Capítulo 2

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  A loja ficou mais movimentada hoje, véspera de Ano Novo, e ontem do que na véspera do Natal. Acho que as pessoas gostam de começar o Ano Novo com roupas novas. Vai sabe.

  Ontem trabalhei até as dez. A loja fechou as nove, mas tivemos que continuar lá para terminar de atender aos clientes que ainda estavam dentro e para arrumar a bagunça de roupas.

  Você deve estar pensando se o gostoso do meu chefe permaneceu no caixa até esse horário. A resposta é não. Ele ficou lá por quase uma hora, mas saiu assim que Alice, a menina do caixa, voltou do almoço. Depois disso, não faço ideia para onde ele possa ter ido. Talvez deva ter ido viajar. Afinal, era o penúltimo dia do ano. As pessoas costumam fazer isso.

  Hoje é o último dia do ano e, graças a Deus, trabalhei só até cinco horas. Pelo menos estou tendo tempo de me arrumar para a virada, que iremos passar na cobertura do pai de um colega de faculdade da Nat. Agora me diga por que um carinha com pai com dinheiro nos convidou para passar a virada em sua cobertura. Não sei por que, mas posso dar o palpite que seja porque ele está de olho na Nat. Ela finge que não vê, mas tenho certeza que sabe que ele está afim dela. E é uma idiota se não der uma chance para ele. Não porque ele tem dinheiro, mas porque ele é gatinho e a trata super bem.

  — Você acha que esse vestido está muito curto? — Nat pergunta entrando no meu quarto e parando na minha frente, fazendo com que desvie a atenção do meu cabelo para ela.

  Olho o vestido branco de renda, de comprimento até quase no joelho, e volto a olhá-la.

  — Se você não quiser parecer uma freira, esse tamanho está ótimo. — digo. Quando digo que o tamanho está ótimo, quero dizer que está ótimo para ela, mas para mim está um pouco comprido. Não gosto de roupas curtíssimas, mas gosto de usar shorts, vestidos e saias que mostrem as minhas pernas. Malho o ano todo para mantê-las bonitas e não vou mostrar?

  Ela me empurra um pouco para o lado, fazendo com que o sacador quase caia da minha mão e se olha no espelho.

  — Você acha que eu deveria ir de longo? Talvez fique mais elegante porque...

  — Nem pensar! — interrompo-a. — Para com essa mania de só usar longo e calça jeans, pelo amor de Deus! Se você tivesse as pernas feias, eu até concordaria. Mas as suas pernas são lindas, Nat. Aproveita que você tá podendo — chego mais perto dela e a olho pelo espelho — e que tem um gatinho afim de você — completo sorrindo —, para mostrar essas pernas lindas que Deus te deu.

  — Não tem nenhum gatinho afim de mim. — diz, saindo da frente do espelho. — Mas tudo bem. Vou com esse aqui mesmo. Obrigada. — diz e sai do quarto.

  Balanço a cabeça e continuo secando meu cabelo. Por que ela insiste em dizer que ele não está afim dela? Aposto que no fundo no fundo ela também está afim dele. Só não quer admitir.

  Enquanto seco meu cabelo, penso no que aconteceu ontem entre mim e... meu chefe. Não é possível que ele estivesse flertando comigo, é? Acho que é fantasia da minha cabeça. Quando a gente está afim de alguém, ou se sente muito atraído por uma pessoa — que é como me sinto em relação a ele —, a gente acaba fantasiando um monte de coisas e vendo coisas que não existem. Nossa mente prega essas peças na gente. Mas... não posso ter viajado tanto assim, posso?

  Termino de secar meu cabelo e pinto a unha do indicador direito, que estrago sem querer batendo com a escova nela. Para não correr o risco de estragar de novo, fico assistindo televisão enquanto espero secar.

  Natália não voltou aqui novamente. Deve estar se preparando para encontrar o coleguinha gato, mas ela nunca vai admitir. Acho que de certo modo ela tem medo. Medo porque, convenhamos, quando a gente sai com alguém quando somos mais velhas — sei que vinte e dois anos não é ser “mais velha”, mas vocês vão entender —, as ficadas não são somente beijos e no máximo uma passadinha de mão. É sexo. Todo mundo quando vai ficar com alguém, principalmente alguém gato, tem a intenção, ainda que inconsciente, de fazer sexo. Só que quando se é virgem a coisa fica mais complicada. Sei disso porque até perder minha virgindade, tinha medo de sair com um cara e ele querer transar comigo. Tinha medo de pagar mico em dizer que não estava pronta, que era virgem, ou até mesmo não saber o que fazer na hora do sexo. Ainda bem que isso passou.

Meu chefe dominador (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora