Capítulo II

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2012

Minha vida realmente mudou nos últimos meses, ficava pouco tempo em minha casa, preferia a casa de Leo e tia Bethy, lá me sentia da família, havia ganho até mesmo um quarto. O sonho de tia Bethy sempre foi ter uma filha, mas após a gestação complicada do filho mais velho, decidiram não tentar ter outro bebê, ela e tio George me tratavam como filha e amava isso. Em casa nada mudou, Phillip seguiu reclamando de tudo e ignorando minha presença, minha mãe seguiu achando que ele estava certo em tudo, porém parou de implicar com minhas idas até Leo, talvez percebendo que meu comportamento havia mudado, ficando pouco em casa tínhamos pouco tempo para as brigas.

Estávamos reunidos na garagem de Leo, quando Caio lembrou que o natal se aproximava.

- Eu vou passar o natal aqui, se meu pai estiver pela cidade ele deve vir também. – Caio disse olhando um catálogo de loja com tema natalino.
- Nem me fale em natal, estou todo dolorido de ontem ainda. – Leo reclamou se referindo ao tombo que levou enquanto ajudava tia Bethy com a decoração da casa.
- A tia ama esse clima né? – Pedro falou sentando ao meu lado.
- Ama, quer todos os amigos e a família reunidos aqui.
- Acho que eu venho para cá também, minha mãe vai viajar. – Falei.
- E você não vai com eles? – Nick perguntou.
- Não, eles querem fazer uma espécie de lua de mel... E também, não quero passar meu natal com Phillip, prefiro ficar aqui.
- Meus pais gostam mais da Nathy do que de mim. – Leo fez bico.
- Quem não vai gostar mais de uma menina linda, do que de um marmanjo que não sabe tomar refri sem arrotar depois? – Pedro riu tocando uma almofada emLeo e me fazendo ficar corada.
- A Nathy ficou vermelha. – Noah disse debochando.
- Não fiquei nada. – Respondi ainda mais vermelha.
- Ficou sim, só porque o Pedro te chamou de linda. – Disse sentando ao meu lado e bagunçando meu cabelo.
- Idiota. – Respondi braba tentando arrumar.
- Não é todo dia que o capitão chama uma menina de linda. – Nick disse debochando.
- Não comecem! – Pedro falou emburrado. Diferente dos outros meninos, ele odiava quando alguém via vantagem em ser capitão de um time, havia ganho o posto por ser um ótimo jogador, sempre decisivo nos jogos, mas odiava quando alguém ficava puxando saco em relação a isso, também não gostava de passar o intervalo com alguma líder, geralmente ficava com elas e logo dispensava.
- Falando em capitão, por que você não levou a Elle para nossa mesa ontem? - Leo perguntou.
- Porque ela serve pra agradar, vocês sabem como... Mas quando abre a boca pra falar só sai merda. – Falou despreocupado.
Ouvir aquilo foi como receber um soco no estômago, precisava aprender a lidar e me acostumar com isso, não tínhamos nada, éramos apenas amigos e ele nunca me olharia de outra forma.
- Vou ajudar tia Bethy com o café. – Falei levantando e saindo da garagem, enquanto eles começavam uma votação idiota de "qual garota tem a bunda mais bonita".
Mais tarde Pedro me levou para casa.
- Achei que fosse dormir no Leo hoje. – Ele disse assim que deu partida no carro.
- Dormi ontem, minha mãe ficou reclamando, então pra evitar mais brigas...
- Entendo. – Ele sorriu triste.
- Você está estranho, aconteceu alguma coisa?
- Estranho como? – Me olhou sem entender.
- Parece triste.
- Ah, acho que não gosto muito de natal.
- Por quê? – Perguntei curiosa.
- Porque minha mãe amava dar festas em nossa casa e esse ano além dela não estar com a gente, meu pai tem uma namorada e um novo ciclo de amigos, nada vai ser como era antes.
- Mas você tem a gente Pedro, pode passar o natal na casa do Leo. – Sorri e fiz um carinho em sua mão.
- Acho que vou fazer isso, melhor do que passar com eles.
- Acho que vai ser bem legal. – Sorri tímida em frente minha casa.
- Vai sim pequena. – Ele sorriu me dando um beijo na bochecha, em seguida sai do carro e fui em direção minha casa.

Tudo estava escuro e silencioso, me perguntei onde Emma e Phillip estavam, mas não cheguei a procurá-los pois logo ouvi alguns gemidos vindo do quarto dos dois. Aquilo era no mínimo nojento, eles falavam palavras de baixo calão, que eu não precisava ouvir. Me dirigi até meu quarto, trancando a porta em seguida e coloquei os fones de ouvido, tentando dormir.

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Aquela semana literalmente voou, precisei comprar os presentes de natal para os meninos, meus tios e minha mãe, ela como presente me permitiu passar duas semanas na casa de Leo, na realidade não pareceu muito preocupada em onde eu estaria, pois precisava organizar as coisas para sua segunda lua de mel com Phillip.

Tia Bethy andava de um lado para o outro, organizando os últimos detalhes da ceia de natal, sentada ao lado de Leo fiquei tonta tentando acompanhar com os olhos o ir e vir de minha tia.
- É sempre assim, ela não para. – Ele riu percebendo o que eu observava.
- Senti falta dos natais em família. – Sorri sendo abraçada por Leo.
- Vai ser sempre assim agora, já imaginou quando tivermos filhos? Você e o Pedro correndo atrás dos molequinhos, e eu e meu harem só com mulheres lindas! - Riu debochado.
- Eu o que? – Falei quase engasgando com o pouco de refrigerante que havia colocado na boca.
- Só um cego não nota o jeito que você olha pro Pedro, ele ta na fase pegar todas, mas logo sossega, você vai ver.
- Para de beber, você definitivamente não está bem. – Tentei desconversar.
- Aham, só não ache que eu sou cego, porque não sou. – Ele piscou, levantando-se em seguida e indo em direção a porta receber Caio que vinha acompanhado de seu pai.
Não demorou muito para a casa lotar, muitas pessoas eu ainda não conhecia, amigas de tia Bethy, colegas de tio George, mas todos pareceram bem simpáticos.
Pedro chegou pouco antes do jantar e ficou ao meu lado, enquanto observávamos Leo dar em cima de uma das filhas do sócio de seu pai.
- Ele não tem jeito mesmo. – Pedro disse me abraçando.
- Mas ela esta mais interessada em encarar você, do que prestar atenção nas merdas que o Leo deve estar falando.
- Ela é feia. – Pedro disse fazendo careta.
- Você está com problema de visão? – Encarei-o.
- Acho que não, tem algum problema? – Ele me encarou, aproximando o rosto do meu.
- Não sei. – Falei tímida e virei o rosto tentando prestar atenção na conversar de Leo.
- Vem, eles vão servir o jantar, eu to com fome. – Falou me puxando para a mesa de jantar.

- Eu quero casar com uma pessoa que faça no mínimo a metade dos doces que sua mãe sabe fazer. – Nick falava de boca cheia, estávamos todos sentados no quintal de Leo, Nick e Noah chegaram após a ceia de natal, onde passaram com a família.
- Não sabe nem ir ao banheiro sozinho e está pensando em casamento? - Noah debochou.
- Não preciso ir sozinho no banheiro, posso ir acompanhado com quem eu quiser. – Nick respondeu provocando risos dos outros.
- Ui, garanhão, dom Juan. – Leo debochou.
- Quer aulas de como seduzir uma garota? - Nick desafiou.
- Você da? – Pedro perguntou cheio de duplo sentido.
- Aulas, sim. – Nick respondeu percebendo o duplo sentido.
- Levanta Nathy. – Leo ordenou?
- Que? – Perguntei sem entender.
- Levanta, o Nick vai dar aulas de como conquistar uma garota e você será a cobaia.
- Hey, eu disse uma garota, não a Nathy.
- O que tem? Ela é uma garota. – Leo respondeu.
- Linda. – Noah se aproximou de mim.
- Não vou cantar alguém que eu considero minha irmã. – Nick justificou.
- Todos consideramos a Nathy nossa irmãzinha, mas queremos ver tuas aulas. – Pedro riu.
- Deus me livre ter cinco irmãos chatos assim. – Falei séria.
- Ai, essa doeu. – Noah riu.
- Você não quer ser nossa irmã Nathy? – Pedro perguntou.
- Não, eu não quero. – Falei rindo.
- Ela é malvada. – Leo riu me abraçando.
- Malvada e preguiçosa, estou com sono, melhor ir dormir. – Falei levantando.
- Espera, eu não te deu meu presente ainda. – Pedro levantou indo em minha direção.
- Vocês compraram aquela cesta, eu amei. – Disse lembrando do presente que todos me deram, enquanto eles trocaram vários CDs de natal, resolveram juntar grana e comprar algo especial, para segundo eles a única garota realmente legal da escola, me deram então uma cesta com chocolates e um urso fofo.
- Mas eu comprei um especial pra você, faz tempinho, só tinha deixado para dar nessa data, porque sei lá... – Disse tímido.
- Hum, ele comprou presente pra Nathy e não comprou pra mim. – Noah debochou.
- Ela usa calcinha, não uma cueca freada. – Leo debochou.
- Vem Nathy, esses garotos são uns idiotas. – Pedro riu me puxando para dentro de casa. Subimos até meu quarto e entrei com ele, fechando a porta em seguida.
- Espero que você goste. – Ele disse estendendo um cordão com pingente da mão de hamsa, dourado.
- Que lindo, eu amei. – Falei segurando seu presente e lhe dando um beijo na bochecha, ele virou fazendo com que beijasse o canto de sua boca.
- Eu, er... – Tentei falar algo, mas senti meu rosto queimar de vergonha.
- Deixa eu colocar em você? – Ele pediu segurando o cordão.
- Claro. – Virei para que ele colocasse.
- Você fica linda com ele. – Pedro sorriu fechando o cordão e beijando meu pescoço, causando um arrepio em todo meu corpo.
- Obrigada. – Sorri o encarando.
- Por nada. – Ele sorriu aproximando o rosto do meu.
- Pedro! Seu pai está ligando, você deixou a porra do celular no chão, ele já ligou umas 3 vezes. – Leo gritou abrindo a porta de meu quarto e entrando em seguida.
- Porra! – Pedro falou irritado e pegou o celular. – Vou lá, feliz natal Nathy. – Ele beijou minha testa e saiu, antes que eu pudesse responder algo.
- Eu vi isso. – Leo disse antes de seguir o amigo.

No dia seguinte Pedro teve que viajar para casa de uma avó, passando então o ano novo longe de nós. Ás aulas voltaram, fazendo-nos voltar com nossa rotina: escola – garagem do Leo - casa.
Aquela garagem era nossa segunda casa, amava ficar lá ouvindo os garotos tocarem, dando broncas e falando besteira, lá perdia a noção do tempo entre risadas e brincadeiras. Estávamos sentados esperando os meninos chegarem, quando ouvimos Caio entrar falando alto.
- Vamos tocar no intervalo segunda-feira. – Ele disse invadindo a garagem.
- Você pirou? – Leo respondeu.
- Não cara, o Pedro ta chegando ai, ele já te explica. – Caio sentou ao meu lado, esperando os garotos chegarem.
- Por que não esperou? Eu ia te buscar. – Pedro disse entrando na garagem e indo em minha direção.
- Dormi aqui na noite passada. – Expliquei.
- Ata. – Ele riu, sentando em um dos pufs espalhados.
- Cadê o Noah? – Leo perguntou.
- Esta pegando uma garota. – Pedro deu de ombros.
- Ele não vai vir pro ensaio? – Perguntei.
- Vai, só vai atrasar um pouco. – Justificou.
- Pedro, conta pra eles do show. – Caio falou animado.
- Não é bem um show, são só 4 músicas, quando fui pra coordenação hoje, a orientadora perguntou da banda e pediu para que fizéssemos uma apresentação, como não estava podendo negar algo...- Pedro riu.
- Você foi pra coordenação? Eu falto um dia na escola e tudo acontece, o que você fez? – Perguntei curiosa.
- Transou com a Shirley no banheiro. – Leo respondeu rindo.
- Você o que? – Perguntei incrédula. – Aquela garota é horrível.
- Ela até que é gostosinha. – Pedro falou emburrado.
- Ela não sabe quanto é um mais dois. – Segui falando.
- Garotos não ligam para inteligência da garota e sim para o corpo dela. – Pedro falou me encarando, parecendo brabo com minhas comparações.
- É, esqueci que garotos não sabem pensar. – Disse braba e levantei saindo da garagem, deixando todos atônicos.
Amava ficar perto dos cinco, principalmente por ser a única menina com acesso exclusivo ao solo sagrado daquela garagem, contudo ouvir os papos de como é bom pegar mulher, ou como fulana tem a bunda grande, era no mínimo irritante. Principalmente quando o autor dos comentários era Pedro, ele geralmente era quem menos falava, mas o pouco que dizia sobre aquelas garotas insuportáveis, caia como muito para mim.

Na segunda-feira seguinte, eles apresentaram suas canções na escola, fazendo o intervalo praticamente parar para assisti-los e subindo assim a popularidade de todos. Muitos pediram CD, ou as músicas para ouvir no computador, contudo eles não tinham nada gravado. Isso os fez levantar uma nova questão, se queriam viver de música, precisavam levar a banda e tudo que a envolvia, mais a sério. O primeiro passo seria a gravação de um EP, para apresentar e disponibilizar suas canções, a fim de popularizar a banda. Contudo todo processo de gravação era caro, principalmente quando se queria um material de qualidade, sendo assim o assunto grana entrou em questão. Pedro tinha dinheiro, de todos era quem mais poderia bancar, mas não seria justo um assumir boa parte da divida, a banda era dos cinco e os cinco deveriam arcar igualmente. Pedro tentou justificar, mas os meninos foram irredutíveis quanto a isso. Já passava das 22 horas, liguei para casa avisando que dormiria na casa de Leo, minha mãe definitivamente tinha algum problema, ela parecia não ligar quando me referia a casa de Leo, invés de citar tia Bethy. Estávamos todos jogados pela garagem tentando pensar em algo para conseguir grana, mas nenhuma boa idéia vinha em nossa mente.

- Podíamos vender suco de limão na escola. – Nick sugeriu provocando risos de todos.
- Claro, até porque eles não dão esses sucos na cantina né. – Pedro falou brabo.
- Caio! – Falei chamando não apenas a atenção dele, mas de todos e ignorando a sugestão de Nick.
- Caralho, que susto Nathy, eu tava aqui sonhando. – Falou tocando uma almofada.
- Sonhando com os peitos da Sarita? – Leo debochou.
- Shiu Leo, você sabe que aqueles peitos eu não sonho, eu pego mesmo! – Falou convencido.
- Você e metade do time de futebol. – Pedro riu debochado.
- E você queria pegar também! – Noah tocou uma almofada em Pedro.
- Hey! Eu to aqui e quero falar! – Falei cortando o assunto.
- Fala tampinha! – Caio disse sentando ao meu lado.
- Então, quando teu pai viaja?
- Essa semana, aliás, Leo avisa a tia que eu vou passar 10 dias aqui, ok?
- Como se você não ficasse aqui todos os dias, com teu pai estando ou não em casa. – Leo respondeu "rolando" os olhos.
- Depois não fala que eu não avisei. – Respondeu debochado.
– Mas fala tampinha, por que a pergunta? Quer dormir comigo lá em casa e tal? - Disse tentando fazer uma cara sexy e me fazendo gargalhar, junto com Noah eNick, enquanto Pedro e Leo pareciam ficar brabos.
- Claro que não, você sabe que eu ainda estou esperando meu príncipe encantado.
- Eu não tenho cavalos, mas eu tenho um violão. – Respondeu um pouco galanteador.
- Posso falar, o besta? – Respondi rindo.
- Por favor, o que você esta pensando Nathalia? – Pedro interrompeu e sentou entre eu e Caio.
- Vocês são bem populares, certo?
- Uhum, todas as garotas me querem. – Noah respondeu convencido.
- Todas menos eu. – O corrigi em seguida.
- Ai meus dedos. – Leo debochou.
- Caralho, é difícil falar aqui! Calem a boca! – Ordenei.
- As garotas mandam... – Caio falou e em seguida todos ficaram quietos.
- Errado, eu mando. – Disse convencida, então continuei. – Quando seu pai ir viajar, vocês podiam dar uma festa, mas cobrar ingresso sabe, dizer que é pra uma galera selecionada e que é uma festa para mostrar a nova música, essa que o Pedro tocou hoje, então com essa grana da para tentar gravar alguma coisa do EP.
- Mas será que vai dar público? – Caio foi o primeiro a falar.
- Só vamos saber se tentarmos. – Leo disse parecendo pensativo.
- Já pode fazer os ingressos Nathy! – Nick respondeu parecendo animado.
- Eu?
- Claro, a ideia foi tua e na boa, você poderia trabalhar com essas coisas de designer, manda muito!
- Eu sei que sou foda. – Falei convencida, mas morrendo de medo de fazer uma arte feia. 

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