Capítulo IV

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Não esperávamos que a festa daria tanto lucro, dividimo-nos em duas equipes, uma contaria a quantia exata dos lucros e faria o pagamento de alguns gastos da festa, enquanto a outra iria até alguns estúdios fazer orçamento para o EP. Eu, Pedro e Leo ficamos responsáveis pela primeira parte, enquanto Nick, Caio e Noah pela segunda. Em seguida nos encontramos no lugar de sempre: garagem do Leo.
- Cara, pelo que eu pesquisei, com essa grana a gente consegue fazer quatro músicas naquele estúdio ao lado do pub. – Caio disse chegando os papéis com orçamento dos estúdios que haviam na cidade.
- Mas aquele estúdio é bom? – Leo perguntou
- É sim, eu achei que fosse bem mais caro, várias bandas começaram gravando lá. – Pedro falou me abraçando por trás e roubando um pedaço do chocolate que eu comia, fiquei com vontade de reclamar, mas aquele abraço estava tão bom, que não tive coragem. – Bom isso. – Ele falou me dando um beijo na bochecha.
- Era meu... – Disse sentando perto de Nick.
- Nathy, entre nós tudo se divide. – Ele riu sentando também.
- Nem tudo. – Caio defendeu.
- É, não vou dividir as minas que eu fico. – Noah riu.
- Cara, cada dia elas dão mais mole pra nós, ta ficando sortida a escolha. – Leo comemorou.
- Da para vocês pararem de pensar com a cabeça de baixo e focar no EP? – Interrompi antes que começassem a falar das "gostosas" da escola.
- Claro baixinha, mas antes pede pra minha mãe fazer algo para comermos? Eu to morrendo de fome. – Leo disse me abraçando manhoso.
- Eu não, vai lá você fazer, para de incomodar sua mãe com isso moleque.
- Se eu for fazer algo, teremos que comer bolacha, pois a única coisa que sei fazer é abrir um saco de bolacha para comer. – Disse rindo sendo acompanhado pelos outros.
- Vamos fazer sanduíche, eu te ajudo Nathy, ta tarde pra incomodar a tia, e esses ai morrem de fome, mas não fazem algo para comer. – Pedro disse me puxando antes mesmo que eu concordasse.

- Deve ser complicado ganhar seis filhos de uma hora pra outra né? – Pedro perguntou entrando na cozinha.
- Quem ganhou seis filhos? – Perguntei imaginando alguém próximo grávida de sêxtuplos.
- A tia Bethy. – Ele respondeu rindo.
- Deve ser chato ter um filho com 4 amigos doidos. Só eu me salvo. – Falei rindo pegando os ingredientes para preparar os sanduíches.
- Ah, que nada, você é a mais folgada, tem até um quarto aqui. – Ele disse rindo.
- Sou nada, todos me amam, e pode começar a me ajudar aqui. – Falei apontando para mesa.
- É que eu não sei fazer direito.
- Sério Pedro? Não sabe fazer um sanduíche.
- Você fica mais bonita trabalhando do que falando, sabia?
- E te mandando a merda, eu fico como?
- Linda. – Ele sorriu e se aproximou.
- Nathy, sua mãe ligou, disse que você tem que dormir em casa. – Leo apareceu na cozinha, nos surpreendendo.
- Hum, acho que já vou então, ta tarde. – Falei triste, pretendia dormir na minha tia.
- Deixa que eu te levo. – Pedro levantou no mesmo instante.
- E minha comida? – Leo perguntou impedindo que saíssemos da cozinha.
- Você usa suas mãos para terminar de fazer e não esquece que o meu é sem queijo. – Pedro disse dando um tapa na cabeça de Leo e saindo em seguida.
O acompanhei até o carro, pois sabia que ele não desistiria de me levar, realmente era tarde e como "menininha" deles, eu não poderia ir sozinha pra casa.
- Parece que você está indo para um velório. – Ele disse estacionando o carro em frente a casa.
- Meio que isso, não gosto daqui. – Disse abrindo a porta.
- Quer voltar para a casa do Leo? – Perguntou segurando minha mão.
- Melhor não, amanhã passo lá bem cedo. – Respondi.
- Tudo bem, qualquer coisa me liga. – Ele depositou um beijo em minha bochecha e esperou que eu entrasse em casa, para sair com o carro.

xx

Entrei em casa e logo ouvi a voz da minha mãe.

- Por que você não se muda logo para casa de sua tia? – Disse com desdém.
- Olha, está nos planos, com certeza lá é melhor do que aqui. – Respondi sem paciência indo em direção ao meu quarto.
- Aproveita que você não fica muito em casa e deixa esse quarto arrumado, amanhã uma sobrinha do Phillip vem nos visitar e ela vai ficar lá, troca a roupa de cama também! – Ordenou.
- A cama é minha, logo ninguém vai dormir nela, ainda mais aquela idiota! – Respondi já com raiva. Conhecia bem a tal sobrinha, ela era filha única e mega mimada, quando Phillip e Emma começaram a namorar eles levavam a garota para os encontros, assim eu não ficaria sozinha e os dois poderiam namorar em paz. Mas paz era tudo que não existia quando estávamos juntas, ela era meu oposto, metida amava me ver levando alguma bronca e sempre fazia artes colocando a culpa em mim.
- Acho que você não entendeu o que sua mãe quis dizer. – Phillip interrompeu Emma, quando a mesma ia me responder.
- Acho que você não notou que eu não estou falando contigo. – Respondi tentando fechar a porta do quarto, mas ele foi mais rápido e não permitiu que eu fizesse isso.
- Quem paga as contas nessa casa sou eu, logo uma garota como você não tem nenhum direito de opinar sobre quem e onde qualquer pessoa que esteja aqui dentro vai dormir. – Falou alterado, conseguia sentir de longe o cheiro de cerveja dele.
- Mas esse é meu quarto, existe um quarto de hospedes, por que aqui? – Tentei falar mantendo a calma.
- Porque eu estou grávida e como a Daffiny ama decoração e moda, está inclusive pensando em cursar designer de interiores seria legal ela me ajudar com o quarto do bebê. – Emma respondeu dando uma entonação maior ao começo da frase.
- Hum, ela que durma na sala então. – Respondi tentando fechar novamente a porta do quarto.
- Você não tem escolha, não para em casa mesmo, ela vai dormir aqui e pronto. – Phillip respondeu. – Não vou por minha sobrinha a dormir na sala por causa dessa mimada mal agradecida. – Continuou olhando para minha mãe que não disse nada, apenas concordou com a cabeça, enquanto eu batia com força a porta do quarto. Como Phillip estava com os dedos entre o marco e a porta, a mesma bateu fazendo-o gritar de dor. Em seguida apenas senti ele me segurando com força e prensando contra a cama.
- Sabe o que falta para você? Uma boa surra é disso que você precisa! - Disse com raiva.
- Me solta! Você não é meu pai e que pena que não quebrou esses dedos. – Falei debochada.
- Vou quebrar a sua cara, isso sim! – Ele respondeu me dando dois bofetões no rosto.
- Amor, calma. – Emma disse se aproximando.
- Ela tem que aprender, você teve muita calma, falar não adianta. – Ele respondeu.
- Mãe, manda ele me soltar! – Pedi sentindo meu rosto e braços doerem.
- Ele tem razão, você precisa aprender. – Ela falou e saiu do quarto nos deixando sozinhos.
Ele não era meu pai, eu o odiava, ele não tinha direito algum, mas mesmo assim me bateu. Phillip era um cara grande, forte, eu tinha 15 anos, faria 16 em breve e tinha o corpo de qualquer adolescente, era pequena, frágil. Não conseguia me defender, apenas tentei proteger o rosto, quando aquele monstro tirou a cinta que vestia e começou a bater em todas as partes do meu corpo. Foram aproximadamente 10 minutos, que pareceram muitos mais.

Xx

Acordei com dor, não tinha vontade de levantar da cama, haviam várias chamadas não atendidas, todas de Leo, enviei uma mensagem falando que não iria a aula e depois me levantei indo até o espelho.
Meu rosto estava um pouco vermelho, mas maquiagem esconderia. Já as pernas e braços demorariam a cicatrizarem, eu estava machucada física e emocionalmente. Olhando para meu reflexo senti uma dor infinita tomar conta do corpo e chorei desejando nunca mais olhar para aquele lugar.
Ouvi duas batidas na porta e em seguida a mesma foi aberta. No final daquele pesadelo, Phillip tirou a chave, me impossibilitando de ficar trancada.
- Filha, você está bem? – Ela disse pausadamente.
- Emma, eu vou embora. – Falei um tempo depois, prometi que nunca mais chamaria aquela mulher de mãe, ela conseguiu destruir qualquer sentimento bom.
- Você não pode ir, é minha filha.
- Eu, odeio, você. – Falei pausadamente. – E se não me deixar ir embora, passando minha responsabilidade legal para tia Bethy, eu vou fazer uma denúncia contra vocês dois.
- Aquela mulher, ela fica te colocando contra mim. – Falou com raiva.
- Será mesmo que ela é a culpada? – Perguntei e então levantei a manga da blusa, tornando meus machucados visíveis.
- Faça o que você achar melhor. – Respondeu com raiva. – Você não faz parte dessa família mesmo, vai ser melhor assim, um ambiente tranqüilo e com amor para esse bebezinho que está a caminho. – Falou acariciando sua barriga e me deixando sozinha.
Organizei minhas coisas em duas malas e fui até a casa de minha tia, ela se surpreendeu ao ver as malas, por sorte tio George havia ficado em casa naquela manhã e Leo estava na escola, então pude falar com os dois. Era um assunto delicado, não queria que os garotos soubessem, pois com certeza falar daquilo me faria chorar e odiava demonstrar qualquer sinal de fraqueza perto de alguém.
Eles ficaram horrorizados, como tio George é advogado, começou a correr com os papeis no mesmo dia, queriam denunciar Phillip, mas já estava com vergonha o bastante não queria expor aquela história para mais ninguém. Naquele dia me mudei definitivamente, ganhei um lar onde bons sentimentos reinavam. Leo ao chegar da escola não demonstrou muita surpresa e comemorou o fato de agora poder se declarar meu irmão oficialmente. Falei para ele que havia apenas brigado mais uma vez, e ele não me fez maiores perguntas.
Estava arrumando minhas coisas no meu novo quarto quando ouvi algumas batidas na porta, era Pedro.
- Hey, você se mudou pra cá? – Pedro falou entrando no quarto.
- Sim, agora moro oficialmente aqui. – Sorri fechando a porta e sentando ao seu lado na cama.
- Por que Nathy, digo, aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou curioso.
- Nada não, só gosto mais daqui.
- Acho que eu te conheço bem o suficiente para saber que você não sabe mentir.
- Não tem muito o que falar. – Respondi um pouco desanimada.
- Então me fala. – Ele disse mexendo nas minhas mãos. – Você parece chateada.
- É, acho que estou um pouquinho.
- Quer falar sobre o que aconteceu? – Ele insistiu.
- É difícil. – Senti uma lágrima escorrer. Ele limpou meu rosto com o polegar e levantou indo em direção a porta que estava entre aberta. Logo após trancá-la voltou até a cama me encarando.
– Acho que assim ninguém vai nos interromper, você não precisa ficar quieta diante de tudo Nathy, nós somos amigos e eu to aqui para te escutar.
- Obrigado. – Disse o abraçando e deixando as lágrimas finalmente caírem. Algum tempo depois já estava deitada com a cabeça no colo de Pedro, contando um pouco do que tinha sido minha vida até aquele momento. – Ele faleceu quando eu tinha 12 anos, mas lembro de todos os detalhes, meu pai era aquele cara que sempre arrumava um tempo pra ficar com a gente, íamos em vários lugares, ele me ensinou a andar de bicicleta, me passou a paixão por livros e estudou muito para saber o nome de várias flores, quando notou meu interesse por elas. Nós fazíamos vários passeios, um dos preferidos com certeza era o Jardim Botânico de Montreal, pelo menos uma vez por mês nós saiamos de Toronto e vínhamos para cá, visitávamos a tia Bethy e íamos até lá, era o nosso passeio já que Emma tem reniti e diz que aquele lugar só faz ela espirrar. – Sorri lembrando. – Mas então ele se foi e passei anos sem vir para Montreal, ela me afastou de toda família dele, inclusive do Leo.
- E você não foi mais lá, digo, depois que veio parar aqui? – Perguntou curioso.
- Acho que eu não conseguiria, me faz lembrar dele e eu iria chorar, não gosto de chorar na frente dos outros. – Confessei e então segui com a história após receber um beijo dele em minha testa. – Logo depois que ele se foi, ela começou a trabalhar em uma empresa, dizendo que o dinheiro que tínhamos não seria suficiente. Ela não me deixava sair de casa, dizia que tinha medo de me perder em algum acidente, como aconteceu com meu pai, essa preocupação durou uns 6 meses, até que ela começou parar de ligar, chegava em casa bem tarde, me deixava sozinha a maior parte do tempo e depois assumiu o namoro com Phillip, que era chefe dela na tal empresa. Eles namoraram por um tempo, ele ficava muito mais em nossa casa do que na dele, até que resolveram se casar. Nunca gostei dele, sabe aquelas pessoas que você olha e sente uma aversão? Isso aconteceu conosco. Ele nunca tentou ser amigável, pelo contrário, fazia questão de demonstrar que eu atrapalhava o relacionamento dos dois.
- E sua mãe não fazia nada? – Ele perguntou surpreso.
- Não, ela concordava com ele. Depois que eles começaram a namorar, ela tirou todos os quadros que tinham fotos do meu pai, substituiu por coisas dos dois e é assim até hoje. Ela parou de trabalhar, porque o salário dele é bem maior e consegue manter a casa com um padrão alto sabe. E estavam tentando engravidar, quando ele recebeu a proposta de mudar pra cá, parece que o salário dele dobrou, não sei bem, mas eles vieram e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, voltei a falar com Leo, com minha tia e conviver com a família do meu pai. Minha mãe em nenhum momento ligou e depois do que aconteceu ontem, quando falei que viria morar com minha tia, ela gostou, pois eu sempre seria um peso no relacionamento dos dois.
- Vocês brigaram?
- Ele me bateu. – Respondi e sentei na cama, mostrando os braços marcados.
- Meu Deus! – Exclamou surpreso. - Esse desgraçado tem que pagar Nathy, ele não pode sair impune. – Falou nervoso.
- Vai ficar tudo bem. – Respondi, tentando acreditar em minhas palavras.
- Isso nunca mais vai acontecer, eu não vou deixar ninguém te machucar. – Falou me abraçando.
- Você está convivendo muito com o Leo. – Brinquei.
- O Leo ganha o título de irmão ciumento, mas para todos nós, você é como uma irmã, todos vamos sempre te proteger. – Disse beijando minha bochecha.
- Por favor, não conta pra eles. – Pedi.
- Esse é um dos nossos segredos. – Ele sorriu e me abraçou mais uma vez, ficamos um tempo assim conversando coisas aleatórias, até ouvirmos algumas batidas na porta e chamando-nos para o ensaio. 

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