Capítulo 8- Exercício

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- A terra,- Continuou- Corresponde ao corpo, à matéria, a tudo que é sólido, onde o Espírito se aloja, é o Templo da Alma. Pessoas práticas, fiéis verdadeiras e responsáveis são melhores com este elemento. Têm vários tipos de ataques bons, podendo invocar qualquer ser vivo do subsolo. Sua defesa também pode ser muito poderosa, dependendo da origem do mago. Magos negros podem sugar energia de árvores e plantas para que consigam se regenerar, mas magos servintes ao bem são contra fazer mal à tais seres vivos, portanto perdem muito em defesa.

Fez-se uma pausa e Mary virou uma mais uma página do livro.

- Por fim, o ar. Este está relacionado a todo o plano mental, a interpretação da vida através de sua forma de pensar, exprimir ideias, e relacionar tudo. Seres comunicativos, ágeis, inteligentes, sociáveis e versáteis são os indivíduos remanescentes desse título.
O ar possui ataques semelhantes aos da água. Pode "moldar" o vento como quiser, criando furacões e tornados em volta do oponente. Para se defender, são os únicos capazes de invocar dragões de vôo, utilizados nas batalhas com muito privilégio.

Ela respirou fundo, finalmente terminando sua extensa explicação. Seus ombros relaxaram e aquele longo, misterioso e ensurdecedor silêncio logo ecoava na misteriosa e fria caverna oca.

- Tendo uma visão geral de vitórias e derrotas de cada um, a sequência ficaria mais ou menos assim:-Disse, apontando uma figura de dentro do grosso livro- Água ganha de fogo; Fogo ganha de Ar; Ar ganha de Terra; e Terra ganha de Água. Compreendeu?

Assenti com a cabeça, suspirando.

Nunca imaginei que magia envolvesse tantas regras. E só de imaginar que tudo aquilo estava apenas começando, já tinha vontade de desmaiar.

- Agora, vamos testar uma coisa. - Disse, me puxando pelo braço com um pouco menos de delicadeza que fizera nas demais vezes, e me dirigiu à uma parede lisa. Em seguida, entregou-me uma varinha. - Gostaria de ver como você se sai segurando uma pela primeira vez. Por enquanto não posso te ensinar nenhum feitiço, mas essa é uma etapa importante para saber como a magia reagirá em seu corpo.

Engoli em seco.

Ela se aproximou de mim, passando o braço em volta das minhas costas, segurando sua varinha com uma mão, e a minha com a outra.

- Respire fundo- instruiu.-Faça o mesmo gesto que eu, está bem?

E apontou a varinha em direção a parede. Fiz o melhor que pude para imitá-la.

- Assim?- Perguntei-a olhando suas mãos.

- Não, um pouco mais pra cima- Disse, tocando meus dedos e levantando-os. Nossos olhares se encontraram por um segundo e eu acabei soltando o objeto.

Inclinei para buscá-lo, e ao encarar-na de volta, notei que tinha enrubecido por completo.

Meu rosto também havia esquentado.

- Desculpe. - Dirigi as palavras um pouco trêmulas, o que era bem estranho para mim.

- Não tem problema...- Respondeu, e limpou a garganta- Agora, sua primeira lição será concentrar-se em acender uma chama em qualquer lugar desta gruta.

- Em qualquer lugar...? Mas como vou saber se acendeu?

- O foco aqui é a visualização, então não precisa se preocupar se o comando foi bem-sucedido ou não. Feche os olhos e imagine o mais forte que conseguir. Isto é apenas um exercício, relaxe.

Obedeci-a e segurei a varinha com mais força.
Imaginar.
Imaginar.
Imaginar.
Visualizei a ponta de uma faísca azul emanando aos poucos de uma das velas do local. Conforme a faísca ficava mais forte, uma enorme chama avermelhada a acompanhava, deixando a impassível luz cada vez mais brilhante. Esta ainda continuava a crescer, até que seu calor conseguiasse ultrapassar até mesmo as sensaçōes de meu corpo, fazendo-me abrir os olhos apressadamente.

Ao me virar, para minha surpresa, a primeira vela em cima da mesa atrás de Mary continha a exata chama até então só descrita por minha própria mente.

Não pude conter o riso e o orgulho sentido por completar o desafio que nem exigia de mim tanto como eu havia feito. Recebi um doce sorriso de minha professora como sinal de aprovação e agitei-me ainda mais.

- Você viu? Eu consegui!- Disse, apontando para meu feito.

Recebi mais um alegre olhar satisfeito, prosseguido das palavras:

- Parabéns. Você se saiu melhor do que eu imaginava... Será um excelente mago.

Tudo aquilo havia me empolgado de tal forma que não pude deixar de conter minha felicidade, e ignorando completamente qualquer formalidade que ainda tivesse de existir naquele recinto, passei meus braços por volta de Mary dando-lhe um forte abraço.

Permanecemos ali, interligados por meio daquele súbito gesto por mais tempo do que deveríamos, e por fim, soltei-a, percebendo que possivelmente receberia punições.

Mas o que vi em seus olhos foi bem diferente de qualquer sinal de raiva ou desaprovação; seu rosto exibia uma expressão surpresa, que não chegava a demonstrar indignação, muito menos repulsa. Talvez constrangimento, a julgar por suas bochechas vermelhas comuns sempre que situações como aquela aconteciam, mas com uma pontada de satisfação aparente. Ao menos foi assim que consegui interpretá-la.

Confesso que pensei que meu ato rebelde fosse ser completamente rejeitado, mas só então percebi, aos poucos, que aquilo tudo não se tratava apenas de um simples treinamento obrigatório, como também de uma relação de confiança e amizade que havíamos conquistado. E ao que meus pensamentos chegaram nisso, um frio na barriga começou a me assombrar, revelando que meu coração talvez quisesse um pouco mais que isso.

Mas afastei tais suposições imediatamente, percebendo que provavelmente estava tão enrubecido quanto Mary.

- Hum... Obrigado- Concluí.

Ela balançou a cabeça.

- Não há de quê. Eu que deveria te agradecer pela... Confiança.

À essa altura, já não estava mais olhando-a diretamente nos olhos, e fomos interrompidos pelo alto ecoar de um sino batendo, indicando, pelo horário de Tóquio, que o meio-dia havia chegado.

- Estou com fome- Disse, quebrando o silêncio- Não quer fazer uma pausa? Eu trouxe lanches!- Lembrei, e imediatamente fui buscar a mochila deitada próxima a uma das estantes, retirando em seguida os potes contendo os petiscos rapidamente preprados pela manhã por mim.

- Puxa...!- Ela riu- Realmente não esperava por isso... Podemos fazer uma pausa, sim.

E nos sentamos diante à mesa para um rápido intervalo depois de todas aquelas lições recém-começadas.

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