Capítulo 8

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" O momento que mais assusta costuma ser aquele justamente antes de começar

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" O momento que mais assusta costuma ser aquele justamente antes de começar. "



Quando seus pais chegaram do funeral de Luke, Adam não perguntou nada, apenas os recebeu na porta de casa e entrou junto com eles para o jantar. Enrique e Anne não estranharam o silêncio de Adam, estavam acostumados com isso. Adam sempre fora muito calado. O pai foi assistir à televisão enquanto Adam foi observar sua mãe fazer o jantar.

O seu celular tocou.

– Alô ? – Adam atendeu ao primeiro toque.

– Pode parar com essa brincadeira idiota, Adam – a garota do outro lado da linha ordenou em tom alterado.

– Hã ? Do que você está falando, Martha ? - Adam reconheceu a voz no primeiro instante.

– De você ter mandado aquele bilhete idiota para mim, junto com aquele monte de cabelo nojento.

– Mas do que você está falando ? Que bilhete ?

– Olha aqui, garoto. Ninguém teria coragem de mandar um bilhete daquele tipo para mim, só você que não estava lembrado. Eu já saquei que você lembrou e agora está tentando me assustar e...

– Você sabe que Luke morreu ? – Adam a interrompeu.

Martha engasgou do outro lado da linha.

– Que tipo de brincadeira é essa, Ad ? Você está falando sério ?

– Sim, meus pais acabaram de voltar do funeral – ele baixou o tom de voz.

A garota ficou em silêncio por alguns instantes, então tornou a falar.

– Não foi você quem mandou o bilhete ?

– Não – Adam negou. Estava falando a verdade.

– Eu tenho que desligar. Tchau. – ela disse isso e desligou na mesma hora, para o caso de haver objeções.

Adam deu de ombros e guardou o celular no bolso de novo.

– Quem era, Adam ? – a mãe perguntou.

– Martha – ele respondeu e voltou a observar a mãe cozinhar o jantar.

Então se lembrou de uma coisa: o número desconhecido que havia ligado para o irmão no dia de sua morte.

– Mãe. Me chame quando o jantar estiver pronto, certo ?

– Claro, filho – ela sorriu e ele saiu da cozinha.

Subiu para o quarto e tirou o celular do bolso. Nem pensou duas vezes quando procurou o número na agenda e apertou a tecla SEND. O telefone chamou várias vezes, porém ninguém atendeu. Adam tentou novamente, então finalmente atenderam:

– Alô ? – a voz do outro lado era bem conhecida.

Adam largou o telefone e quase perdeu o ar. Era Selene.

~~~

– Ótimo! – ela reclamou, chutando a areia. – Me liga e fica calado... Ou calada, que raiva!

Ela saiu andando pelo meio-fio. A questão seria: quem havia ligado ? Não importava muito, poderia ter sido engano. Porém, se tivesse sido engano, por que não responder ? Ela respirou fundo. Estava ficando cada vez mais difícil se manter aqui, precisaria telefonar para à tia e pedir ajuda, as pessoas desconfiavam muito nesse lugar. Uma pena eles não terem desconfiado deles também, ou então, ela nem precisaria estar aqui agora.

O carro parou no meio-fio e ela entrou.

– Demorou, hein ? – reclamou ao motorista.

– A polícia me parou lá na frente. Culpa dos seus estragos. – ele devolveu.

– Culpa do que fizeram – ela cuspiu as palavras e colocou o cinto. – Quero chegar logo em casa, anda.

~~~

Os pais de Luke estavam inconsoláveis. Os policiais cercaram toda à área durante todo o dia para que ninguém se aproximasse da cena do crime, eles procuraram pistas e digitais por todo o local, mas não encontraram absolutamente nada. No outro dia, depois do funeral de Luke, um dos policiais quis falar com a família. Ele deu seus pêsames e seus sentimentos em relação à perda do filho único do casal Roxburgh, e depois perguntou sobre quem estava com ele na hora em que foi morto. A mãe disse que ninguém. Perguntou quem o viu primeiro e ela respondeu: a garota que estava com ele, ela entrou para buscar o celular e quando voltou ele estava morto.

O policial perguntou então qual era o nome da garota.

– Eu não sei. Ele a chamava de... Gatinha. Você sabe. Esses adolescentes de hoje em dia.

– E por que quando chegamos, ela não estava mais aqui ?

– Ah, parece que estavam ligando para ela e então teve que ir embora.

O policial coçou o queixo. Isso era de fato muito estranho. E um tanto fácil. Talvez eles estivessem de frente ao assassino – ou assassina – e precisassem de óculos para enxergá-lo melhor. Ele precisava descobrir quem era essa garota.

~~~

Destine estava mais do que preocupada. Haviam ligado perguntando por sua sobrinha. Peter, o motorista, ou dito como o fiel mordomo, estava quase se descontrolando, não conseguia mais aturar a garota, achava ela uma verdadeira pestinha. Destine teve que concordar que ela realmente havia mudado muito nos últimos anos. Era antes tão meiga e paciente, mas desde aquele acidente misterioso em um tal lago, ela havia mudado tanto. Continuava a mesma garota de sempre, porém era mais estressada, impaciente, teimosa e rancorosa. Quando ela pediu para voltar à cidade, Destine estranhou muito, a primeira coisa que ela havia dito depois de voltar do acidente foi que queria se ver o mais longe possível dali. Agora, quase cinco anos depois, ela queria voltar. Destine tinha certeza absoluta de que boa coisa não era.

Lembrou-se de como ela havia reagido à morte dos pais, quando tinha cinco anos. Havia ficado indiferente, não gostava deles, eram violentos e falavam vários palavrões, discutiam na frente da filha, quebravam pratos e copos nas paredes, se ameaçavam de morte. Quando ela chegou à casa da tia era uma garota calma e inteligente, porém Destine sabia que no fundo ela era um tanto perturbada. Era estranha, usava roupas estranhas e muitas vezes ela tinha comportamentos estranhos. Trocou de escola doze vezes em sete anos. Destine se lembrou de um dia, depois de sair da cidade, de tê-la visto estrangular um coelho no quintal. Quando perguntou o que estava fazendo, ela apenas respondeu que estava tentando ver como era a sensação de tirar a vida de alguém, se algum dia seria capaz de fazer isso. Pouco depois ela decidiu voltar para a cidade. Foi sozinha, viver na antiga mansão em que viviam, porém levou Peter junto porque disse que precisaria de seus serviços. E agora Peter vinha dizer que ela estava metida em confusão, não sabia direito o que era, mas tinha certeza de como era grave.

Destine tentou ligar para ela, porém ela disse que não voltaria tão cedo.

– Senhora Adams. – a empregada a chamou. – Telefone pra senhora.

– E quem é ?

– Angel.

Destine suspirou. Ela tinha tudo para ser um anjo, mas algo ainda a perturbava. E muito.

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A lenda de Selene Adams. (PARADA)Where stories live. Discover now