Capítulo 5

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  Meu primeiro dia do ano se resumiu em uma dor de cabeça que me fez achar que meu cérebro iria explodir. Passei o dia, ou melhor, a tarde, bebendo água que nem uma maluca, comendo doce, e tudo o que li na internet que ajuda a melhorar a ressaca. Mas uma coisa me chamou atenção. Dentre um dos alimentos aconselháveis para ajudar na ressaca, estava escrito para comer banana. Irônico, não? Uma banana com certeza curaria minha ressaca e todos os problemas que vêm me atormentando esses dias. Uma banana em especial.

  Nat cismou em fazer um discurso sobre como é ficar bêbada, os micos que a gente paga, o perigo que corre e tudo mais. Achei legal, mas acho que ela se daria melhor trabalhando nos Alcoólicos Anônimos. Eu sei, mais do que ninguém, sobre os micos que a gente paga. Se pudesse voltar no tempo, não teria bebido tanto e cantado a tal musiquinha de lobo mau. E sequer conheço alguma música de lobo mau. Que música maldita foi essa que cantei, hein?

  — Não lembro a letra. — Nat responde quando pergunto como era a música que cantei. — Acho que você inventou na hora, sei lá. Nunca ouvi aquela música antes.

  Legal. Pra piorar, além de cantora bêbada, também fui uma compositora. Será que dentre tantos talentos eu não podia ter sido uma atriz pornô?

  Onde estou com a cabeça? Meus pais morreriam se eu virasse uma atriz pornô. Tudo culpa desse maldito Alexandre que está me deixando louca. Mas tudo bem. A partir de hoje... Não, a partir de amanhã, vou começar a ignorá-lo. Ignorá-lo no sentido de tratá-lo de um modo estritamente profissional. Vou esquecer que algum dia o beijei — e que ele beija muito bem —, que paguei boquete para ele e que ele me excitou até eu quase ter um orgasmo só por me tocar por alguns segundos. A partir de agora isso é passado. Um passado que não vou mais lembrar.

  — Bom dia! — escuto uma voz cumprimentar-me após fechar a conta de uma cliente e acompanhá-la até o caixa.

  Sinto um arrepio só de ouvi-lo. Mas é um arrepio porque me assustei, não por outro motivo.

  Inspiro profundamente e me viro. Merda. Por que ele tem que ser tão bonito?

  — Bom dia, senhor. — digo com muito esforço de um modo totalmente profissional, me esforçando para não dar um tapa no meio da cara dele, nem agarrá-lo no meio da loja. — Precisa de alguma coisa? — pergunto.

  Ele estreita o olhar por um segundo, estudando meu rosto. — Não, não preciso. — diz.

  — Tudo bem. Com licença. — falo e viro, indo em direção a um cliente que acabou de entrar na loja.

  — Bom dia, posso ajudá-lo? — digo, o que faz com que não precise voltar a falar com ele. Afinal, é meu trabalho atender aos clientes.

  Enquanto o homem, um cara de mais ou menos quarenta anos e com a pele cheia de marcas de espinhas da adolescência, via as roupas na seção masculina, dei alguns passos para trás para dar um pouco de privacidade para ele, porque é um saco vendedores grudes, dei uma rápida olhada para onde Alexandre — acho que estou me acostumando a chamá-lo assim — estava e vi que ele não está mais lá. Dou uma rápida olhada em volta e vejo que ele não está em lugar algum. Deve estar no escritório — uma pequena sala com uma mesa, um notebook, duas cadeiras e alguns documentos — onde ele fica quando não está aqui olhando os funcionários.

  Volto do almoço e nem sinal dele. Sei que isso é bom, pois não vou precisar encará-lo depois do episódio do dia anterior, mas, por outro lado, gostaria que ele estivesse aqui. A vista das vendedoras e dos clientes — que resolveram vir os mais feios da face da Terra hoje — não é tão agradável quanto aqueles cabelos pretos e olhos verdes.

  Elena, uma das vendedoras, desmaia no meio da loja do nada. Levo um susto e vou ajudar a socorrê-la. Um dos clientes que estava presente, junto com Carlos, o vendedor “bendito ao fruto” — o único do sexo masculino que trabalha aqui — a levou para a cozinha. Fui junto, pois homens são péssimos quando o assunto é desmaio. É arriscado jogarem um copo d’água no rosto da pobre da Elena.

Meu chefe dominador (Degustação)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora