Cada um tem a sua Augusta...

4 0 0
                                    


You only talk to me
When it cuts like a knife
You just talk to me baby
When you hurt deep inside

Now you look for consolation
The hardest part was changing
I was holding on to dreams
From yesterday
I used to be here waitin'

Já diziam vários poetas – entre eles Mr. Tempest, que tão impetuosamente apaixonado escreveu os versos acima – que os grandes amores são aqueles que nunca se tornaram feitos. Olharam-se e morreram dando um grito. De Tristão à Julieta, do Romeu à Isolda. Acredito que o irriquieto ''amor das nossas vidas'', aquele de palpitações ofegantes, metafísico e inexplicável, tenha sido alguma coisa criada por pessoas como eu para vender poemas... Mas por quê? Por que algumas pessoas passam como zorrilhos à beirada da estrada das nossas vidas? Marcam tal qual ferro em lombo de garanhões e mesmo assim as mantemos guardadas como filão de ouro na memória, revivendo, cheios de depressão e mistério, sua lembrança?

A minha era Augusta. Era um desses seres fugidios, feitos de arco-íris, que da mesma forma que chegam na sua vida, surgem em teu horizonte, desvanecem sem mais esperar. O que restam são as memórias, que são sempre sonhos. O véu da ilusão deve ser levantado de seus olhos. Mas essas fugidias, de tempos em tempos reaparecem, precisando de consolo ou feridas. Como somos dóceis, nos rendemos. E elas gostam que sejamos dóceis com elas. Por que tudo o que você possui são idealizações, a escassez das suas presenças foi que as tornaram tão valorizadas. Nunca parei de pensar na minha Augusta, sinto nossa união de uma forma que me deixa completamente incapaz do verdadeiro amor por qualquer outro ser humano! Aí me lembro de Lord Springsteen entoando para sua Rainha Mary do Arkansas: ''Eu não entendo como você consegue me prender tão apertado enquanto me ama de um jeito tão frouxo''... Sempre que gosto de algo isso me lembra você, merencória Augusta. Por que elas são apenas isso: lembranças. Zorrilhos toscos. Fugidias. Raras aparições e constantes sumiços, isso nos deixa com as eternas recordações dos caramanchões do Jardim de Armida. Apenas dormimos com elas, nunca alvorecemos. Poucas beldades resistem à impiedosa luz do dia. Na nossa memória são sempre lindas tal qual a Glória da Criação.

''...E assim prosseguiremos, barcos contra a corrente, incessantemente atraídos pelo passado''. Essa frase não é minha. Quem quiser saber que procure a referência, pois essas lembranças me cansaram. Meus pensamentos nunca conseguiram encontrar descanso em mim, mesmo. Basta de sonhos, de ilusões traiçoeiras e fatais. Continuarei a imaginar Augusta. E farei isso à minha maneira.

L.B.

Byron StalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora