estão deitados somente de fralda.

- Que isso? - olho para trás e vejo Alan e Alyson me olhando. Alyson está a ponto de rir, enquanto Alan está de cara fechada.

- O quê? - franzo o cenho. Ele pega a fralda das minhas mãos e a coloca de volta na prateleira, então me puxa para o carro, segurando uma sacola com o remédio de Alyson - Não entendi nada... - reclamo e reviro os olhos.

- Se chama paranoia, Aly. Paranoia e ciúmes. - é a vez de Alan revirar os olhos, antes de jogar a sacola em Alyson e dar a partida.

  Nós andamos por algumas ruas e eu não consigo parar de pensar na palavra "faculdade". Eu quero cursar astronomia e não acho que dê certo fazer isso estudando a distância.

- Eu não quero fazer faculdade online. - digo, antes de virarmos uma rua.

  A rua é escura e o carro que vem em nossa direção tem um dos faróis queimados, além do outro quase completamente apagado. Um barulho extremamente doloroso se faz quando os dois carros tentam frear, e aperto os meus ouvidos com dor. Nenhum dos carros consegue parar e essa é a única coisa da qual me lembro antes de desmaiar.

~~~*~~~

 Eu tento abrir os olhos pela terceira vez e finalmente consigo, mas a minha boca está seca demais para falar. A claridade me força a fechar os olhos outra vez e eu consigo ouvir vozes um pouco distantes.

- Se tiver machucado ela, eu acabo com você. - o meu irmão diz, nervoso.

- Se eu tiver a machucado, eu mesmo faço isso... - outra voz murmura, também impaciente.

  A minha visão se fixa no rosto do meu irmão e ele suspira de forma aliviada. Percebo que estou com a cabeça apoiada no seu colo e que acabamos de sofrer um acidente, não vejo Alyson e me sento rapidamente, a procurando.

- Alyson? - olho ao redor e a vejo em pé ao lado de outro homem. Os dois estão em ligações e ela suspira quando me  vê.

- Sim, ela está bem... - diz para o telefone.

   Noto que há outra pessoa atrás de mim e me viro. Ele. Eu sorrio instantaneamente, e ele retribui. A sua testa está sangrando e eu aponto para ela.

- Toda vez vai ser assim? - pergunto, me esquecendo completamente do meu irmão ao meu lado.

- Na primeira não foi. - ele me dá uma piscadela. É impossível não me sentir elétrica ao notar que ele se lembra da primeira vez em que nos vimos.

  Me lembro de Alan e a sua sobrancelha erguida me faz ter a certeza de que mais tarde ele vai me perguntar sobre isso. Eu e Owen Atlas.

  O de olhos amarelados se levanta e me ajuda a levantar, e Owen faz o mesmo, deixando de ficar de joelhos. Eu paro de pensar nele ajoelhado ao meu lado esperando que acorde, e foco o meu olhar nos dois carros amassados. Está de tarde, mas o céu está nublado e deixando a rua escura. A minha irmã e o outro homem, que provavelmente era um amigo de Owen (considerando o carro parado ao seu lado), estão a conversar de forma séria e não parecem estar muito calmos um com o outro.

- Quem foi o errado? - pergunto, porque o carro de Owen estava com os faróis queimados e Alan entrou na contra-mão. Os dois se olham de forma assassina.

- Os dois. - a minha irmã diz, agora perto de nós. Ela tem as mãos na cintura e sobrancelhas juntas numa careta.

- Isso, os dois. - o outro diz. Ele tem cabelos cobertos por uma touca, pele bronzeada e olhos de terra.

  Os dois carros têm suas frentes amassadas, mas não estão na pior das situações.

- Um amigo está vindo ajudar a levar os carros. - o de olhos de terra diz e eu e o meu irmão assentimos.

- Só eu desmaiei? - desvio o meu olhar de Owen para Alyson.

- Sim. Você foi se abaixar por causa da dor e bateu a cabeça na janela. - isso não faz sentido para mim, mas eu assinto.

  Alguns minutos depois, comigo encarando Owen fixamente e ele me dando sorrisos pequenos e olhares um pouco confusos, o amigo do homem de olhos de terra, Zack, chega.

- Vamos deixar o carro de vocês lá antes. - Zack diz e eu penso em mil formas de fazer com que Owen Atlas passe um pouco mais de tempo comigo.

Os olhares que Alan me lançava a cada vez que eu olhava para Owen chegavam a ser assustadores, e eu não achava que isso vinha só por causa do seu ciúme extremo. Eu sei que ele queria me repreender e dizer para parar de falar com ele, mas não podia ali. Algo me diz que eu devo dar mais atenção a isso e me livrar do homem dos olhos noturnos, mas eu não ligo.

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now