Capítulo 2: Incidente infeliz

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As horas seguintes passaram um pouco mais rápido do que eu imaginava. Logo depois do encerramento da aula de estudos sociais, fui encontrar Ayato no portão, que me esperava com os cabelos bagunçados e sorriso torto como sempre.

- E aí rapaz?- Me cumprimentou com um soquinho de leve seguidas por algumas risadinhas.

- Dia legal, né?- Respondi com ironia, e retribuí seu gesto.

- Nem me fale. Desanimo só de pensar que ainda tem mais um ano inteiro de dias iguais a esse...

- Você ainda está numa situação melhor que a minha...- estava prestes a começar mais um discurso sobre a ingratidão do Ayato quanto à escola, por motivos óbvios, mas fui interrompido por ele:

- Não começa com essa bad, vai?- Ele fez uma expressão triste, mas logo se reanimou- Tá a fim de ir lá em casa? Quero te mostrar minhas teorias e a atualização daquele jogo novo que eu te falei...

Não tive muito tempo pra responder, e acabei sendo arrastado por Ayato até sua casa, enquanto ele próprio tagarelava sobre coisas que eu geralmente teria muito interesse sobre, mas que naquele momento em especial, estava muito distraído para me preocupar.

Chegando em seu quarto, não foi diferente. Minha cabeça estava em outro lugar. Olhava para Ayato mexendo em seu computador- meio esfarrapado, por sinal- cheio de empolgação, abrindo desesperadamente vários arquivos ao mesmo tempo.

Fingia prestar atenção em suas teorias, e tentava realmente me interessar sobre o assunto, mas tudo em vão. Só conseguia pensar numa forma discreta de devolver a pedra- que havia guardado com cuidado na mochila, e inspecionava distraidamente deitado na cama de Ayato- sem que a garota de cabelos ruivos começasse a pensar em mim como um perseguidor ou algo assim.

Depois que devolvesse a ela, teria e sensação de "dever cumprido" e poderia voltar ao meu monótono ano colegial.

Pelo menos esse era meu plano.

Senti que ficar ali sem o interesse que deveria ter pelos assuntos de meu amigo era, minimamente, injusto com ele, principalmente pelo fato de que Ayato pensava que eu estava me entretendo e esfriando a cabeça- o que só piorava a situação.

- Cara, tô bem mal... Bateu uma dor de cabeça forte, acho que vou pra casa. Amanhã a gente se fala, falou?- Inventei a primeira desculpa que me veio à cabeça e só me lembro de cruzar a porta sem nem esperá-lo responder, somente sentindo que ele me olhava confuso antes de ir embora.

[...]

No dia seguinte, havia decidido acabar com aquela história o mais rápido possível. Imaginei que a garota de cabelos ruivos pudesse sentir falta de seu "objeto perdido" e pensar que eu pudesse tê-lo roubado, perdendo assim qualquer boa impressão que tivesse deixado a ela.

Talvez estivesse um pouco paranoico. De qualquer forma, precisava encontrá-la.

Passei boa parte da entrada procurando-a. Primeiro passei pelas salas, verificando o lugar em que ela havia sentado, depois pelos corredores, pátio, terraço, laboratórios e alguns clubes, e por último, a biblioteca.

Já estava perdendo as esperanças quando avistei-a, sentada em uma das mesas, lendo um livro, concentrada. Como antes, estava contraída e sua a franja caía por cima dos olhos.

Me aproximei um pouco e toquei de leve em seu ombro.

- Com licença, eu...

Hantai no SekaiWhere stories live. Discover now