Capítulo 20

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"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços, o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive,
O mais complicado e o mais simples para mim."
- Roberto Carlos

Narrado por Owen

Ficamos acabados. Eu fiquei ferrado e, ás vezes, é difícil respirar.
O problema é que eu tenho problemas, e muitos, mas Alyce também tem. Nós sabíamos disso, é claro, mas nem sempre o amor é suficiente para dar certo.

Dobro uma esquina e coço a nuca vendo que não há ninguém aqui. Eu poderia simplesmente ir procurar alguma droga, mas sei que isso me faria ir atrás de Alyce e pedir desculpas, e não quero ir até ela por vergonha – não dela, é claro, mas de mim mesmo.

Eu fiquei tão focado no quanto tenho uma vida ferrada que acabei não cogitando a ideia de que ela talvez tenha problemas assim como eu tenho.

Ainda não tenho dúvidas de que a vida dela não é tão ruim quanto a minha, assim como a de muitos são, e é claro que isso me irrita e faz com que eu tente ser normal, mas o egoísmo acabou me cegando, porque Alyce me disse várias vezes que também consideravam ela estranha e até louca, mas não liguei.

Outro dia, por impulso, eu disse o que tanto me irrita em mim – a síndrome de Riley-Day – porque achei que ela fosse me entender, mas agora percebo que o porquê dela me compreender vai além do que eu imaginava.

Ela é autista. Eu não notei e me sinto um tolo por isso, mas, caramba, que droga eu fiz?

Afastei Alyce e mal sei o motivo, agora ela provavelmente acha que sou como os imbecis que a julgam sem saber. Na verdade, talvez eu seja. Há um gosto amargo na minha boca que faz com que eu me sinta um otário preconceituoso.

Uma hora atrás, eu cheguei a pensar que não posso ter mais anormalidades na minha vida, e que ela poderia me afetar tanto por ser como é. É claro que, agora, com a mente mais limpa, eu me socaria por ter pensado algo tão ridículo, caso isso pelo menos me causasse dor.

Entro em outra rua e encontro uma suave luz vindo de um beco, além de vozes baixas conversando entre si. Finalmente.

Eu acredito que se me machucar o bastante, vou conseguir sentir dor. Preciso que doa, preciso que passe a doer, ou terei um fim igual ao do meu pai e Axel ficará sozinho.

Quanto mais me aproximo, mais as vozes se tornam altas. Estou quase chegando no beco que provavelmente guarda dois ou mais drogados, quando ouço alguém me chamar.

– Owen. – repete mais alto, vendo que não parei de andar. As pessoas que conversam no beco se calam no instante em que Theo faz o meu nome ecoar pela segunda vez. Cerro os punhos e me viro, sem paciência – Precisamos conversar.

Ele quer falar de Alyce, isso é óbvio. Mais cedo, os dois se viraram e ele a levou para casa, simplesmente, então fiquei pensando no quanto ele gosta de ser meter com as pessoas que me cercam. Primeiro os meus amigos, depois Axel e, agora, Alyce. Theo gosta não só de me afetar, mas também os que são importantes para mim, ou os que ele acha que são.

– Acredite, não é uma boa hora para você. – não falo isso porque é uma madrugada e provavelmente estamos num lugar perigoso, mas ele me ignora.

Eu preciso descontar a minha raiva em algo e, desde que Theo fez o que fez, eu venho descontando em mim mesmo – só que agora ele está perto e as coisas podem muito bem mudar.

– Eu a levei para casa e ela estava chorando muito. – ergo uma sobrancelha.

– E o que eu tenho a ver com isso? – tudo.

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now