Capítulo I

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2011
Morar em Montreal não seria ruim, o problema nunca foi o lugar e sim a companhia, ter que dividir espaço com Phillip e minha mãe, tornava qualquer ambiente insuportável. Contudo de todos os lugares existentes, em Montreal eu tinha algo importante que me foi tirado após o falecimento de meu pai: minha família paterna.
Minha família sempre foi pequena, por parte de mãe não tinha parentes próximos e ela não gostava de falar sobre sua história, soube apenas que meus avos faleceram enquanto ela e meu pai namoravam e logo casaram, após sua gravidez não planejada. Meu pai tinha uma irmã com quem era muito apegado e visitávamos todos os meses, dificilmente na companhia de Emma, pois as duas não mantinham boa convivência. Tia Bethy tinha um filho, chamado Leo, meu primo e até começo de minha adolescência, melhor amigo. Nós éramos inseparáveis, amávamos nos divertir e aprontar várias traquinagens juntos, em todas Leo acabava levando a culpa sozinho, pois segundo ele, esse era o papel do homem: proteger a menina.
Com o falecimento de meu pai, meu contato com eles foi apenas pelo telefone, minha mãe tentou me afastar ao máximo deles, o que não me fazia bem, pois de um dia para o outro, tudo que amava acabou sendo tirado de mim.
Quando mudamos para Montreal a primeira coisa que fiz foi ligar para Tia Bethy e contar a novidade. Ela me passou o endereço, pois fazia tempo que não ia para cidade e não lembrava exatamente como chegar em sua casa e marquei de visitá-la no próximo domingo. Tive que brigar, discutir e me impor para conseguir o aval de minha mãe, que mesmo não ligando para minha felicidade, parecia gostar de me ver sozinha e afastada de qualquer pessoa capaz de me fazer bem.
Ao pesquisar o endereço de Tia Bethy, buscando o melhor caminho de minha casa até a sua, sorri ao perceber que o endereço ficava próximo, poucas quadras me separavam de pessoas que amava muito e sentia saudade de poder ver quase sempre. No domingo após o almoço, organizei a cozinha e me despedi de Emma indo até a casa de meus tios, ela não havia mudado muito tornando fácil achá-la. A cada passo dado, lembrava de algum momento que havia vivido lá e tive que ser forte para segurar a lágrima que insistia em cair assim que alguma lembrança de meu pai tomava conta de minha mente.
Toquei a campainha e fui recepcionada por um sorriso contagiante.
- Você já está uma mocinha, tão linda! – Tia Bethy falou assim que abriu a porta.
- Obrigado. – Sorri tímida abraçando-a.
- Seu pai ficaria tão orgulhoso, que saudade de você minha menina, vem, fiz bolo, espero que ainda goste. – Sorriu me guiando até sua cozinha.
O interior da residência também não havia mudado muito, era um sobrado muito bem decorado e ao mesmo tempo simples, na sala havia alguns quadros com fotos de toda família, inclusive um meu com meu pai e outro onde eu e Leo estávamos cobertos de lama!
- Está uma delicia. – Falei sentando ao seu lado na sala.
- Aproveite e coma antes do Leo sair daquela garagem, ele e os garotos só saem para comer, e comem tudo que vem pela frente. – Ela riu falando do filho.
- Como ele está? – Perguntei curiosa.
- Mulherengo e barulhento. – Respondeu rindo. – Ele e alguns amigos resolveram criar uma banda, ficam enfurnados dentro daquela garagem todos os dias, segundo Leo, aquilo lá é o novo solo sagrado e ninguém sem autorização pode pisar ali.
- Eu falei pra ele não comer bolinha de sinamão* quando era pequeno, mas pelo visto não adiantou. – Falei rindo e fazendo tia Bethy gargalhar.
- Hey, eu ouvi! – Leo apareceu com um prato cheio de pedaços de bolo.
- Aonde você vai com isso menino?! – Minha tia levantou pegando o prato de sua mão.
- Estamos em um momento de inspiração do qual não podemos parar, mas temos que comer, sabe como é, tenho que manter as forças. – Leo falou debochado e se aproximou me dando um abraço. – Bom te ver Nathy.
- Bom te ver também. – Falei rindo da careta que minha tia fazia enquanto Leo debochava.
- Vou nessa, amanhã a gente se fala, você vai estudar na mesma escola que eu.
- Ok. – Sorri.
- O Leo vai te ajudar amanhã, se ele não te tratar bem me avise que coloco esse pentelho de castigo. – Tia Bethy disse bagunçando o cabelo do filho.
- Já falei que vou cuidar da Nathy, ai meu cabelo! – Ele saiu brabo, tentando arrumar ou desarrumar aquilo que ele tem em cima da cabeça.
Logo tio George apareceu, ele sempre foi muito gentil, mas ocupado ficava pouco em casa, muitas vezes passava os domingos trancando no escritório resolvendo assuntos de trabalho. Aquela tarde literalmente voou, foi uma das tardes mais agradáveis que tive e não queria precisar voltar para casa. Tia Bethy falou muito pouco sobre minha mãe, apenas perguntou cordialmente como ela estava e como era minha relação com meu padrasto. Não menti, mas omiti muitas coisas, falei apenas que tínhamos pouco contato, mas que estava tudo bem. No final do dia ela ligou, garantido que eu havia chegado bem em casa e reforçou o que disse na presença de Leo, que não era para me preocupar, pois ele ficaria comigo e mostraria toda escola.

Xx

Primeiro dia é sempre um tanto constrangedor, nunca gostei do novo e pensar em estudar em uma escola enorme sem praticamente ninguém, pois conhecia Leo, mas provavelmente não o veria, me dava um pouco de recesseio.
Acordei cedo, mesmo sob protestos do meu eu interior e sai da cama vestindo o uniforme que estava dobrado em cima de um criado mudo ao lado da cama, deixava tudo separado na noite anterior buscando aproveitar o máximo possível aquele móvel que considero quase da família minha cama .
Ouvi Emma, se despedir de Phillip e sai do quarto indo em direção a cozinha.
- Você está atrasada! – Ela disse retirando a mesa do café.
- Faltam 20 minutos ainda e chego lá em menos de 10. – Respondi pegando uma maça para comer.
- Mas a escola é nova e você precisa passar na diretoria antes. – Justificou.
- Se não tivéssemos mudado... – Comecei a reclamar, mas logo fui interrompida.
- Não preciso citar as razões de nossa mudança, muito menos o quão bom vai ser morar aqui. – Falou sem paciência.
- É, vai ser ótimo mesmo! Quero passar todos os dias com a tia Bethy. – Provoquei.
- Não quero você sendo influenciada por aquela lá . – Disse com desdém.
- Ela cozinha melhor que você. – Falei fazendo careta ao provar um bolo que tinha na mesa.
- Vai logo para escola e não fique aqui me incomodando, garota. – Falou ainda mais irritada, ela odiava ser comparada a tia Bethy, até porque perdia em todas as comparações.
Não respondi nada e fui para escola rezando mentalmente para achar logo a sala de aula e não pagar nenhum mico.
Fazia pouco mais de três semanas que morávamos em Montreal, Phillip tinha recebido uma promoção no emprego e a mudança se fez necessária, pois ele teria que trabalhar em uma filiar aqui. Minha mãe era uma submissa, tudo que o esposo falava ela mantinha como "o que é certo e deve ser feito", não retrucava ou discordava de suas ordens. Eu nunca gostei dele, desde o momento em que lhe conheci.

Flashback onn

Perfectly PerfectHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin