Amor nos tempos do Whatsapp...

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''You know you drive me up the wall
The way you make good on all the nasty tricks you pull
Seems like we're makin' up more than we're makin' love
And it always seems you got someone on your mind other than me
Girl, you got to change your crazy ways
You hear me?''

Como já diria a orquestra do Mr. Tyler e seus ferreiros voadores: '' That kinda lovin' turns a man to a slave, That kinda lovin' sends a man right to his grave...

Quantos de nós já não enlouquecemos esperando uma resposta às nossas cartas de amor. Noite adentro, clarão de veladora chama, que de lâmpada funérea se derrama... E quem manda cartas hoje? Transformamos nossos praguejares em ''Whatsapps... Lembro-me bem do meu tempo, quantas vezes, arrebatado, de quem cujas lembranças me acabrunha e anseia, quisera desnudar minh'alma e...faltavam-me... tinta e papel. Óh, sol dos insones, me deparo hoje com uma torrente louca de palavras, vazias. O mundo fez-se um vácuo. Sem verduras, sem homens, sem vida... Ctrl C e Ctrl V sabe-se lá que sopros exaustos isso significa. Tanto escrito e tão pouco dito. Adam Smith estava certo quando teorizou que ''o que abunda a graça perde''... Poesia na forma de teoria econômica. Em convulsões e pródiga ela, a abastança. Lá em minha tenra juventude, se fosse passar uns tempos longe precisaria pedir a um estafeta que providenciasse mais de 100 penas e 10 litros de tinta... E se faltasse tinta?? Ah, feliz de mim se repousasse a fronte sobre esse níveo seio que palpita... Cada mensagem era destilada como a gota da tinta que se esvaía...

Quando queria um souvenir, uma lembrança, um mimo, cachos dos cabelos de minhas amadas recebia junto aos papéis de carta, pelo serviço postal... hoje? Ah, o hoje... Selfies e selfies...Melindroso, solitário, escondido à luz de meu mundo recebia cartas com mais de 20 páginas, hoje aguardamos um simples alerta de um iphone... Dá-me, óh! Dá-me sequer um pensamento no horror da campa – é meu único tormento... e quando soluçando agarro o trepidante aparelho, um pequeno rosto estúpido que de tão subjetivo ninguém sabe o que quer dizer, chamado de ''emoticon''. Uma jovem não recebendo resposta alguma à expansão dos seus sentimentos sobre meu corpo e minh'alma, em papel de carta de margem dourada enlaçado de fita azul, disse que, se eu desejasse que ela não continuasse a me escrever, deveria eu apenas enviar meu criado à agência de correios de um centavo na rua Mount para avisar o funcionário que não desejava mais nenhuma correspondência dela, mas, que se eu me mantivesse em silêncio, então ela continuaria. Hoje... a bloquearia. Simples assim. Será que só os meios mudaram? Ou mudaram a forma como sentimos? Por que nas torres d'alva alastra o musgo? Não sei, mas uma coisa nunca mudou: se alguém padece de palpitações ofegantes ao receber uma mensagem tua, ela responde. Esperava dois meses por uma resposta, escrevia o absurdo de... 2 cartas por dia mas ela... não te deixaria sem resposta. Mesmo que seja um peremptório ''não''. Ou quem sabe o funcionário do correio avise que ela não quer mais receber minhas cartas... Ah, não te esqueças de mim! – Quando por perto passares do meu túmulo deserto... Deserto de saudades deste mundo. Vota-me uma lembrança! O inerte peito talvez soluce de prazer no leito, frio, gelado no sepulcro fundo... Ou estaria eu apenas ''bloqueado''?

L.B.

Byron StalkerWhere stories live. Discover now