Capítulo VIII - Tempestade

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As Origens de Sebastian

Capítulo VIII

Tempestade

A viagem de cavalo a Valais levava em torno de uma semana. Na neve, levavam até duas. Earthen fez o percurso em dois dias. Não somente sua forma anatômica, as quatro patas e o fôlego sobre-humano foram responsáveis por ditarem o ritmo frenético da sua velocidade, mas, no peito, por mais que não soubesse distinguir ao certo o que era aquela sensação, sentia-se movido pela ansiedade de rever Crispian.

Assim que adentrou o território do reino se deparou com um problema: não tinha como adentrar o castelo em sua forma lobo sem ser notado. A construção antiga era toda circundada por uma gigantesca muralha de pedra e havia apenas uma entrada, um portão de três metros de altura de ferro fundido e entrelaçado, que era vigiada dia e noite por homens da guarda real.

Acabou perdendo dois dias somente à espreita, pensando em uma forma de penetrar o castelo sem chamar atenção. Chegando a um único meio: usar sua forma humana. Por sorte, encontrou o corpo de um andarilho à margem da floresta. O homem certamente havia morrido de frio e fome. Sem remorsos, apossou-se dos trajes do morto e se aproximou dos portões com a desculpa de pedir por comida para os guardas.

Mas ingenuidade da sua parte imaginar que aqueles humanos seriam condescendentes como seu jovem amo. Ao vê-lo se aproximar mal trajado, os homens da guarda não pensaram duas vezes em enxotá-lo a pontapés, como se fosse um animal sem dono.

Frustrado, voltou para dentro da floresta para repensar seu plano.

A neve havia cessado, mas aquela calmaria repentina o estava incomodando. Lembrou-se de quando vivera com seu antigo dono e ele costumava explicar que a calmaria em meio a uma tempestade era mau presságio: "o mórbido silêncio precede uma tormenta, Earth" era o que ele dizia.

Mesmo com o agouro de uma grande tempestade, decidiu continuar as espreitas até encontrar uma abertura para invadir o reino.

Esperou, pacientemente, por mais três dias. O tempo ruim não dera trégua e não permitia que os moradores do reino saíssem da grande muralha, tampouco surgiam visitantes pedindo por abrigo. A única movimentação se dava quando ocorria a troca de turno entre os guardas. E foi em um desses dias que a ideia lampejou a mente de Earthen: poderia simplesmente deixar-se notar na sua legítima forma. A notícia de uma criatura do seu porte rondando o castelo chegaria rapidamente aos ouvidos dos habitantes, e quem sabe aos ouvidos de Crispian.

Caso seu jovem amo ouvisse a descrição de uma fera de olhos azuis rondando o castelo ele a assimilaria à figura dele e certamente viria à sua procura. Era o que precisava fazer. E o faria naquela noite, com os guardas do plantão noturno.

Assim que a madrugada caiu a criatura emergiu das sombras da floresta e esgueirou-se em direção da guarida do portão do castelo a passos mansos. Os três guardas do plantão conversavam animadamente enquanto procuravam aquecer suas mãos esfregando-as uma na outra, totalmente alheios a fera que se achegava.

— E ela gritou quando eu coloquei tudo: "Ai, ai! Assim não queridinho! Você vai me atravessar com sua lança" — remendou o guarda que estava de costas para floresta, imitando a voz feminina da personagem da aventura erótica que narrava e caiu na gargalhada em seguida.

Os outros dois homens acompanharam a gargalhada do colega, mas travaram, ao vislumbrarem aquela monstruosidade que se aproximava às costas dele. Imediatamente tiveram seus risos diluídos. O narrador que estava de frente para os colegas não demorou a entender que havia algo atrás dele pela expressão aturdida dos outros dois e voltou-se depressa para trás. Suas pernas paralisaram então, um uivo irrompeu a madrugada e os outros dois guardas fugiram em disparada largando suas lanças no caminho e se fechando dentro da guarida ao alcançá-la.

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⏰ Última atualização: Jan 04, 2017 ⏰

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