Capítulo VI

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Maio 2012
Aquela notícia espalhou-se de uma maneira absurda, todos naquela escola sabiam quem eram os meninos, cantarolavam suas músicas e compravam o EP recém lançado de forma bem independente. Ser amigo dos garotos era sinônimo de popularidade e todas as meninas, sem exceção, queriam pelo menos um tempo com cada um deles. Fora da escola as coisas não mudavam, eram sempre os cinco enfurnados naquela garagem com planos para dominar o mundo. Sempre que saiam todos juntos, eu ainda fazia companhia, mas na escola as coisas andavam diferentes e também ultimamente os ensaios não iam até muito tarde, porque algum deles tinha um encontro com alguma garota.
Pedro que antes já era popular por ser o capitão do time de futebol, agora conquistava o primeiro lugar no quesito "meninos importantes da escola", e ele sabia aproveitar aquilo muito bem, cada dia com uma garota diferente e insuportável. Eles tentavam me inserir naquele novo mundo, mas nenhum garoto podia olhar para mim, e todos os garotos puxa-sacos da escola respeitavam aquela ordem. Me sentia um "bicho da goiaba", sempre com os populares, mas sem qualquer assunto. Quando estava próxima aquelas meninas não sentia vontade de abrir a boca, passava os intervalos calada e só ia para o encontro deles porque todos os dias um ia me encontrar no lugar de sempre para então nos juntarmos com a turma. Até que em um daqueles dias ninguém apareceu. Sabia que seria o dia dePedro, mas com tantas ocupações imaginei que algum dia acabaria esquecendo, me senti grata por isso, não precisaria inventar desculpas e poderia almoçar em paz. Pois mesmo estando com os garotos, a turma deles agora era muito maior e me sentia sozinha em meio a muitas pessoas.
Almocei sozinha e segui minha rotina até o final da aula, estava conversando com Lohan quando avistei os garotos, me despedi do meu talvez único amigo e fui até eles.
- Hey! Onde você estava? – Senti Leo segurar o meu braço fazendo olhá-lo. Estávamos na saída da escola, como todos moravam muito perto, geralmente íamos e voltávamos juntos no carro de Pedro.
- Na escola? – Respondi sem entender aquela pergunta.
- Eu sei né, mas na hora do intervalo eu não te vi.
- Eu esperei no lugar de sempre, ninguém apareceu, então peguei meu almoço e fui para o jardim. – Disse demonstrando indiferença.
- Caralho, era a vez do Pedro esperar! Por que você não esperou a Nathy? Aliás, achei que vocês tinham passado o intervalo juntos, porque você também não apareceu na nossa mesa.
- Desculpa, esqueci. – Foi tudo que ele respondeu entrando no carro.
- Esqueceu? Ela ficou sozinha. – Foi à vez de Noah falar, parecendo um tanto irritado.
- Eu tava com a Hillary ta legal? A gente já ficou várias vezes, mas hoje ela queria algo a mais, então...
- Eu não acredito! Você comeu a Hillary, aquela gostosa! – Nick exclamou se ajeitando no banco de carona.
- No exato lugar que você está sentado agora. – Pedro respondeu convencido.
Depois de ouvir vários gritos em sinal de comemoração pelo feito de Pedro e segurar o choro, Leo pareceu voltar para realidade.
- Da próxima vez pelo menos avisa ela, passar o intervalo sozinho é ruim. – Ele falou me encarando, provavelmente notando que estava triste.
- Desculpa Nathy. – Pedro disse. – Mas eu não podia perder a oportunidade, e também você poderia ter ido até a mesa dos garotos, não é preciso pensar muito pra saber onde nós sempre estamos agora.
- Tudo bem. – Respondi encarando a janela.
- Além do que, você tem que fazer novos amigos né, ano que vem nós não estaremos aqui, seria bom você sair com pessoas da tua idade. Você anda com os populares e tal, mas não é como aquelas garotas, devia arranjar alguma amiga nerd, sei lá.
- Hey, a Nathy é nossa irmã, tem que andar conosco. – Nick disse.
- Eu sei, todo mundo gosta dela, mas ela é mais nova, pega mal nós deixarmos de ficar com alguma garota pra ir buscar a Nathy no ponto de encontro. – Pedro continuou.
- Só se for pra você. – Leo disse parecendo brabo.
- Tá tudo bem! Já passou e vamos logo que eu estou com fome. – Disse cortando o assunto. Óbvio que não estava tudo bem.
Assim que o carro encostou em frente a casa de Leo desci e fui direto para o meu quarto, agradeci a Deus por ter um quarto, um lugar meu onde poderia chorar sem que ninguém visse. Tranquei a porta e me atirei na cama sentindo ás lágrimas saírem. Não conseguia explicar o que estava sentindo naquele momento, era uma dor enorme, a dor da rejeição, de estar perdendo tudo que sempre sonhei, de ver o cara que me fazia sentir as tais borboletas no estômago, quebrar meu coração provocando uma dor quase que insuportável e decidi que não escutaria mais nada vindo dele, se eu o atrapalhava, seria melhor me afastar, até porque ele nunca me olharia de maneira diferente.
Durante aquele dia não sai do quarto, falei para minha tia que estava com cólica e ela pareceu acreditar, permitindo que jantasse lá e não no meio dos garotos como sempre fazíamos. No outro dia dei uma desculpa qualquer e fui mais cedo para escola, também inventei que teria algumas coisas para fazer e chegaria mais tarde. Usei as mesmas desculpas nos outros dias, sendo perceptível meu afastamento. Inventei pro Leo que passaria o intervalo com uma amiga, ele pareceu acreditar, nunca foi muito detalhista e se mostrou feliz em ver que eu realmente estava fazendo amizades. Mas na verdade passava o intervalo escorada em alguma árvore no jardim 2, que era um lugar mais freqüentado pelos nerds e poucas pessoas do convívio dos meninos andavam por lá. Eu conhecia aquele sentimento, era a dor da perda, já havia passado por aquilo duas vezes. Quando meu pai faleceu e quando minha mãe se casou, agora novamente me sentia sozinha. Os meninos me tratavam igual, nunca foram muito observadores e com certeza Leo havia dito que estava com amizades femininas agora.
Escutava alguma música no volume máximo e com os olhos fechados sentia apenas um vento leve tocar meu rosto. Por ser um lugar mais afastado dentro da escola, conseguia sentir uma certa calma ali, além de estar próxima á natureza e tudo que mais amo. Senti alguém sentar-se ao meu lado e imediatamente abri os olhos, me sentando e encarando-o.
- O que você está fazendo aqui? – Foi ele quem falou primeiro.
- Nada, eu só... – Tentei formular uma frase.
- Você mentiu. – Ele disse me encarando.
- Do que você está falando Pedro? – Perguntei sem entender.
- Não existe amiga nenhuma, não existe trabalho nenhum, não existe porra de curso depois da aula, você mentiu Nathalia! – Ele falou parecendo irritado.
- Eu quero ficar sozinha.
- Por quê?
- Porque eu quero ficar sozinha.
- Você está magoada comigo desde aquele dia?
- Não Pedro, você estava certo e eu não fiquei magoada, eu só... Quero ficar sozinha. – Disse limpando uma lágrima que insistia em cair.
- Nathy, não chora, por favor! Eu não quis te magoar, só estava um pouco deslumbrado com tudo, sabe, eu, os garotos, poxa tem muita novidade acontecendo e.
- E na vida de vocês não existe mais espaço para uma criança como eu. – Interrompi-o.
- Claro que não, você não é uma criança, você só.
- Pedro, vocês estão no último ano, tem todas as meninas nos pés, todos os garotos querem ser como vocês, são os exemplos da escola, a diretora e todos os professores só sabem elogiar o Northern Lights, ano que vem estarão em uma turnê e eu? Sou só a garota que está no penúltimo ano da escola, mora com a tia porque nem a mãe quis ter convivência e não agrega em nada na vida de vocês.
- Isso não é verdade Nathy, você é muito importante pra mim, pra nós! Eu errei ta bom, errei de querer ir dar uns beijos na Hillary e ter esquecido, errei mais ainda pelas coisas que eu disse, mas por favor, nunca dúvida da tua importância na nossa vida, porque você é a garota mais especial que eu conheço e não quero perder nunca tua amizade.
- Beijar é tão bom assim? – Falei com um pouco de raiva. – Vocês não ficaram só nos beijos, mas né.
- Você nunca beijou? – Ele perguntou incrédulo.
- Não, por quê? – O encarei.
- Eu pensei que você e o Lohan, bem vocês...
- Por favor né Pedro, o Lohan é só um... – Ia justificando, então senti seus lábios encontrarem os meus, fechei os olhos e deixei que ele conduzisse, logo meus lábios foram abertos dando espaço para Pedro. Ele me beijava com calma e ao mesmo tempo desejo, suas mãos deslizavam pelas minhas costas, me puxando para mais próximo dele, assim que acabamos com qualquer distância entre nós, Pedro concluiu o beijo me dando um selinho e iniciando outro em seguida.
Nós não voltamos para sala de aula durante aquela tarde, também não falamos muitas coisas, deixamos apenas nossos corpos falarem, darem voz aos sentimentos que ambos escondiam dentro de si. 

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