Capítulo 3: Dúvidas

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Pensei em chamar uma ambulância, mas não parecia ter sido algo tão grave apesar de seus ferimentos. E ela havia me pedido para não me envolver, deduzindo assim, que talvez não quisesse que ninguém soubesse o que aconteceu. Aliás, o que havia acontecido ali?

Decidi levá-la para minha casa. Minha mãe era médica, saberia cuidar da situação.

Peguei-a com muito cuidado em meus braços, para carregar seu corpo até a residência, que por sinal não estava muito longe.

Ela era surpreendentemente leve.

Logo que cheguei, notei que não havia ninguém em casa.

Droga.

Coloquei-a deitada em meu quarto e fui buscar o kit de primeiros socorros. Molhei um pano em água quente e pûs sobre sua testa, e, com muito cuidado, fui limpando seus machucados, colocando curativos nos pequenos arranhões.

Depois de fazer o melhor que podia com suas queimaduras, sentei na cadeira ao lado de meu computador e observei Mary dormir tranquilamente. Ela parecia acabada, apesar de tudo. Os cabelos jogados na frente dos olhos, o uniforme sujo e as meias rasgadas.

Poderia ela ter se envolvido em alguma briga, ou algo do gênero?

Não conseguia imaginar aquela garota tão delicada e tímida fazendo isso. Mas, ao lembrar dos acontecimentos do dia anterior, cogitei que tal suposição até seria possível. Alguma agressão contra sua vontade, claro.

Não deveria estar me preocupando tanto com aquilo.

Depois de alguns minutos refletindo sobre, Mary finalmente acordou. Sentou-se na cama, um pouco desnorteada, e passou alguns segundos olhando pra baixo, perdida. Logo voltou a si e começou a olhar para os lados, confusa.

Quando seus olhos chegaram até mim, ela se agitou e levantou rapidamente.

-Maruko? O... o que é que...- Olhou para baixo para inspecionar seus braços. Ao notar os curativos, sua expressão e seu rosto foram invadidos por pavor.

Segundos depois, seu comportamento mudou completamente.

-Ah! Agradeço mais uma vez por sua ajuda, mas eu realmente preciso ir agora!- Forçou um sorriso e levantou-se, caminhando apressadamente em direção à porta.- Estou ótima, não se preocupe. Adeus, Maruk...

Sem que pudesse pensar, atirei-me contra a porta, impedindo sua passagem.

Não deixaria ela fugir novamente.

- Mary, olhe bem para o seu estado- Disse, com os braços ainda esticados contra a porta- Acha mesmo que eu vou acreditar que está tudo bem? O que foi que aconteceu lá fora?

Ela me encarava fixamente, mas não dizia sequer uma palavra. Continuava com um sorriso falso estampado no rosto.

- Não foi nada, eu juro.

Descobri que um dos pontos fracos daquela menina era mentir.

Encarei-a de volta com uma expressão séria e desconfiada, e continuei bloqueando a passagem. Depois de longos minutos assim, Mary finalmente cedeu.

Deu um passo pra trás, ainda contrariada. Foi contraíndo os ombros, e aos poucos, seus olhos encheram-se de lágrimas.

- D-desculpe...

E caiu em prantos.

Fui ao seu encontro, sem saber ao certo o que fazer, completamente desconfortável com a situação. Pûs a mão em seu ombro, dizendo com cautela:

- E-ei... Não era a minha intenção... Caham- Limpei a garganta, ainda constrangido por ter feito uma garota chorar.- N- não precisa ficar assim...

Ela ergueu a cabeça, com o rosto vermelho e coberto de lágrimas.

- Eu realmente não posso te dizer, mas, juro que se pudesse, o faria-
completou, em meio a soluços.

- Calma- Sentei-a delicadamente sobre a cama de novo.- Respira. Desculpe se fui grosso. Só estou preocupado- deixei escapar algo desnecessário, mas logo prossegui- Você está precisando de ajuda? Está sofrendo bullying, ou algo do tipo?

Mary me olhou confusa, completamente contrariada.

- Não!- Arfou- Não é nada disso, não! Por favor, não confunda as coisas... É que...- Ela fez uma longa pausa e suspirou.- É algo que está além da sua compreensão.

Foi minha vez de fazer um olhar confuso.

- Sei que você não é má pessoa- continuou- Já percebi isso. Ninguém com más intenções traria um quase estranho pra sua própria casa apenas para cuidar de seus machucados- disse, enquanto mostrava seus braços- Por isso, ainda sinto que posso confiar em você. Mas mesmo assim, ainda é muito cedo para revelar essa informação...

Deus, do que ela estava falando?
Ou melhor, no que eu estava me envolvendo?

- Como assim? Que informação? - Indaguei, inconsequente.

- O que aconteceu lá fora- completou, com calma- O que me deixou assim, é algo bem pior do que você imagina. Por isso não quero envolvê-lo.

À medida que Mary tentava explicar a situação, minhas dúvidas só aumentavam cada vez mais, a ponto de não saber mais como tentar compreender e ficar quieto.

Infelizmente, sou um cara confuso.

- Sei que você está repleto de perguntas- Ela tirou as palavras da minha boca- E posso até tentar respondê-las, mas preciso de confiança em você, e além de tudo, não quero deixá-lo em situação de perigo.

- Acredito que posso conquistar sua confiança aos poucos- Sorri de leve.- Tenho essa mania de encanar com uma coisa a qual quero descobrir sobre.

- Não é o tipo de coisa muito divertida de se descobrir- falou baixinho, abrindo um sorriso triste.

Não havia mais nada para ocupar aquele ano chato. Por que não me arriscar um pouco?

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