Capítulo 54

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Eu, o meu primo e a minha princesa saímos de casa e fomos até ao parquinho onde eu e a Frederica fomos quando ela ainda estava grávida, foi horrível ver-me ali sem ela era como se uma parte de mim morresse mesmo ainda estando viva.

- Estás a pensar nela?
- Sim é difícil de um momento para o outro saber que tudo o que vivemos pode ser reduzido a apenas memórias.
- Não te esqueças de que às vezes as memórias são a nossa fonte de esperança.
- É. Vamos até ao hospital.
- Sim

Cheguei de novo ao hospital, acho que esta já é a minha segunda casa logo a seguir à dos meus pais. Nunca mais tive coragem de voltar a casa desde que a Frederica está no hospital já faz quase uma semana.
Enquanto percorro o corredor com a Grace tenho esperança de que quando entrar no quarto a Frederica esteja acordada.
- Carlos! Ouço alguém chamar por mim.
- Katrina. Não a via desde que...
- Desde que a Frederica foi baleada.
- Sim
- A culpada sou eu, se não tivesse insistido no vosso casamento ela agora estaria bem e em casa com a Grace.
- A culpa não foi de ninguém. Tudo isto foi uma fatalidade.
- Sabes a minha filha à alguns meses atrás tinha um futuro programado, como acabar a faculdade e tirar o curso em Medicina agora tudo o que ela tem é um buraco de bala que a prende a uma cama de hospital.
- Não é bem assim. Antigamente a Frederica era a menina certinha que não tinha uma vida para além dos estudos, uma vida sem amigos ou um amor que a fizesse sonhar. Agora tem uma filha um marido e amigos que a amam e adoram muito. Mas não vai ser por isso que o sonho dela de fazer Medicina acabou... sou interrompido pela médica da Frederica.
- Sra. Delgado e Carlos a Frederica acordou.
- Podemos vê-la? Pergunto
- Sim, mas só um de casa vez.
- Eu e a Grace vamos primeiro.
- Tudo bem. Acompanhe-me. Sigo a Dra quando chego ao quarto a Frederica está deitada na cama como se não tivesse acontecido nada.
- Grace, vem à mamã. Eu tinha tantas saudades dela.
- Eu sei. Ela é eu também tivemos muitas saudades tuas.
- Amor, eu tive medo de não sobreviver e não voltar a ver-vos.
- Tu agora estás aqui e isso é o mais importante. Sabes eu ainda não tive coragem de voltar a casa, aquele sítio sem ti não faz sentido.
- Agora já podemos voltar para lá, já ninguém mais nos vai fazer mal.
- Assim que puderes sair vamos para casa. A médica entra naquele momento.
- Depois de amanhã a Frederica já pode sair, só tem de na primeira semana ter cuidado.
- Sim ela vai ter cuidado.
- Dra...
- Sim?
- Sabe alguma coisa da paciente Abigail Martins Costa Pereira?
- Sei
- E como é que ela está?
- O quadro dela é... digamos que não está ainda bem definido.
- Isso quer dizer o quê?
- Que não sabemos se ela sobreviverá ou não. De todos os casos destes que já vi só 10% das adolescentes é que sobrevivem. Eu temo que a paciente Abigail esteja entre os restantes 90% e que a doença dela tenha sido diagnosticada tarde demais.
- Doença?
- Sim, a paciente sofre de Transtorno de Personalidade Borderline.
- E como é que só agora é que descobrem uma coisa dessas?
- Talvez ela nunca tenha demonstrado sinais que permitissem identificar a doença.
- Ok, obrigada.

Pensamento de Frederica:

Ao ouvir a médica dizer que ela podia estar entre os 90% de pessoas que não sobrevivem o meu mundo desabou, só de pensar que a culpa é toda minha senti-me ainda pior.
Saber que posso ser responsável pelo suicídio de uma pessoa é como se eu própria a tivesse morto.

Era Só Uma ApostaWhere stories live. Discover now