Capítulo III

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  Aquela noite realmente voou. Passamos a madrugada organizando detalhes da festa, entre eles o que serviríamos, quem seriam os convidados e qual o número total de pessoas que poderíamos ter dentro da casa, ou melhor, no quintal de Caio. Decidimos quem ficaria responsável por cada parte da festa e aos poucos o plano tomou forma se tornando uma ideia concreta.
Estipulamos 150 ingressos iniciais, o equivalente duas vezes o número de formandos, com isso Noah estipulou que cada formando poderia comprar dois ingressos e quem não estivesse nas últimas turmas teria que torcer para ser convidado. A principio fui contra, mas tinha sentido essa ideia, visto que embora linda, a casa deCaio não era um salão de festas e teríamos que limitar a capacidade de pessoas, sendo assim, tornaríamos a festa algo mais exclusivo e com isso a procura parecia ser maior.
Levamos duas tardes para organizar tudo, desde a criação dos ingressos até alguns cartazes que espalharíamos pela escola e na manhã de segunda-feira decidimos por em ação tudo que planejamos.

Leo chegou animado contando que em três períodos já havia vendido todos os ingressos que tinha consigo.
- Dude, os meus também acabaram! – Noah disse se juntando a nós.
- Provavelmente o Pedro vendeu o dele para todas as meninas da sala, ele tava rodeado delas quando o vi no primeiro período. – Leo riu lembrando.
- Falta o Caio e Nick então? - Perguntei comendo um pedaço de chocolate que havia comprado.
- Sim, cadê eles? – Noah perguntou.
- Estão vindo ali com o Pedro. – Leo apontou, logo os três se juntaram a nós em uma parte mais afastada da escola.
- Todos os ingressos vendidos. – Falaram juntos sentando ao nosso lado.
- Caralho! – Disse surpresa.
- Hey, você é nossa menina, não pode falar palavrão. – Pedro debochou.
- Mas, caralho foi muito rápido. – Repeti o palavrão provocando.
- Mais rápido do que comer esse chocolate. – Ele riu e roubou de mim.
- É meu! – Briguei.
- Tô te ajudando a não ficar gorda. – Ele disse comendo.
- Não me importo com isso. – Falei pegando de volta e comendo o pequeno pedaço que havia sobrado.
- Enquanto eles ficam comendo, nós temos que trabalhar. – Noah disse sério fazendo todos gargalharem.
- Cara, tu tava cuidando a bunda da Daffini até agora. – Nick bagunçou o cabelo dele.
- Pow, acordei cedo pra fazer esse penteado.
- Nossa ele acorda cedo pra arrumar o cabelo. – Ri debochada.
- Como se você não acordasse também.
- Eu não acordo, fico até o último minuto na cama. – Me defendi.
- É verdade, depois sai voando do quarto e querendo me matar se estiver no banheiro. – Leo respondeu.
- Eu sou mulher, tenho prioridades na minha segunda casa.
- Segunda que mais parece primeira né? - Pedro disse.
- Bem que podia ser mesmo.
- Vamos voltar ao foco? – Leo chamou nossa atenção.
- Vamos! – Pedro disse deitando no meu colo.
- Folgado. – Falei baixo, ele correspondeu meu xingamento com um sorriso fofo.
- Acho que podemos fazer mais 50 ingressos. – Pedro disse.
- Também acho, vamos ganhar uma boa grana com isso. – Leo pareceu animado.
- Então fechou, 50 ingressos que só mulheres podem comprar. – Caio sugeriu.
- Hey, pode parando, 50 ingressos que qualquer um pode comprar!
- Ciumenta... – Pedro debochou.
- Não sou ciumenta, só é injusto isso, ou 50 pra qualquer um comprar, ou 50 que só homens lindos possam comprar. – Sorri debochada.
- Seremos os únicos lindos da festa. – Leo como sempre convencido.
- Eu não te acho lindo. – Nick finalmente falou algo e parou de encarar um grupo de garotos próximo a nós.
- Coração doeu agora. – Leo fez um biquinho debochado.
- Calma amor, eu te acho lindão. – Caio abraçou Leo provocando risos de todos.
- Vocês ainda vão acabar com a minha reputação. – Pedro levantou rindo e foi até o grupo de garotas falar com uma loira que não parava de encará-lo. Logo Nick foi também e ambos saíram acompanhados para outro lugar da escola.
Naquele dia tive aula em turno integral e os meninos saíram mais cedo, estranhei ao ver o carro de Pedro estacionado próximo a escola, mas segui o caminho normal que fazia quando não ia para casa com eles.
- Hey, Nathy! – Pedro gritou e buzinou em seguida.
- Oi, o que você está fazendo aqui essa hora? – Demonstrei meu estranhamento.
- Ah, eu fiquei com uma menina do primeiro ano, vim trazer ela no horário certo pra ir pra casa, quer carona?
- Não precisa. – Disse séria e voltei a caminhar.
- Nathy, eu te deixo em casa, fica a caminho, somos praticamente vizinhos...
- Mas eu vou pra casa do Leo.
- Ela também fica a caminho...
- Hum, tudo bem então. – Falei entrando no carro.
- Você ta bem? – Perguntou dando partida.
- Sim.
- Não ta não, parece braba.
- Você transou com duas meninas diferentes só hoje, vai acabar engravidando alguma. – Falei sem pensar.
- Não transei com as duas, a de hoje de manhã só fez oral e eu sei me prevenir, mãe. – Disse debochado.
- Se eu fosse tua mãe, te colocaria de castigo! – Falei com raiva.
- Ainda bem que não tenho uma então. – Pareceu brabo também, ele nunca havia falado da mãe, era muito fechado e pouco sabíamos de sua família.
- Você lembra dela? – Mudei o tom de voz.
- Eu não gosto de falar sobre.
- Mas... – Tentei formular uma frase, mas ele me interrompeu.
- Eu não gosto de falar sobre isso, Nathalia. – Ele repetiu a frase.
- Ok, desculpa. – Falei magoada. – Pode parar aqui, por favor? Quero ir ao mercado antes. – Minha intenção não era ir ao mercado, mas sim sair daquele carro e de perto dele.
- Fica na próxima quadra o mercado. – Ele respondeu sem me olhar.
- Mas eu quero descer dessa merda de carro, da para parar? – Falei com raiva. Ele me encarou um pouco intrigado, depois parou o carro sem responder nada. Sai e fui andando para casa enquanto ele seguiu o caminho oposto.
Ás vezes viver em um mundo rodeado de garotos era cansativo, eles simplesmente colecionavam marcas, meninas, beijos, relações, fulana eu já peguei, ciclana é difícil, você não pode olhar para o lado, completamente machistas. Era nítido que eu gostava de Pedro, para todos menos para ele, notava quando os meninos me olhavam, principalmente Leo, ele tentava me alegrar quando eu parecia triste e ultimamente isso acontecia com freqüência.
Pensei em me afastar, mas ao mesmo tempo amava a companhia daqueles filhos da mãe, acho que eu estava de TPM e mudando de pensamento a cada segundo.
No outro dia agimos como se nada tivesse acontecido, os ingressos foram vendidos, Pedro me buscou e levou para casa depois de um ensaio bem produtivo deles e seguimos organizando as coisas até o grande dia, sem conversas mais íntimas.
- Nathy, acorda poxa! – Leo pulava em cima de mim.
- Que horas são? – Perguntei um pouco zonza ainda.
- Não sei, eu não consigo dormir e to com dor de barriga. – Ele disse me fazendo gargalhar. Havia posado na casa dos meus tios como fazia todo final de semana, mas aquele dia não seria apenas um sábado, seria O sábado , músicas novas, o primeiro show oficial do Northern Lights e com direito a sold out!
- Leo, são 8 horas da manhã de um sábado! – Choraminguei cobrindo meu rosto.
- Temos muito trabalho pela frente.
- Hey Dude, tem remédio pra dor de barriga? – Nick também invadiu o quarto acompanhado de Caio que ria do amigo.
- Hey vocês, me deixem dormir! – Gritei embaixo do cobertor.
- Eu to com piriri. – Caio falou.
- Desse jeito vão fazer o show do banheiro. – Pedro se juntou ao trio.
- Eu quero privacidade! – Gritei sem sair de onde estava.
- Ela ta de TPM. – Leo falou baixo avisando os outros.
- Ixi, vamos vazar, o Noah mandou mensagem que já esta chegando aqui. – Nick disse.
- Como vocês entraram? – Leo perguntou esfregando os olhos.
- A tia acorda cedo todos os dias... – Vem, vamos pra garagem! – Nick puxou Leo.
- Pedro leva a Nathy, vamos lá pra minha casa, temos coisas pra organizar. – Caio gritou indo ao encontro dos meninos.
- Você quer ir agora? – Pedro sentou na cama tirando o cobertor que cobria meu rosto.
- Eu quero dormir.
- Hum, eu também! – Ele riu.
- Vai pra sua casa dormir então.
- Que humor lindo hein. – Ele debochou e mordeu minha bochecha.
- Sai Pedro! – Toquei o travesseiro nele.
- Meu Deus, Nathy, você é muito arrisca. – Ele devolveu o travesseiro e saiu do quarto.
Tentei dormir novamente, mas acabei perdendo o sono e ficando ansiosa então resolvi levantar e após fazer minha higiene sai do quarto e indo até a casa de Caio encontrar com aqueles doidos.
Decoramos a casa e organizamos algumas mesas espalhadas pelo jardim, alguns amigos também ajudariam com trabalho de distribuir bebidas e aos poucos tudo ficou como imaginávamos.

Nos despedimos e combinei com Pedro de ir com ele para festa, visto que ele morava a duas casas da minha e Caio morava na rua de baixo, próximo a casa deLeo, todos éramos praticamente vizinhos. Toquei a campainha da casa de Pedro, pois o mesmo estava 30 minutos atrasado e isso nunca acontecia. Uma senhora de meia idade atendeu.
- Oi, o Pedro está? – Perguntei com vontade de voltar para casa, estava ansiosa talvez isso me fez tomar atitude de ir até lá.
- Me atrasei Nathy, desculpa. – Ele disse aparecendo na porta e abraçando a empregada. – Sua gostosa! – Ele brincou com ela, que deu um tapa fraco nele.
- Se comporta menino, toma juízo! – Ela pediu um pouco preocupada.
- Pode deixar! Nathy, essa é a Lupi, Lupi essa é a Nathy. – Nos apresentou.
- Oi Nathy, foi bom te conhecer pessoalmente, você é linda. – Falou fofa.
- Obrigado, foi um prazer conhecer você também. – Disse tímida.
- Pedro traz ela pra comer aquele bolo de chocolate. –
- Claro, qualquer dia ela e os moleques vem aqui. – Ele falou me puxando com ele.
- A Lupi foi minha babá, é como se fosse uma mã, acho que a única pessoa que eu gosto dentro daquela casa. – Disse me surpreendendo.
- Ela parece ser legal e eu gosto de bolo de chocolate. – Respondi, tentando não entrar em assuntos dolorosos com ele.
- Você gosta de tudo que contém a palavra chocolate. – Ele riu indo comigo até a casa de Caio.

Chegamos e fui até meu posto, teria que receber todos os convidados e pegar os ingressos com eles, os meninos ajustaram algumas coisas no palco e logo foram ajudar na organização da festa, em pouco tempo a casa de Caio lotou nos deixando animados. Pedro pegou o microfone anunciando que em instantes o primeiro show do Northern Lights aconteceria. Minha barriga parecia dar voltas, estava ansiosa demais e queria ver logo meus meninos mostrando do que eram capazes.
Alguns minutos depois eles subiram no palco arrancando aplausos de todos que estavam lá e alguns gritinhos de meninas um pouco (muito) oferecidas.
Ás três primeiras músicas eram animadas e o público já estava acostumado com elas, pois sempre tocavam nos intervalos da escola, na segunda sequencia tocaram uma pouco conhecida e dois covers. Todos aplaudiam a cada sucesso, Pedro pegou o microfone e disse que tocaria uma nova música. Ele parecia procurar alguém na platéia e assim que nossos olhos se encontraram, os primeiros acordes foram ouvidos.

Can anybody hear me? | Alguém pode me ouvir?
Or am I talking to myself? | Ou estou falando comigo mesmo?
My mind is running empty | Minha mente se encontra vazia
In this search for someone else | Nessa busca por alguém
Who doesn't look right through me. | Que não olhe através de mim
It's all just static in my head | Tudo está estático na minha cabeça
Can anybody tell me why I'm lonely like a satellite? | Alguém pode me dizer por que eu estou sozinho como um satélite?


Olhei para trás procurando algo que pudesse importar a ele, que não eu, mas não tinha ninguém, Pedro sorriu e seguiu cantando aquela canção, que talvez para alguns ali não dizia nada, mas para nós dois fazia muito sentido.

'Cause tonight I'm feeling like an astronaut | Porque esta noite eu estou me sentindo como um astronauta
Sending SOS from this tiny box | Mandando S.O.S desta minúscula caixa
And I lost all signal when I lifted off | E eu perdi todo sinal quando decolei
Now I'm stuck out here and the world forgot | Agora estou preso aqui e o mundo me esqueceu
Can I please come down, cause I'm tired of drifting round and round | Posso, por favor, descer? Porque estou cansado de ser levado para lá e cá
Can I please come down? | Posso, por favor, descer?

[...]

Can I please come down? | Posso, por favor, descer?
'Cause I'm tired of drifting round and round. | Porque estou cansado de ser levado para lá e cá
Can I please come down? | Posso, por favor, descer?


Foi de arrepiar, com certeza o grande momento da festa, todos aplaudiram e vibraram com o primeiro show oficial do Northern Lights.

- Hey, gostou? – Pedro me abraçou assim que conseguiu se livrar de alguns bajuladores.
- É linda. – Sorri correspondendo seu abraço e em seguida o encarando. – Você não está sozinho. – Falei sentindo que estávamos cada segundo mais próximos, meus lábios encararam os seus se aproximando até sermos surpreendidos por um Leo eufórico nos abraçando e comemorando o fato de ficar com alguma garota.  

Perfectly PerfectWhere stories live. Discover now