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02 de dezembro de 2016 - Um dia para a guerra

Point View Of Lauren

Ainda não consigo acreditar que conseguimos dormir dez horas sem nem uma interrupção. De acordo com as mensagens em meu celular e com meus pais, nada estranho aconteceu. E isso é estranho. Todos os presságios chegaram pela manhã ou madrugada, quando menos esperávamos, mas agora não havia acontecido nada. Mandei uma mensagem para Camila assim que levantei da cama, mas provavelmente ela ainda está dormindo.

É estranho não tê-la comigo pela manhã já que me acostumei a dormir com ela quase todos os dias, e nos últimos não têm sido assim. Tomar café sem ela também se tornou estranho, mas suportável, apesar de eu ter checando o celular a cada cinco minutos na esperança de uma mensagem dela.

Não demorou nem dez minutos para que minha mãe me pedisse ajuda para o almoço. Ela estaria de férias até depois do natal, o que significa que meus irmãos e eu seriamos ligeiramente escravizados.

- Então, você e Camila - ela começou enquanto pego outra cenoura para descascar.

- Eu gosto dela - disse contida. - Gosto mesmo dela...

- Gosta? - Ela perguntou.

Eu a olhei, e ela havia dado uma pausa no corte das batatas para me fitar. Tinha uma sobrancelha arqueada e o lábio ligeiramente torcido, como costuma fazer quando quer uma confissão sincera minha ou dos meus irmãos - principalmente quando se trata de alguma besteira que fizemos.

- Tudo bem, mais que gostar - eu disse enquanto volto a descascar o legume em minhas mãos. - Acho que... Vou pedi-la em casamento, na verdade... Quando ela começar o terceiro ano. Foi o que pensei, mas...

- Está insegura?

- Um pouco... - Murmurei. - Ela é minha alma gêmea, mamãe... - Sorri meio boba deixando a cenoura de lado e pegando outra. - Literalmente. E não vamos casar enquanto ela ainda está cursando a escola. Sabe?

- Então quer mesmo se casar? - Ela pareceu surpresa. - Nunca pensei que você iria querer isso algum dia... Quero dizer, entre os seus irmãos, você sempre foi a mais desapegada de compromissos amorosos. Mal sei como Alexa conseguiu lhe convencer namorar.

- Simples - respondi. - Era mais fácil pra desviar dos flertes interesseiros. Mas Camila é diferente e eu não quero perder isso... Bom, vou pensar sobre! Ainda tem a minha formatura, e uma guerra.

- Amanhã - ela disse baixo.

- Eu sei... É tão estranho - sorri descrente. - Amanhã à noite teremos uma guerra na floresta, estamos esperando algo que vai marcar isso hoje e... Estamos dormindo, ou cortando vegetais para o almoço.

Senti sua mão acariciar e apertar meu ombro para então me puxar com cuidado. Deixei a faca na pia, junto da cenoura semidescascada e me virei para minha mãe. Ela está sorrindo, com segurança. Suas mãos quentes envolvem meu rosto com cuidado, e ela suspira suavemente:

- Você não sabe o quanto estamos orgulhosos de vocês - ela disse. - Em meio a tudo tomaram as rédeas e têm lutado com unhas e dentes pelo que acreditam e pelo que herdaram e por pessoas que sequer conhecem. Por humanidade provavelmente perdida por si... Vocês têm nos dado orgulho mais do que nunca. E sei que continuarão assim acima da guerra, vencendo ou perdendo. Sabemos o que pode acontecer em uma guerra, vocês sabem... Por isso, tenha isso em mente. E não permita que seus irmãos esqueçam.

Eu segurei seus pulsos com carinho e meus olhos lacrimejaram, tornando minha visão turva.

- Nós vamos ficar inteiros - sussurrei. - Preciso acreditar nisso.

Guardiões - Herdeiros de SangueWhere stories live. Discover now